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O Flamengo, orientado pelo português Jorge Jesus, conquistou hoje pela segunda vez a Taça Libertadores em futebol, 38 anos depois, ao vencer o detentor do título River Plate por 2-1, na final da 60.ª edição da prova.
Num final de jogo memorável, o Flamengo, no espaço de três minutos, voou do inferno e atingiu o Olimpo. Os “rubro-negros” derrotaram este sábado o River Plate por 2-1 e conquistaram, 38 anos depois, a segunda Taça Libertadores do seu historial.
Contratado em Junho para ocupar a vaga de Abel Braga, Jorge Jesus chegou, viu e venceu, tornando-se no segundo treinador estrangeiro a conquistar o troféu depois de Mirko Jokic – passou pelo Sporting -, que em 1991 comandou os chilenos do Colo Colo à glória. À terceira foi de vez para JJ numa final continental.
O River Plate, que procurava o segundo título consecutivo, dominou grande parte da partida, mas acabou por sucumbir ao furacão Gabigol. Santos Borré apontou o golo dos “millonarios” e o antigo avançado do Benfica bisou e vestiu a pele de herói da nação do “Mengão”.
O jogo explicado em números
- Marcelo Gallardo e Jorge Jesus não fizeram “bluff” e apostaram nos nomes que tinham anunciado na antevisão do duelo. Os detentores do troféu entraram em cena imprimindo uma pressão alta e agressiva, que tentava neutralizar a primeira fase de construção do “Mengão”. Bruno Henrique, aos nove minutos, fez o primeiro remate no encontro.
- No entanto, seis minutos volvidos, os “millonarios” foram letais e eficazes, inaugurando o marcador no primeiro tiro que fizeram no duelo. Ignacio Fernández cruzou rasteiro, Gerson e Willian Arão não tiraram a bola da zona de perigo e Rafael Santos Borré, no local certo, atirou de pé direito com acerto e apontou o seu terceiro golo – em 11 duelos – na competição. Mais experientes, os argentinos asfixiavam a troca de bola dos brasileiros e iam controlando o encontro, não obstante terem menos posse de bola – 55% contra 45% – e menos eficácia nos passes (70% versus 56%).
- E o rolo compressor da Gávea? Nem sinal de Gabigol, Bruno Henrique e companhia. Aos 36 minutos, dos quatro remates efectuados até então no duelo pelos dois emblemas, o único enquadrado resultou em golo e outro mais perigoso também pertenceu ao River. Por escassos centímetros, Palacios não ampliou a vantagem.
- Com um fôlego inesgotável e com a lição na ponta da língua e das chuteiras, o River Plate dominou a seu bel-prazer os primeiros 45 minutos da partida e chegou a intervalo em vantagem, que até poderia ter outros números.
- Não obstante ter tido apenas 41% de posse, os campeões em título foram cirúrgicos e mortíferos e aproveitaram ao máximo os lances criados. Além do golo, ficaram a centímetros do segundo golo, no total de três tiros realizados.
- Por sua vez, o “Mengão” pareceu assustado, não conseguiu contrariar a teia montada por Gallardo, que “tirou” a bola a William Arão e Gerson, e apenas conseguiu gizar um remate, desenquadrado com a baliza de Armani.
- Um dado que marcou este período, a maior agressividade argentina – 18 faltas do River Plate contra apenas seis da formação carioca. Ao intervalo, o melhor jogador em campo, com um GoalPoint Rating de 6.3, era Exequiel Palacios, com um remate perigoso, dois desarmes, nove recuperações de bola e quatro faltas sofridas.
No recomeço, Gabigol, logo a abrir, assinou o primeiro remate enquadrado à baliza contrária da equipa do Rio de Janeiro. Aos 57 minutos, o lance de maior perigo dos cariocas: Bruno Henrique centrou, Gabigol rematou, De la Cruz deu o “corpo às balas” e, na sequência, Everton Ribeiro obrigou Armani a mostrar serviço.
- Gerson, que se lesionou num lance dividido, teve de sair do terreno de jogo e obrigou Jorge Jesus a prescindir de um dos poucos jogadores esclarecidos do “time” do Rio. Para a vaga do camisola 15 entrou o experiente e ex-FC Porto, Diego.
- Numa fase em que os adeptos do River já faziam a festa, surgiu o empate. Bruno Henriques cozinhou a jogada, De Arrascaeta assistiu e Gabigol fez jus à alcunha e carimbou o oitavo tiro certeiro, em 12 duelos nesta edição da Libertadores. Mas o melhor haveria ainda de chegar…
- Num final impróprio para cardíacos, o Flamengo deu a volta ao marcador. Gabigol ganhou nas alturas a Pinola e, de pé esquerdo, desferiu uma bomba que só parou no fundo das redes contrárias. Até ao apito final, Palacios e Gabigol foram expulsos e, segundos depois, o Mengão abriu a garrafa de champanhe e voltou a conquistar a Libertadores, a segunda da história do emblema carioca.
O melhor em campo GoalPoint
Apenas 66 minutos foram suficientes para Fernandez ser considerado o melhor jogador em campo, com um GoalPoint Rating de 6.7.
Enquanto esteve em acção, o médio foi incansável, conseguiu neutralizar as principais unidades do meio-campo do Flamengo e destacou-se com um remate que assustou Diego Alves, assinando, ainda, a assistência que resultou no golo de Santos Borré. Somou ainda 34 acções com a bola, uma eficácia de passe de 71%, oito recuperações de bola e quatro desarmes.
Jogadores em foco
- Gabriel Barbosa 4.8 – Como se explica que o jogador que numa final marca dois golos decisivos e os números desmentem esses momentos? Não obstante ter escrito, a letras de ouro o seu nome na história do “Fla”, o avançado acabou por ser penalizado pelos números modestos que apresentava antes destes dois momentos mágicos e fundamentalmente pela expulsão, a segunda consecutiva. O camisola “9” apontou dois golos, numa noite que jamais irá esquecer. A ausência de brilho estatístico não retira o “título” de grande figura da final.
- Gerson 6.7 – No período em que só dava River Plate, o médio não atirou a toalha ao chão e remou como conseguiu face à constante pressão contrária. Até abandonar o terreno de jogo devido a lesão, Gerson teve uma eficácia de passe de 63% – 15 passes certos e seis falhados -, oito recuperações de bola, dois desarmes e três faltas sofridas.
- Diego Ribas 6.3 – Esteve 27 minutos em jogo e o experiente jogador foi fundamental na “remontada” dos cariocas. Do registo do antigo jogador do FC Porto, destaque para os seguintes números: um remate, apenas dois passes falhados em 12 tentativas, três dribles eficazes em quatro tentativas e uma falta sofrida.
- De la Cruz 6.3 – Uma fonte inesgotável de energia e de recursos. Um dos melhores elementos do River Plate, com dois remates, dois passes para finalização, 53 acções com a bola, nove recuperações de posse e quatro desarmes.
- Rodrigo Caio 6.2 – Sempre seguro, foi soberano no duelo das alturas – só perdeu um dos nove duelos aéreos defensivos em que foi chamado a intervir -, e teve uma eficácia de passe de 79%.
- Bruno Henrique 6.0 – Nunca desistiu, apesar de nem tudo sair como queria. Iniciou o lance que resultou no golo do empate, deu trabalho aos defensores adversários, tentou sempre encontrar uma linha de passe, gizou um remate e participou em 11 duelos aéreos.
Jesus no Olimpo
Este é o primeiro grande título internacional do técnico português Jorge Jesus, que já reservou o seu lugar no Olimpo do futebol — reserva que pode carimbar com a provável conquista do campeonato brasileiro, no qual o clube do Rio de Janeiro, a quatro jornadas do fim, tem uma vantagem de 10 pontos sobre o segundo classificado.
O técnico luso conduziu o Benfica a duas finais consecutivas da Liga Europa, mas perdeu a primeira (2012/13) para o Chelsea (2-1), culpa de um golo nos descontos, e a segunda para o Sevilha (2013/14), no desempate por penáltis (4-2).
No seu currículo internacional, consta apenas uma Taça Intertoto, que arrebatou pelo Sporting de Braga porque os minhotos foram a equipa das 11 vencedoras da terceira ronda da prova que chegou mais longe (oitavos de final) na Taça UEFA.
Em relação ao panorama nacional, Jorge Jesus, que cumpriu em solo luso as primeiras 29 temporadas da carreira, encheu o saco de troféus com a sua passagem pelo Benfica, que representou de 2009/10 a 2014/15, arrebatado 10 títulos, mais do que qualquer outro técnico na história do clube da Luz.
Depois de passagens pelo Amora, que subiu à Liga de Honra (atual II Liga) em 1991/92, Felgueiras, com promoção ao primeiro escalão em 1994/95, União da Madeira, Estrela da Amadora, Vitória de Setúbal, Vitória de Guimarães, Moreirense, União de Leiria, Belenenses e Sporting de Braga, Jesus aterrou na Luz com 55 anos e prometeu de imediato colocar a equipa jogar o dobro.
O Benfica foi logo campeão em 2009/10 e, após seis anos, o saldo foi de 10 títulos: três campeonatos, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e cinco edições da Taça da Liga, faltando-lhe a consagração europeia, que esteve muito perto de conseguir.
Com enorme polémica, mudou-se então para o outro lado da Segunda Circular, para o Sporting, que esteve muito perto de levar ao título em 2015/16, ao somar 86 pontos, insuficientes, porém, face aos 88 do Benfica, do seu sucessor Rui Vitória.
Jorge Jesus falhou nessa época e, nas duas seguintes, não esteve sequer perto de repetir a façanha, mas, nos três anos, acrescentou ao palmarés mais dois títulos, a Supertaça (2016), logo na estreia, face ao Benfica, e mais uma Taça da Liga (2017/18).
Depois do ‘ciclone’ que significou a invasão da Academia do Sporting, partiu, contrariado, mesmo com muitos euros envolvidos, para o estrangeiro e só não terá conquistado, pelo Al-Hilal, o título de campeão da Arábia Saudita porque saiu antes do final da época. Acabou por ganhar o Al-Nassr, de Rui Vitória.
Chegado ao Brasil a meio da época, em pouco mais de quatro meses, Jesus já conquistou o coração dos adeptos do ‘Fla’, mais do que pelos triunfos, pela forma como a equipa os consegue, pelo atraente futebol que pratica e que tem sido traduzido em resultados.
E esta noite, Jorge Jesus deu um dos dois passos a que estava de alcançar a eternidade.
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