Hospitalizado há quatro meses em Grenoble, em França, depois de sofrer um acidente enquanto esquiava nos Alpes, o heptacampeão de Fórmula 1 Michael Schumacher ainda não despertou totalmente do coma induzido, mas já apresenta “sinais de consciência”, segundo confirmou sua agente à imprensa.
Contudo, para o neurocirurgião Peter Hutchinson, professor na Universidade de Cambridge e chefe médico do GP da Fórmula 1 na Grã-Bretanha, estes momentos de lucidez não significam necessariamente uma melhoria da saúde do piloto.
“A consciência é avaliada de duas formas: a primeira é se os olhos estão abertos e a segunda é quando o paciente responde a ordens simples”, explicou Hutchinson ao programa Health Check, da BBC.
Sono profundo
Em acidentes graves, como o sofrido por Schumacher, é comum os médicos colocarem o doente em coma induzido.
O objetivo é evitar que a inflamação originada no cérebro mate os neurónios.
Com isso, a pressão sobre o órgão diminui e o órgão passa a trabalhar menos, o suficiente para manter as funções vitais do indivíduo.
A técnica permite que os médicos apliquem outros tipos de tratamento que assegurem o fluxo de sangue e leve oxigénio ao cérebro.
“Podemos alterar os ajustes da máquina que mantém o indivíduo com vida para administrar a quantidade desejada de oxigénio e de outro gás muito importante, o dióxido de carbono, que influencia na pressão intracraniana”, explica Hutchinson.
“Também podemos fazer uma drenagem de fluidos por meio das cavidades do cérebro, arrefecê-lo ou intervir cirurgicamente para eliminar uma parte importante do crânio que permita aliviar a pressão sobre o cérebro”, acrescenta.
Todo o processo ocorre enquanto o paciente está em coma induzido. Depois dos níveis de pressão voltarem à normalidade, o paciente é despertado.
Trabalho da natureza
Segundo Hutchinson, o primeiro passo é eliminar os sedativos. O segundo – e o mais crucial, é deixar “a natureza fazer o seu trabalho”. Gradualmente, então, o paciente começa a recuperar a consciência.
O professor diz que alguns pacientes acordam relativamente rápido e obedecem a ordens, o que significa realizar movimentos controlados. “Mas, infelizmente, nem todos saem do coma induzido e permanecem conscientes”, ressalva Hutchinson.
“Mas acredito que o fundamental, em termos de recuperação, acontece quando o doente começa a obedecer ordens”, diz o especialista.
“Quando pedimos que realizem acções simples, como levantar o braço ou abrir e fechar os olhos. Isso é um sinal muito mais positivo do que simplesmente manter os olhos abertos.”
Hutchinson conta que alguns doentes abrem os olhos, mas não reagem a estímulos.
A família de Schumacher não divulga detalhes do estado de saúde do piloto. As poucas informações que chegam à imprensa são dadas pela agente do piloto, Sabine Kehm.
“O tempo passa e talvez isso (os sinais de consciência do piloto) sejam um sinal de melhoria, mas, para nós, apenas quando o paciente começa a obedecer ordens é que realmente podemos considerar uma evolução em seu estado de saúde”, esclarece Hutchinson.
ZAP / BBC
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