Rui Pinto é o português acusado de ser o principal responsável pela Football Leaks, uma das maiores fugas de informação desportiva de sempre. O The Guardian lança a pergunta: será o hacker português um criminoso ou um denunciante?
Rui Pinto pode enfrentar uma pena de prisão em Portugal, por “crimes” que ajudaram a desvendar a corrupção que assola o mundo do futebol. Mas enquanto no nosso país há a ideia generalizada de que o português é um hacker, a opinião pública e a imprensa internacionais dividem-se: Rui Pinto é um criminoso ou um whistleblower?
A pergunta é feita pelo conceituado jornal britânico The Guardian, mas outros órgãos de comunicação internacional parecem ter a mesma incerteza. A Sports Illustrated refere-se ao hacker como um “whistleblower” — aquele que leva ao conhecimento de uma autoridade, informações relevantes sobre um ato ilícito ou criminal.
A Deutsche Welle e a Reuters também já se referiram ao português, mais do que numa ocasião, como um whistleblower. O mundo do futebol para estar incondicionalmente do lado de Rui Pinto , com alguns adeptos a exibirem faixas de apoio. Nomeadamente a da claque do FC Augsburgo, na qual se podia ler: “Mantém-te forte, Rui Pinto!”
Thank you @FCAugsburg fans!#FCAFCB pic.twitter.com/Vkn9pf9RoW
— Rui Pinto (@RuiPinto_FL) February 17, 2019
A viver em Budapeste, na Hungria, Rui Pinto é acusado de ter sido a mente por trás do site Football Leaks, que o seu criador descreve como a denúncia de “práticas ilícitas que afetam o mundo do futebol”. Com 30 anos de idade, o português abandonou a sua licenciatura em História e aguarda agora um futuro julgamento em Portugal.
A evasão fiscal de Cristiano Ronaldo e de José Mourinho foram dois dos casos mais sonantes que o Football Leaks trouxe a público. O craque português já assumiu que cometeu fraude fiscal e aceitou dois anos de prisão suspensa.
Também em setembro de 2018, Kathryn Mayorga voltou atrás no acordo de confidencialidade que assinou com os advogados de Ronaldo e divulgou as acusações de violação ao internacional português. Os documentos vazados pelo Football Leaks, e que corroboravam a história de Kathryn, foram cruciais para que a britânica reabrisse o caso.
Quase três anos depois de Pinto ter sido publicamente referido pelo jornal espanhol Marca, o hacker foi detido por um mandado de prisão europeu, emitido pela polícia portuguesa há seis semanas, e agora responde a diversas acusações, entre as quais “extorsão, violação de sigilo e acesso ilegal a informações“.
As acusações de extorsão surgem pelo facto de Rui Pinto ter exigido 500 mil euros à Doyen para que não fosse divulgada informação privada relativa a jogadores representados pela agência. Mesmo assim, essa informação acabou por ser publicado no site “Mercado de Benfica”.
O Porto teve repercussões pela fuga de informação, após a FIFA ter multados os “dragões” em 44 mil euros por deixar que a Doyen tivesse influência em transferências de jogadores.
“Estou nervoso porque sou um alvo, principalmente para os adeptos do Benfica”, disse Rui Pinto, em entrevista ao jornal alemão Der Spiegel. O português diz ter sido vítima de ameaças de morte pelo Facebook e receia que se entrar numa prisão portuguesa, “sobretudo em Lisboa”, tem “medo de não sair de lá vivo”.
Segundo o The Guardian, o Football Leaks expôs mais de 70 milhões de documentos e 3.4 terabytes de informação, incluindo e-mails de algumas das mais importantes personalidades futebolística.
Rui Pinto garante que não é o único envolvido no projeto e que “com o tempo, mais e mais fontes novas foram adicionadas, que compartilharam o seu material”, fazendo crescer a base de dados.
“Na minha opinião, Rui Pinto não é um criminoso. É um informador e deve ser protegido a todo o custo”, diz o sociólogo da Universidade de Florença, especializado em negócios desportivos, Pippo Russo. Além disso, o sociólogo afirma que prender o português não será uma solução para travar futuras fugas de informação.
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