O presidente do Benfica tinha conhecimento dos procedimentos usados pelo diretor do departamento jurídico, detido esta terça-feira, para conseguir as informações sigilosas sobre os processos que envolvem o clube encarnado.
De acordo com o Correio da Manhã, Luís Filipe Vieira tinha conhecimento dos recursos utilizados pelo diretor do departamento jurídico da SAD do Benfica, Paulo Gonçalves, que, esta terça-feira, foi detido por suspeitas de corrupção ativa.
O jornal escreve que sempre que este responsável pedia à funcionária dos encarnados, Ana Zagalo, convites destinados a Júlio Manuel Loureiro, para que o funcionário judicial, já constituído arguido, pudesse assistir aos jogos no estádio da Luz, com amigos e familiares, enviava sempre os e-mails com conhecimento ao presidente do Benfica.
Caso disso, exemplifica o CM, são os e-mails já tornados públicos relativos ao jogo do Benfica com o rival FC Porto, a 1 de abril de 2017, em que o assessor jurídico pede três bilhetes para Loureiro no segundo piso e, uma semana depois, solicita quatro convites para que o funcionário do tribunal de Guimarães assista, com amigos, a outro jogo, no piso 1.
Segundo o jornal, o presidente dos encarnados estava a par destas ofertas, no entanto, como os documentos foram obtidos e divulgados de forma ilícita, não podem ser utilizados pela Unidade de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária.
Além dos convites para os jogos, o jornal escreve que as contrapartidas sob suspeita passavam também pela oferta de merchandising, como camisolas da equipa, e até a garantia de um cargo para um sobrinho no museu do clube.
As buscas levaram ainda à detenção de José Nogueira da Silva, um técnico de informática do Instituto de Gestão Financeira e Equipamento da Justiça (IGFEJ).
Segundo a Sábado, revista que avançou em primeira mão a Operação ‘e-toupeira’, o técnico informático e outros funcionários judiciais recolheriam informação sigilosa diretamente do sistema de dados da justiça, o Citius, que depois chegaria ao assessor, sobre processos que envolvem o Benfica e até os seus rivais diretos, FC Porto e Sporting.
Paulo Gonçalves e José Nogueira da Silva passaram a noite na prisão, por suspeitas de corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de Justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal e, esta quarta-feira à tarde, vão ser presentes a um juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa para um primeiro interrogatório.
Além de Júlio Manuel Loureiro, o empresário de futebol Óscar Manuel Cruz também foi constituído arguido, no entanto, o Observador afirma que a investigação da PJ não vai ficar por aqui e outros funcionários judiciais deverão ser constituídos arguidos em breve.
Assessor trabalhou nas SAD do FC Porto e Boavista
Nascido no Porto, foi no FC Porto que Paulo Gonçalves deu os primeiros passos no mundo do futebol, escreve o Correio da Manhã. Foi um dos responsáveis pela criação da SAD dos azuis e brancos, no final da década de 90, depois de terminar o curso de Direito.
A entrada no clube fez-se com a ajuda de Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente, de quem era muito amigo, mas com quem se incompatibilizou anos depois. O mesmo aconteceu com o ex-dirigente dos dragões, Adelino Caldeira, com quem cortou relações.
Em 2000, continua o CM, o assessor jurídico mudou-se para o Boavista FC, onde ajudou a criar a SAD dos axadrezados e onde ocupava o lugar de diretor-geral, quando o clube era presidido por João Loureiro e ganhou o campeonato.
Ainda no Boavista, Gonçalves foi apontado para a Liga de Clubes, para substituir Emanuel Medeiros, no cargo de secretário-geral, no entanto, é a contestação do FC Porto que o obriga a “sair de cena”.
Chegaria ao SL Benfica no ano de 2007, pela mão do empresário José Veiga, onde assume funções como assessor jurídico da SAD benfiquista e acaba por se tornar o braço-direito do presidente das águias.
Em comunicado, o Benfica reitera “total disponibilidade em colaborar com as autoridades no integral apuramento da verdade” e manifesta “confiança e convicção de que o Dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos”.
Na mesma nota, a SAD benfiquista anunciou ainda que vai pedir, com caráter de urgência, uma audiência à PGR, Joana Marques Vidal, pelas “reiteradas e constantes violações do segredo de Justiça” sobre os processos que visam o clube.
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