O presidente do Sporting anunciou que vai mover um processo contra o Presidente da Assembleia da República, comentadores e jornalistas por o terem “difamado e caluniado”. Entretanto, a Mesa da Assembleia-Geral do Sporting demitiu-se em bloco.
Esta quarta-feira, os elementos da Mesa da Assembleia Geral do Sporting convocaram, com “caráter de urgência”, o Conselho Diretivo e o Conselho Fiscal para uma reunião na segunda-feira que definirá o “futuro imediato do clube”.
Entretanto, já esta manhã, a Mesa da Assembleia-Geral demitiu-se em bloco, confirmou à Lusa o presidente Jaime Marta Soares. “Apelo à direção, ao senhor presidente Bruno de Carvalho, que siga este nosso exemplo, que apresente a sua demissão, e do Conselho Diretivo”, disse.
O presidente e vários membros do Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD) também já apresentaram a demissão. “Tendo em conta os superiores interesses do Sporting Clube de Portugal, que são e sempre foram a nossa maior preocupação, apelamos a que o presidente e os restantes membros do Conselho Diretivo apresentem a sua renúncia ao cargo de forma a permitir a marcação imediata de eleições”, indicam os cinco subscritores do comunicado.
Além do presidente do CFD, Nuno Silvério Marques, e do vice-presidente, Vicente Caldeira Pires, também os membros Vítor Bizarro do Vale, Miguel Almeida Fernandes e Nuno Miguel Santos apresentaram os pedidos de demissão.
Os subscritores indicam que têm “acompanhado com preocupação os factos ocorridos e que em nada dignificam a história, a imagem e os interesses do Sporting” e que o conselho fiscal não pretende “contribuir para o problema”.
Críticas a Marcelo e processo a Ferro Rodrigues
“Não posso aceitar que a segunda figura do Estado tenha sido mais taxativo e belicista, fazendo-me uma crítica violentíssima, não tendo a mínima noção do cargo que ocupa e da sua condição de sócio do Sporting Clube de Portugal. Será por isso um dos primeiros visados nas ações cíveis que vou mover, até pela posição relevante que ocupa na sociedade”, refere Bruno de Carvalho.
Negando qualquer responsabilidade no “ato hediondo” cometido em Alcochete, o presidente do Sporting critica também a posição de Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de “não ter sido taxativo” a confirmar a presença no estádio do Jamor, para a final da Taça de Portugal, uma manobra que disse lamentar e lhe permite apenas fazer “duas leituras”.
Em primeiro, que o chefe de Estado “lhe está a imputar responsabilidades”, (…) deixando instalar a dúvida“. Em segundo, que o Presidente está “disponível para aceitar que um grupo de marginais ponha em causa a realização de um evento relevante e que se ache no direito de acreditar que influencia as suas decisões”.
Contra todos os que o têm difamado – políticos, jornalistas e comentadores – Bruno de Carvalho garantiu que vai “mover ações cíveis”. As ações estender-se-ão a figuras públicas como Daniel Sampaio, José Maria Ricciardi ou Rogério Alves, os quais afirmaram que o dirigente “não tinha condições de continuar a exercer o cargo”, acrescentou.
O presidente do clube de Alvalade classificou como “terroristas” os atos cometidos na terça-feira e queixou-se do linchamento público de que tem sido alvo. “Não passa pela cabeça de ninguém que o Clube ou a SAD tivessem interesse neste tipo de atos de terrorismo contra os seus, ou outros”, disse, sublinhando que tem “lutado com todas as forças contra a violência”.
“Nunca tive qualquer tipo de ação que fosse geradora de violência como se comprova (…) pelos cinco anos na presidência do Sporting sem qualquer incidente. Lamento, por isso, que me estejam a ser imputadas responsabilidades, diretas ou indiretas, morais ou materiais desse ato absolutamente hediondo“.
Quanto ao cargo, o presidente do Sporting não deixou dúvidas: não se demite. “Neste momento, sinto-me com a mesma capacidade, força, prazer e honra em servir o clube que amo, não vendo qualquer motivo enquanto sportinguista para me afastar de um trabalho e de um rumo que está a ser seguido com sucesso nestes cinco anos”.
Bruno de Carvalho concluiu a nota com “três desejos”: “que quem cometeu este ato terrorista seja severamente punido, que quem cometeu atos criminosos contra mim seja punido e que o Sporting Clube de Portugal consiga conquistar a 17.ª Taça de Portugal”.
Ferro Rodrigues nada tem a dizer
Contactada pela Lusa, a assessoria de Ferro Rodrigues respondeu que o presidente da AR “não tem nada a dizer” sobre as declarações de hoje do presidente do Sporting.
Na quarta-feira, o presidente da Assembleia da República condenou a “situação gravíssima” de violência no treino do Sporting e apelou a “medidas sérias” da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e do Governo.
Ferro Rodrigues, em declarações no Parlamento, afirmou também que “não pode ficar impune quem deu passos” no sentido da existência de “ódio, fanatismo e corrupção” no desporto, acrescentando que o ocorrido “ofende o país”, referindo-se à “perversidade autoritária e totalitária” de dirigentes desportivos e de “alguma comunicação social fanática”.
O Presidente da AR sugeriu até que a final da Taça decorresse à porta fechada ou que fosse transferida de Lisboa para a Vila das Aves.
Segundo o Expresso, o Presidente da República e o Presidente da AR temem que a presença de Bruno de Carvalho na galeria onde também se iriam sentar as altas individualidades do Estado possa suscitar desacatos imprevisíveis.
“Imagine o que seria se adeptos começassem a mandar objetos para a bancada de honra em protesto contra o presidente do clube. As duas figuras cimeiras do Estado não podem sujeitar-se a isso”, explicou ao semanário fonte que está a acompanhar o processo.
Não há pedidos de rescisão nem suspensões
Esta quarta-feira, a Sporting SAD comunicou à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) que não há suspensão ou rescisão com qualquer elemento da equipa técnica, nem pedidos de rescisão de contratos de futebolistas.
“Não há qualquer suspensão ou rescisão do vínculo laboral de qualquer dos elementos da equipa técnica do plantel principal de futebol profissional. Não foi manifestada qualquer intenção de rescisão dos contratos de trabalho por parte de qualquer jogador da equipa principal de futebol profissional”, diz a nota da Sporting SAD, em dois pontos distintos.
Os leões responderam assim a uma solicitação da CMVM, que pediu esclarecimentos sobre as notícias dos últimos dias, no sentido de avaliar a necessidade de a SAD leonina dar explicações ao mercado.
Autoridade Nacional contra a Violência no Desporto
Na sequência destes incidentes, o primeiro-ministro anunciou a criação de uma autoridade nacional contra a violência no desporto. “É claro agora que é necessário reforçar as medidas e, designadamente, avançar para uma autoridade nacional contra a violência no desporto, que permita agir nestas situações, e não só naquelas em que a lei permite às autoridades administrativas agir”, avançou.
À saída da reunião do Partido Socialista Europeu, em Sófia (Bulgária), António Costa confirmou que vai propor esta autoridade nacional para fazer face ao crescendo de violência “absolutamente intolerável” no desporto português.
Esta quinta-feira, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto recordou que o Governo está a preparar uma alteração à lei da violência no desporto. João Paulo Rebelo reagia assim a uma notícia do Público, que sublinha que o Executivo está há mais de um ano a “prometer medidas que nunca saíram da gaveta“.
“O que aconteceu em abril do ano passado, na sequência de alguns episódios de violência que envolviam árbitros, foi que o Governo reuniu um conjunto de entidades que trabalham no futebol, desafiando-os para em conjunto pensarmos medidas para a erradicação da violência no desporto”, disse.
O governo explicou que no dia 21 de dezembro de 2017 teve a oportunidade de partilhar com o Conselho Nacional de Desporto a intenção que o Governo tinha, depois de feita uma avaliação à atual lei da violência, de fazer uma alteração a essa lei”.
“Em abril deste ano e não em abril do ano passado, anunciei na Assembleia da República que o Governo estava a preparar uma alteração à lei da violência. Esta proposta de lei passará anteriormente em Conselho de Ministros, mas como o senhor primeiro-ministro já disse, para a semana teremos muitas notícias sobre este assunto”, sintetizou.
O secretário de Estado voltou a repudiar os “terríveis incidentes” de terça-feira e explicou que, neste momento, o Governo está a direcionar toda a concentração para “criar todas as condições para que domingo possa decorrer a final da Taça de Portugal”.
O governante garantiu ainda que tenciona estar na final, assim como António Costa. “Naturalmente, estarei lá com muito gosto”, disse o primeiro-ministro, em declarações aos jornalistas à margem da Cimeira União Europeia-Balcãs.
“O meu desejo, que penso que é o desejo de todos, é que haja condições para que no Jamor se possa realizar com total normalidade a final da taça. Se forem necessárias outras medidas, há uma panóplia de várias outras medidas como a mudança de local, se isso for adequado às condições de segurança, a realização sem acesso do público, há várias possibilidades”, sustentou.
“Não sendo adepto de nenhum dos clubes, seria para mim uma enorme tristeza que a final da Taça não tivesse lugar no local próprio, no dia próprio, à hora própria, com as equipas que ganharam o direito de estar presentes na final da Taça”, afirmou.
Entretanto, de acordo com o Diário de Notícias, o Presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, já revelou que o clube pediu para não ser recebido nos Paços do Concelho caso conquiste a Taça de Portugal.
Agressões em Alcochete
Na terça-feira, cerca de 50 pessoas, de cara tapada, alegadamente adeptos leoninos, invadiram a Academia de Alcochete e, depois de terem percorrido os relvados, chegaram ao balneário da equipa principal, agredindo vários jogadores, entre os quais Bas Dost, Acuña, Rui Patrício, William Carvalho, Battaglia e Misic, o treinador Jorge Jesus e outros membros da equipa técnica.
Na sequência da invasão à Academia leonina, a GNR deteve 23 suspeitos, apreendeu cinco viaturas ligeiras, vários artigos relacionados com os crimes e recolheu depoimentos de 36 pessoas, entre jogadores, equipa técnica, funcionários e vigilantes ao serviço do clube.
Os detidos foram já identificados, ficaram a conhecer os factos que lhe são imputados e vão começar hoje a ser ouvidos por um juiz de instrução criminal no Tribunal do Barreiro.
O Ministério Público disse na quarta-feira que os detidos pelas agressões a futebolistas do Sporting são suspeitos de práticas que podem configurar crimes de sequestro, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada, e terrorismo, entre outros.
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