Na ‘ressaca’ do São João, mas com a mesma folia, cerca de 3.000 pessoas juntaram-se numa ‘funzone’ no Porto e uniram-se em prol da crença de uma nação na conquista do título europeu de futebol.
No final, o sentimento não podia ser melhor, com a vitória por 1-0 sobre a Croácia, praticamente a acabar o prolongamento, com uma cabeçada de Quaresma.
Portugal já está nos quartos de final do Europeu e com eles vai uma nação inteira que, a avaliar pela amostra nas ruas do Porto, vai com a equipa, de alma e coração, a apoiar em cada segundo.
Antes de começar o jogo entre Portugal e a Croácia, milhares de pessoas afinaram (ou não) as vozes e entoaram ‘A Portuguesa’ com a convicção necessária para incentivar os jogadores lusos, mesmo que à distância.
E, na verdade, a arena improvisada na Praça D. João I esteve ao rubro, como se fosse o palco do jogo, em Lens, França.
Até Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, foi espreitar o ambiente.
Já durante a tarde, à medida que se ia aproximando a hora do jogo, vários adeptos portugueses foram marcando lugar para assistir na primeira fila. Quanto mais colado ao ecrã gigante melhor.
No entanto, tiveram que partilhar lugar com algumas dezenas de adeptos polacos que assistiam ao jogo da sua seleção, com a Suíça.
Com o jogo de Portugal finalmente a decorrer, e ao longo dos primeiros minutos, a confiança era a palavra de ordem. Muita esperança em que, desta vez, tudo fosse diferente.
Maria Botelho, vestida a preceito, de vermelho e verde, munida de uma vuvuzela esganiçada de um Europeu passado e de más recordações, não se inibiu em mostrar a fé numa vitória tranquila, “já que nos últimos três jogos foi sofrer até mais não”.
“Vamos ganhar por 4-0″, atirou, quando ainda decorriam apenas cinco minutos de jogo, e continuou: “Já chega de sofrer. Agora vai ser sempre a abrir”.
Mas a verdade é que essa segurança foi-se desvanecendo à medida que os minutos passavam e que o marcador não se mexia.
Uma cabeçada de Pepe à baliza ainda fez a onda verde e vermelha agitar-se num solavanco, interrompido imediatamente quando se percebeu que a trajetória da bola errara o alvo.
Ao intervalo, foi tempo de restabelecer os níveis de álcool no sangue para alguns, para outros forrarem o estômago com alguma merenda ou apenas para abrandar a taquicardia.
Num segundo tempo ainda com menos oportunidades, e mais esmorecido, valeu a fé para manter a esperança em que algo de bom poderia acontecer.
João Brandão nem queria acreditar quando percebeu que o jogo ia seguir para prolongamento, atirando um desabafo desiludido e à procura de culpados.
“Eu não percebo porque temos que fazer tudo no limite. Temos os melhores jogadores do mundo, somos os melhores adeptos, temos um engenheiro como treinador que já desenhou um pentacampeonato para o FC Porto. Não percebo porque não encaixam as peças de forma a que tudo seja mais simples”, disse o adepto português à agência Lusa.
Nos minutos finais do tempo regulamentar, os ânimos estavam como o resultado: esmorecidos. Mas o tempo era de união e acreditar era a palavra de ordem.
“É agora. Agora é que vai ser”, gritava Pedro Pedroto em jeito de grito de guerra.
E foi mesmo.
Ricardo Quaresma, a quatro minutos do final do prolongamento, numa recarga de um remate de Cristiano Ronaldo, encostou para a baliza, deixando o rubro os milhares de adeptos concentrados na baixa do Porto.
“Vamos ser campeões europeus. E quero lá saber que soframos todos os jogos até lá. Os mais sofridos são os melhores. Estamos no caminho certo e agora não nos vamos desviar”, afirmou Luís Santos, que garantiu que nunca deixou de acreditar.
Palmas, lágrimas e cânticos de vitória acompanharam os últimos minutos da partida que foram tudo menos tranquilos.
Lisboetas festejaram no Terreiro do Paço
Em Lisboa, a vitória da seleção portuguesa foi festejada também por milhares de adeptos.
No Terreiro do Paço, onde foi colocado um ecrã gigante para assistir aos jogos do Euro2016, eram muitas as bandeiras e os cachecóis de Portugal.
Vestidos a rigor, os adeptos entoavam cânticos de apoio à seleção nacional de futebol.
A poucos minutos do início do jogo, Mariana, de 11 anos, mostrava-se confiante: “Vamos ganhar 2-0. Os golos vão ser do Pepe e do Cristiano Ronaldo”, disse.
Antes do pontapé de saída, o hino português foi cantado a plenos pulmões pelos adeptos portugueses, depois, no meio da multidão Helena e Joska, vestidas a rigor, cantarem o hino croata, lamentando que não estivessem mais adeptos do país no Terreiro do Paço.
As duas croatas trabalham em Portugal e assistiram ao jogo com amigos.
João, namorado de Joska, admite que o futebol já trouxe chatices ao casal: “Já tivemos discussões lá em casa”, confessa, entre risos.
“Os nossos amigos croatas prometeram gozar comigo no Facebook se ganhassem, mas eu é que vou gozar”, disse.
Com a ausência de golos na primeira parte do jogo, a preocupação começou a surgir entre os adeptos: “É por causa disto que tento não ver muito futebol. Fico sempre muito nervosa”, confessa Cláudia.
Ao lado, João considerou que a Croácia “controlou mais o jogo” na primeira parte e aludiu ao selecionador Fernando Santos: “De empate em empate pode ser que passemos”, disse.
Aos 63 minutos, muitos adeptos pedem o penálti sobre Nani, aos 70, outros adeptos estavam confiantes com o golo da seleção. Mas, terminados os 90 num empate a 0-0, o nervosismo era cada vez maior.
“Estou bem preocupado. Mas ainda acho que podemos ganhar, nem que seja nos penáltis, vamos ver”, disse António.
Não foi preciso ir a penáltis para vencer a Croácia. O golo de Ricardo Quaresma, aos 117 minutos, valeu a Portugal o apuramento para os quartos de final do Europeu de 2016.
O golo foi festejado com muitos gritos, alegria e cânticos pelos milhares de adeptos no Terreiro do Paço, que, até ao final do jogo continuaram em clima de festa.
Aos 120 minutos, e com a vitória de Portugal, Telmo manteve-se com o cachecol levantado enquanto cantava ‘Portugal Allez’.
“Foi muito sofrido, mas estive sempre confiante. Estou muito feliz. Vamos ganhar o Euro”, disse. Ao seu lado, a mãe e o irmão mais novo concordaram: “Vamos até ao fim!”
Bom Dia / Lusa
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