O ponto de viragem da Tour de France deste verão ocorreu no alto de uma montanha nos Alpes franceses. Foi o resultado de anos de treinamento e, de acordo com um estudo divulgado na segunda-feira, o reflexo dos efeitos da seleção natural no exercício.
Quando o ciclista colombiano Egan Bernal começou a subida ao Col de L’lseran, o ponto mais alto da volta, estava atrás do ciclista Julian Alaphilippe por 90 segundos. Na descida, Egan Bernal terminou 45 segundos à frente, vencendo a corrida, que tinha a rota mais alta da história da Tour, noticiou o Inverse.
Egan Bernal – o primeiro nativo andino a ganhar a volta – é da cidade colombiana de Zipaquirá, que fica a, aproximadamente, 2600 metros acima do nível do mar.
Segundo mostra a ciência, viver e treinar nessa altitude tem algumas vantagens: geralmente, quem aí habita tem uma maior capacidade aeróbica, pulmões maiores e mais hemoglobina, responsável pelo transporta de oxigénio no sistema circulatório. Esses traços ajudam-nos igualmente a atuar em ambientes agressivos e exigentes.
Um novo estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, revelou outro possível fator que contribui para a capacidade aeróbica das pessoas que vivem grande altitude: a adaptação genética.
O biólogo Tom Brutsaert, primeiro autor do estudo, explicou ao Inverse que andinos como Egan Bernal não são “geneticamente predispostos a vencer o Tour de France“. Mas acredita que a genética e o histórico do ciclista provavelmente lhe deram uma vantagem.
O trabalho do também professor na Universidade de Syracuse, em Nova Iorque, nos Estados Unidos (EUA), apoia a teoria de que comunidades de alta altitude nos Andes podem ser geneticamente adaptadas às demandas de oxigénio.
Tom Brutsaert estuda pessoas que vivem em altitudes de montanha desde meados dos anos 90, procurando verificar o que leva esses nativos a serem tão fortes fisicamente.
Neste estudo recente, avaliou os genes de 429 nativos quíchuas, que vivem cerca de 4200 metros de altitude, nas terras altas do Peru, e 94 pessoas que vivem em Syracuse.
A equipa descobriu que cinco marcadores genéticos próximos ao gene EGLN1 (que codifica uma proteína que regula a forma como as células respondem à falta de oxigénio) existem com maior frequência na população quíchua, em comparação com os habitantes das terras baixas. A equipa determinou que essas variantes genéticas podem ajudar o indivíduo a prosperar quando o oxigénio é escasso.
Embora o estudo não identifique um gene para melhorar o desempenho físico, mostra evidências convincentes à hipótese de que a seleção natural em torno do gene EGLN1 pode ajudar os andinos a sobreviver e prosperar em locais com pouco oxigénio.
Segundo o Inverse, este estudo é um dos dois únicos associados à população andina. Tom Brutsaert acredita que pesquisas futuras em populações que vivem em grandes altitudes possam levar a novas possibilidades de tratamento para problemas de saúde relacionados com o oxigénio.
A vida em altitude
De acordo com o Inverse, viver em locais com grande altitude coloca o corpo sob stresse. Este precisa de um influxo constante e contínuo de oxigénio para funcionar e, nesses locais, o oxigénio é limitado: a quatro mil metros, uma lufada de ar contém apenas 50-60% das moléculas de oxigénio que seriam contidas num local ao nível do mar.
Para quem não está adaptado a esses níveis de oxigénio, as complicações podem ir desde a falta de ar até a danos cerebrais – se a falta de oxigénio for duradoura. No entanto, milhões de pessoas vivem em altitudes extremas e a maioria não tem essas complicações.
De forma a melhorar o desempenho físico e obter vantagem competitiva, há algumas décadas que atletas decidem viver em grandes altitudes, treinando depois em locais ao nível do mar, ou vice-versa.
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