Depois de passar a pente fino as contas leoninas, a auditoria confirma suspeitas em relação à gestão do antigo presidente Bruno de Carvalho e traz até novos problemas à atual presidência.
Frederico Varandas anunciou que tinha encomendado uma auditoria às contas do clube, a 22 de fevereiro, para que fosse avaliada “a verdade sobre o Estado da Nação leonina”. Varandas adiantou as primeiras impressões do relatório, associando Bruno de Carvalho a vários escândalos financeiros durante o seu tempo como presidente do clube.
Os resultados de uma extensa auditoria de 254 páginas foram, esta semana, revelados pelo jornal Record. “O Conselho Diretivo do Sporting tomou a iniciativa de o entregar às entidades de investigação nacionais e ao Conselho Fiscal e Disciplinar do clube», pode ler-se no comunicado publicado no site do clube.
A auditoria da Bakertilly traz agora à tona diversos aspetos polémicos da presidência de Bruno de Carvalho — alguns dos quais podem afetar agora o clube.
Possíveis problemas com o fisco
Os leões correm o risco de ser acusados de fraude fiscal. A Bakertilly explica que a SAD leonina “celebrou contratos no âmbito dos quais pagou ‘Direitos de Imagem’ a uma terceira entidade, relacionados com os jogadores Schellotto, Bryan Ruiz, Jonathan Silva, Everton, Edinaldo, Montero e Heldon”.
A SAD leonina terá liquidado impostos pelos alegados direitos de imagem dos jogadores em questão mas, de acordo com a Bakertilly, não usufruiu da exploração desses mesmos direitos.
“Entendemos que existe o risco de a administração fiscal considerar que aqueles montantes em substância são parte da remuneração daqueles jogadores”, conclui a auditoria.
A administração fiscal pode considerar que o montante pago pela Sporting SAD e taxado enquanto direitos de imagem dizia respeito, na verdade, à remuneração dos jogadores, mas não foi tributado enquanto tal, explica o Observador. Em Portugal, os vencimentos dos jogadores de futebol profissional são tributados em quase 60% do seu valor bruto.
Pagamentos milionários sem contrapartidas
O caso da contratação de Marcos Acuña é também uma das situações merecedoras de suspeição, após a análise dos resultados da auditoria forense. “A Sporting SAD não exerceu os direitos adquiridos, quer os relacionados sobre a preferência de jogadores, não usufruindo dos benefícios que daqui eventualmente podiam ter sido originados“.
Além disso, também não foi marcado nenhum amigável com o Racing Avellaneda, que estaria incluído no acordo. Ficou sem se perceber “os motivos que levaram os leões a não beneficiarem das duas cláusulas. O acordo incluía um pagamento adicional de 3,3 milhões de euros que não teve contrapartidas, informa o Record.
O departamento de scouting foi também visado na investigação da Bakertilly. Durante a presidência de Bruno de Carvalho foram gastos 3,4 milhões de euros, apesar da ausência de contratos, contratos não assinados e ausência de relatórios.
Dentro desta temática, foram confirmadas as suspeitas dos pagamentos infundados à sociedade de advogados MGRA, a compra dos direitos de preferência de jogadores “fantasma” do Batuque FC e o pagamento de 60 mil euros a uma empresa chinesa de brindes.
Comissões injustificadas
A auditoria alertou para a contratação de Oriol Rosell, o espanhol que chegou aos leões em 2014, vindo dos Estados Unidos. Para garantir os seus serviços, o Sporting CP teve de pagar 1 milhão de euros. A auditoria estranha que tenha sido indicada a inexistência de um empresário a mediar o negócio.
Contudo, nas contas do emblema de Alvalade, surge posteriormente um contrato com um agente, para identificação de potenciais jogadores. De acordo com o jornal A BOLA, um dos jogadores identificado foi Oriol Rosell, tendo sido atribuído um valor de 125 mil euros como comissão.
O Observador destaca ainda a colaboração do ex-árbitro Pedro Henriques com o clube. A Bakertilly averiguou que o antigo juiz “terá prestado serviços de Formação e Assessoria na área de Arbitragem e outras relacionadas, no total de 50 mil euros“, apesar de na auditoria não ter obtido “informações relevantes que evidenciam que esta entidade tenha prestado aqueles serviços”.
A SAD sportinguista ficou surpreendida com a conclusão da empresa de consultoria, visto que na auditoria estão descritas formações a equipas de vários escalões sobre regras de arbitragem, comportamentos de risco e fair play — apesar da empresa ter alegado que não encontrou provas da prestação dos serviços de Pedro Henriques.
“Até à data deste relatório, não obtivemos informação suficiente que evidencie que aquelas ações de formação e serviços tenham sido efetivamente ministradas/prestados nos exercícios em apreço”, justificou a Bakertilly.
Transferência de Alan Ruiz… e do irmão
Quando em 2016, Alan Ruiz chegou ao Sporting vindo do San Lorenzo, veio com o rótulo de um jogador que poderia facilmente ingressar no onze titular leonino. O argentino acabou por nunca se conseguir afirmar e, entretanto, foi emprestado a outro clube.
Todavia não é a sua transferência que causa polémica, mas sim a do seu irmão. O Sporting também pagou cerca de 18 mil euros pelos serviços de Federico Ruiz — agora a alinhar no Sintrense, do Campeonato de Portugal.
A quantia paga pode ter sido reduzida, mas o jogador recebia anualmente um salário de 250 mil euros. A auditoria, citada pelo Record, considera que “não houve qualquer interesse” da SAD leonina no rendimento de Federico e que o jogador apenas se transferiu para o Sporting a pedido do irmão.
As 254 páginas de conclusões da auditoria abordam ainda outros assuntos da presidência de Bruno de Carvalho, como os 158 mil euros que as claques devem ao clube e os grandes valores pagos ao treinador português Jorge Jesus.
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