O internacional português considera que 2018, ano marcado pela acusação de violação de que foi alvo nos Estados Unidos, que acabou por cair em julho, foi o pior da sua vida.
“2018 foi possivelmente o ano mais difícil para mim. Não a nível profissional, mas pessoal. Quando as pessoas metem em causa a tua honra, dói. Possivelmente foi o mais difícil que tive. Quando jogam contra a tua honra é difícil. Mas, uma vez mais, foi provado que era inocente”, disse Cristiano Ronaldo numa entrevista concedida à TVI a partir da sua casa em Turim, Itália, e que foi transmitida esta terça-feira.
O jogador foi diretamente confrontado com o processo que correu nos EUA por alegada violação a Kathryn Mayorga, há dez anos, que fez correr muita tinta ao longo do ano passado, mas que terminou há cerca de um mês, quando a Justiça norte-americana desistiu das acusações, por não poderem ser provadas.
“Os meus amigos e família sabiam que eu era inocente, mas foi muito duro“, reconheceu o capitão da seleção das quinas, assegurando que, apesar de tudo, conseguiu “desligar” os problemas pessoais na hora de entrar nos relvados.
No início desta semana, o site TMZ avançou que a equipa de advogados do jogador da Juventus pagou 340 mil euros pelo silêncio da norte-americana. Apesar do pagamento, o documento agora revelado não constitui uma admissão de culpa, tendo sido apenas uma manobra para manter o caso longe de atenção mediática.
Em setembro do ano passado, Mayorga, nascida em 1984, apresentou uma queixa contra Ronaldo por um crime de violação que teria sido cometido em 2009. A defesa de CR7 sempre disse que o que se passou entre o futebolista e Mayorga foi consensual.
O caso foi reaberto depois de a mulher ter apresentado novas informações, colaborando com as autoridades na investigação. No estado norte-americano do Nevada, os crimes sexuais não prescrevem desde que tenham sido devidamente reportados às autoridades.
Saída do Sporting e do Real Madrid
Na mesma entrevista, a estrela da Juventus falou de muitos outros temas como, por exemplo, a difícil saída do Real Madrid. “Sair do Real foi difícil porque estive lá nove anos. 60% da minha carreira, talvez foi feita lá, e custa. Mas foi um desafio diferente e estou muito contente por estar aqui”.
“Para mim e para a Gio foi fácil, porque ela também gosta de desafios. Para o Cristianinho foi um bocadinho mais difícil, porque ele tinha os amigos. Mas já o estava a preparar há uns meses. E ele percebeu que podia haver a possibilidade de o pai sair do Real Madrid. Ele não acreditava, mas sabia que podia acontecer”, conta.
O jogador também falou sobre o passado, nomeadamente quando saiu do Sporting para Inglaterra. O jogador afirmou que o jogo de inauguração do Estádio de Alvalade, frente ao Manchester United, só fez acelerar o interesse que já existia por parte dos ingleses.
“As pessoas acham que eu saí do Sporting por causa desse jogo, mas não é bem assim. As coisas não estavam tratadas, mas estavam apalavradas, até com outros clubes. O Valência, chegámos a falar com o Ársene Wenger para ir para o Arsenal, o Barcelona, o Real Madrid, o Inter de Milão”, recorda.
“O Jorge Mendes é que pode dar essa resposta melhor do que eu. Depois do jogo com o Manchester United criou-se ainda mais interesse e eles é que quiseram aproximar as negociações para eu sair. Eu não contava sair naquele ano“.
Sobre as transferências milionárias no futebol ocorridas nos últimos anos, o internacional português mostra-se contra, colocando, no entanto, o caso de João Félix à parte (jogador do Benfica que foi transferido por 126 milhões de euros para o Atlético de Madrid).
“Hoje aposta-se muito no potencial e a indústria do futebol está diferente. Vou meter o caso do Félix à parte. Hoje em dia qualquer jogador vale 100 milhões, mesmo sem provas dadas. Há mais dinheiro no futebol… Um central e um guarda-redes valem 70, 80 milhões… Não concordo. Mas este é o mundo em que vivemos, o mercado é assim, há que respeitar”, admitiu à estação televisiva.
“Se eu tivesse 25 anos… Se um guarda-redes vale 75 milhões de euros, um jogador que faz o que eu faço nos últimos anos tem de valer 3/4 vezes mais. Fácil. Mas, não tenho essa ilusão”.
Eventual fim da carreira
Questionado sobre o fim da carreira, o jogador mostrou-se tranquilo e diz não pensar nisso. “Se calhar posso deixar a carreira no próximo ano… mas também posso jogar até aos 40 anos, ou 41. Não sei, o que eu digo sempre é para desfrutar do momento. O presente é excelente e tenho de continuar a desfrutar”, disse o jogador de 34 anos.
Sobre a carreira, repleta de recordes e conquistas, CR7 não precisa de ser modesto. “Sei que sou dos melhores no meu trabalho e que estou na história do futebol. Não é por acaso que só eu e o Messi temos cinco Bolas de Ouro. Não é por acaso. E ainda me sinto motivado para procurar ganhar prémios coletivos e individuais. Se não, já tinha acabado. Era fácil, porque não me falta nada. Mas o que me move é a paixão pelo futebol e a minha vontade de ganhar”.
Relativamente às derrotas, Ronaldo considera que algumas delas foram justas. “Muitas das vezes que não ganhei, senti que era justo. Mas não quero entrar muito por esse caminho, porque também questionam se terá sido justo sempre que ganhei. E na minha opinião, quem ganha é sempre justo”, defendeu.
“Há uns anos, quando perdia nem jantava. Enfiava-me no quarto e já só saía no dia seguinte. Mas o futebol também te dá aprendizagem e começas a perceber que o futebol não é o mais importante na vida. Às vezes não dá para ganhar“.
“Nunca pensei ganhar uma Bola de Ouro, quanto mais duas, três, quatro ou cinco. Mas se me perguntas se gostava de ganhar, não vou ser hipócrita e dizer que não. Claro que gostava. Todos os anos quero ganhar a Liga dos Campeões, o campeonato e a Bola de Ouro. E trabalho para isso. A questão é essa: eu trabalho sempre com o intuito de ganhar coisas. Troféus coletivos para chegar depois aos individuais. Essa é a minha maneira de ver o futebol e a minha motivação para me levantar de manhã”.
“Sou uma pessoa obcecada pelo sucesso, no bom sentido da palavra. Porque levanto-me todos os dias com o intuito de ser um grande profissional e conquistar coisas, porque é o meu trabalho. Obviamente que se não ganhar, o mundo não acaba. Mas acho que estou sempre bem colocado para ganhar”.
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