A revista inglesa FourFourTwo lançou o tema que muito deu que falar em Portugal: Quem são os 50 melhores treinadores da actualidade?
Deixando de parte a escolha de critérios largamente subjectivos, como estilo e agressividade, sobrou a boa notícia de Portugal ter 4 técnicos entre os 50 melhores e o melhor de todos, José Mourinho.
Mas não só, sobrou o incentivo para que fôssemos nós próprios à procura dos melhores!
Recorrendo ao nosso método de avaliação de treinadores (RTG), que tem em conta apenas o único critério realmente mensurável, os resultados, fomos atrás não dos melhores do mundo, mas dos melhores treinadores a passar pela Primeira Liga nos últimos dez anos.
Para saber mais sobre como é calculado o índice RTG, pode ler o artigo de lançamento do mesmo na GoalPoint, no final da época 2014/15.
Mas, para este efeito, adicionámos mais um critério: a obrigatoriedade de ter disputado um mínimo de 60 jogos oficiais ao serviço de clubes da Primeira Liga nos últimos dez anos, independentemente da competição. Isto de maneira a que não terminássemos com uma lista interminável de “homens do leme”.
Sobraram 34 treinadores, cuja lista completa pode consultar aqui.
E de entre estes, eis os 10 primeiros do Ranking Melhores Treinadores da Década GoalPoint:
10º: Domingos Paciência
As últimas imagens deixadas por Domingos Paciência estão longe de ser positivas. As passagens por Sporting e Vitória de Setúbal valeram-lhe um total de 1152 pontos negativos, mas isso não chega, ainda assim, para apagar tudo o que ficou para trás.
O auge surgiu ao serviço do SC Braga, quando em 2009/10 lutou até à última jornada pelo título com o Benfica, registando um total de 2414 pontos.
Uma pontuação que nessa época lhe daria o prémio de treinador do ano, com uma curta vantagem sobre Jorge Jesus, que tinha sido campeão pelo Benfica.
9º: Paulo Bento
Mais um treinador com passagem pelo Sporting, aliás o seu único clube em Portugal até agora. A opinião dos adeptos leoninos sobre Paulo Bento nunca foi consensual, mas o facto é que a avaliação global do seu trabalho tem de ser positiva.
Para além de ter lançado vários jovens, Paulo Bento apresentou no currículo quatro segundos lugares seguidos, uma posição que, depois da sua saída, os leões demorariam cinco anos a alcançar novamente.
A sua melhor época foi a segunda, 2006/07, quando, para além de ter ficado a apenas um ponto do FC Porto, conseguiu a vitória na final da Taça de Portugal contra o Belenenses de… Jorge Jesus.
Curioso ainda o facto de o pior resultado de Paulo Bento ter sido a famosa derrota caseira com o Paços de Ferreira, nessa época 06/07. Sim, a do golo de Ronny com a mão, que caso tivesse sido invalidado poderia ter mudado por completo a história desse campeonato.
8º: Leonardo Jardim
Entre todos os treinadores do top-10, Leonardo Jardim é o segundo com menos jogos disputados e aquele que regista a terceira melhor média de pontos RTG por jogo.
Para além de não ter nenhuma época com pontuação negativa, Leonardo Jardim conseguiu ainda a melhor pontuação registada por um treinador do Sporting desde Paulo Bento em 2006/07, talvez beneficiando do facto de não ter disputado competições europeias.
O que é certo é que o madeirense foi garantia de resultados positivos em todos os sítios por onde passou, e o seu nome estará com certeza (e com justiça) nas cogitações dos grandes clubes portugueses quando voltar a abrir uma vaga.
7º: Marco Silva
O sucessor de Leonardo Jardim no Sporting é talvez o mais consistente entre todos os treinadores do top-10.
Nas três épocas que tem de Primeira Liga, conseguiu sempre registos um pouco acima dos 1000 pontos.
O melhor deles todos, aquando do inédito quarto lugar na Liga por parte do Estoril, foi também aquele que lhe valeu a contratação pelo Sporting.
Recorde-se que, já depois de sair do Sporting, Marco Silva venceu ainda o prémio de melhor treinador português no estrangeiro, ao serviço dos gregos do Olympiakos, de onde saiu já no início da corrente pré-temporada.
É seguramente um dos treinadores mais apetecíveis do mercado, e os resultados mostram motivos para isso.
6º: Pedro Martins
É provável que seja uma surpresa para muitos, mas Pedro Martins vai entrar na sua sétima época na Primeira Liga com um total de 3606 pontos acumulados.
Na época passada conseguiu o terceiro lugar no nosso ranking, mas ainda assim não foi esse o seu melhor trabalho de sempre. Então como treinador do Marítimo em 2011/12, Pedro Martins ficou no quinto lugar no campeonato e conseguiu um belo total de 1810 pontos RTG.
Para além de resultados, Pedro Martins aposta ainda num estilo de futebol tipicamente positivo em todos os clubes por onde passa, e será agora a hora de testar as suas capacidades num clube de maior grau de exigência. O Vitória de Guimarães, clube onde já tinha sido feliz como jogador, será a próxima paragem, quem sabe a última antes de um grande.
5º: André Villas-Boas
Um total de 4161 pontos. Leu bem. Foi o que André Villas-Boas conseguiu em apenas uma época, quando levou o FC Porto à glória nacional e europeia.
É de muito longe a melhor campanha entre todas as analisadas neste período, à qual juntou um bom trabalho na Académica para num total de apenas 87 jogos conseguir um lugar entre os cinco primeiros.
AVB é por isso destacadamente o treinador com a melhor média de pontos por jogo entre todos os analisados e curiosamente também está… desempregado.
Visto que lá por fora as coisas não lhe têm corrido tão bem, estará na altura de um regresso a casa? Entre os portistas com certeza ninguém diria que não.
4º: Lito Vidigal
E esta, hein? Já tinha sido o melhor treinador do ano para nós na época passada, e, juntando outros bons trabalhos em Belém e na Amadora, Lito Vidigal é o quarto melhor treinador da década em Portugal.
Tal como Jorge Jesus, Lito parece levar algum tempo a ultrapassar certos preconceitos de estilo ou mesmo de discurso, mas o que é certo é que, por onde passa, o luso-angolano apresenta o mais importante: resultados.
Para além de ter levado o Arouca à Europa na época passada, Lito conseguiu ainda um dos resultados mais surpreendentes dos último anos no futebol português, ao ir ao Dragão vencer o FC Porto de José Peseiro por 2-1.
Quem nisso apostasse, veria o valor da aposta multiplicado mais ou menos 20 vezes, o que diz tudo sobre o tamanho do feito.
3º: Jesualdo Ferreira
É provável que já poucos se lembrem dele a esta hora. Afinal de contas já tem 70 anos e presumivelmente a sua carreira já terá terminado.
No entanto é preciso não esquecer tudo o que fez de positivo na última década, sobretudo ao serviço do FC Porto.
Na altura até parecia fácil, mas como se veio a provar depois, não era assim tanto. Jesualdo Ferreira fez quatro épocas seguidas no Dragão com pontuações acima dos 1000 pontos, e numa delas, em 2007/08, chegou perto dos 3000, quando foi campeão com 14 pontos de avanço e ainda chegou aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.
Também na curta passagem pelo Sporting, Jesualdo fez um trabalho positivo. Foi ele o que menos contribuiu para o sétimo lugar da equipa, recordando-se que, quando chegou a Alvalade, os leões estavam em 12º.
Ao todo, Jesualdo conseguiria um total de 431 pontos positivos nessa época.
O pior viria na época seguinte, ao serviço do SC Braga. Um “despite” de 1809 pontos negativos que lhe custou o segundo lugar neste ranking.
2º: Rui Vitória
Rui Vitória sagrou-se campeão nacional pelo Benfica depois de ter feito a melhor época da sua carreira.
Os recordes que bateu na Liga, a boa campanha europeia e ainda a conquista da Taça da Liga valeram-lhe um total de 2725 pontos na última época, registo superior a qualquer um dos que Jorge Jesus tinha feito de encarnado.
Mas Rui Vitória já vinha habituando toda a gente a trabalhos positivos nas suas passagens por Paços de Ferreira e Guimarães.
Em seis época de Primeira Liga, apenas uma vez (2013/14) registou pontuação negativa, e em 2012/13 já havia conseguido um lugar no top-3 da época. Motivos mais do que suficientes para mostrar, tal como viria a acontecer, que era infundado o cepticismo que assombrou o início da sua era de encarnado.
1º: Jorge Jesus
Talvez a menor surpresa de todas esteja no vencedor. Jorge Jesus é o melhor treinador em Portugal da última década e somou mais do dobro dos pontos do segundo classificado.
É óbvio que ter o dobro dos jogos ajuda, mas não esquecer que no RTG também se pontua negativamente.
Jorge Jesus nunca teve uma época negativa nos últimos 10 anos e foi o único a ter três épocas acima dos 2000 pontos, todas ao serviço do Benfica – e numa delas nem sequer foi campeão nacional.
Mas Jorge Jesus já vinha provando no Belenenses e no SC Braga ser um investimento seguro, e confirmou-o depois de trocar a Luz por Alvalade.
No entanto, a sua primeira época de leão ao peito esteve longe de ser das suas melhores campanhas, tendo mesmo registado o seu resultado mais surpreendente deste período, quando perdeu por 3-0 frente aos albaneses do Skenderbeu.
Goste-se ou não do estilo, Jorge Jesus é o treinador que marca a última década do futebol português. Pela personalidade, pelas polémicas, mas sobretudo pelas conquistas, às quais se junta mais esta.
Hernâni Ribeiro / GoalPoint
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