Rui Pinto foi acusado de 147 crimes, destacando-se as 307 vezes que entrou no sistema informático da Procuradoria-Geral da República. O hacker espiou o seu próprio processo e sabia que estava a ser investigado pela PJ.
O Ministério Público (MP) acusou, esta quinta-feira, o hacker Rui Pinto de 147 crimes: 63 de violação de correspondência, 75 de acesso ilegítimo, um de extorsão na forma tentada, um de sabotagem informática e sete de violação de correspondência na forma agravada. A “falta de arrependimento” terá agravado a sua situação, realçou uma fonte judicial ao DN.
“Faria tudo outra vez”, disse Rui Pinto, na altura em que soube que ia ser extraditado da Hungria para Portugal. Apesar de ter prometido colaborar com as autoridades, um dos membros da equipa do DCIAP envolvida no processo garante o contrário: “Sempre que foi abordado para que pusesse em prática essa disponibilidade, fecha-se em copas e nada diz”.
A acusação do MP menciona ainda que Rui Pinto entrou por 307 vezes no sistema informático da Procuradoria-Geral da República — e a Polícia Judiciária nem sabe como. Rui Pinto, alegadamente, terá conseguido acesso ao nome de utilizador e palavra-passe de um magistrado do Ministério Público.
Com acesso ao sistema informático, o Tribuna Expresso escreve que Rui Pinto teve acesso a pastas do Conselho Superior do Ministério Público, ao e-mail do então diretor do DCIAP Amadeu Guerra, a documentos e despachos em segredo de justiça e a um documento com vários dados pessoais de todos os 1611 magistrados do MP.
Operação Marqês, EDP, Jorge Silva Carvalho, Henrique Granadeiro, Parvalorem, Vistos Gold e Sporting foram os processos mais mediáticos a que o português teve acesso.
No entanto, o interesse do hacker estaria fundamentalmente em processos ligados ao futebol, nomeadamente, ao SL Benfica. Não só acedia ilegalmente aos servidores informáticos, como também copiava e guardava os ficheiros para si. Os documentos foram encontrados em formato digital no material apreendido na sua residência em Budapeste.
Rui Pinto é ainda acusado de ter entrado nos servidores informáticos da PLMJ, a sociedade de advogados onde estava João Medeiros, que defendia os ‘encarnados’ no caso e-Toupeira. O pirata informático terá ainda, de acordo com a acusação do MP, divulgado online conversas entre o advogado, Rui Patrício e Paulo Saragoça da Matta.
“Acredito que o MP fez tudo para recolher informação de quem entrou na minha caixa de email e espero que caso se prove que foi Rui Pinto que seja exemplarmente punido“, disse João Medeiros ao Correio da Manhã, em reação à acusação do Ministério Público.
Entre os nomes a quem Rui Pinto conseguiu acesso através da PLMJ está o do vice-presidente do PSD e antigo ministro de Durão Barroso, Nuno Morais Sarmento. Luís Pais Antunes, ex-secretário de Estado do Trabalho também estaria entre os visados.
O advogado de Rui Pinto na altura, Aníbal Pinto, também foi incluído na acusação por crime de extorsão na forma tentada. Ao CM, garantiu que nunca mais falou nem teve qualquer contacto com o hacker desde que foi seu cliente. “Nunca cometi qualquer crime e espero que nunca venha a cometer. Estou tranquilo”, confessou o advogado.
Tendo em conta a quantidade e gravidade das acusações, o Ministério Público defende que Rui Pinto seja mantido na cadeia — onde está há sensivelmente seis meses.
O atual advogado de Rui Pinto, William Bourdon, disse em entrevista à revista alemã Der Spiegel que as autoridades portuguesas nunca lhe deram a oportunidade de colaborar. Além disso, reiterou que se o caso fosse noutro país, o hacker não estaria preso. “Na Alemanha, França, Inglaterra ou Itália, o Rui nunca seria detido com base nestas acusações”, atirou.
Em 2015, antes de todo o processo “estourar”, Rui Pinto negociava com Nélio Lucas, o então diretor-geral da Doyen Sports Investments, uma “doação” entre 500 mil e um milhão de euros. Contudo, o gestor não cedeu e denunciou o hacker à Polícia Judiciária. De acordo com o JN, Rui Pinto já sabia da denúncia, apesar de Lucas sempre a tentar negar.
A PJ tinha enviado um pedido de identificação para o servidor de internet russo Yandex LLC. Provavelmente, através do acesso que tinha ao sistema informático da PGR, o hacker já sabia de tudo. Nas buscas em Budapeste, as autoridades encontraram mesmo uma cópia digital do processo em causa.
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