O futebolista disse, esta terça-feira, ter ficado “mais nervoso” e com “mais ansiedade” depois do ataque à academia do Sporting, no qual viu agressões a Rui Patrício, William Carvalho, Acuña e Bataglia.
Bruno Fernandes foi ouvido, na tarde desta terça-feira, na 11.ª sessão do julgamento da invasão à academia leonina, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, com 44 arguidos.
O médio assumiu que depois da invasão ficou “mais nervoso” e com “mais ansiedade” antes dos jogos, além do receio que afirmou sentir que esta situação volte a acontecer se a equipa “tiver um resultado menos positivo”.
“Contratei segurança pessoal, na sequência destes factos”, revelou o capitão do Sporting, que a manteve entre “quatro a seis dias”, até ir para a concentração na seleção nacional, que ia disputar o Mundial.
A nível pessoal, referiu, este episódio teve influência na vida familiar, revelando que, após a invasão, teve “medo” do que pudesse acontecer à sua família, razão pela qual telefonou à mulher para que pegasse na filha de ambos e fossem para o Porto.
O jogador contou ao coletivo de juízes que estava no balneário quando se apercebeu da presença dos invasores por causa do barulho, acrescentando que estavam 24 a 25 jogadores e toda a equipa técnica, exceto o treinador Jorge Jesus, que estava no relvado.
Bruno Fernandes relatou ter visto a entrar no balneário cerca de 20 a 25 pessoas, que foram entrando gradualmente, tendo visto os primeiros seis a sete elementos.
“Os primeiros dois foram diretos ao Rui Patrício e ao William Carvalho e depois outros foram na direção do Acuña e do Bataglia. O Ricardo Gonçalves [diretor de segurança e operações da academia] tentou travá-los, enquanto gritavam o nome do Rui Patrício, do William Carvalho, do Acuña e do Bataglia”, descreveu.
Bruno Fernandes explicou que os colegas foram agredidos com empurrões, socos, murros, chapadas e tentativas de pontapés.
De acordo com o futebolista, os invasores gritaram frases como “‘vamos matar-vos, tirem essa camisola, vocês não merecem essa camisola’”, acompanhadas de injúrias aos atletas.
O médio explicou que tanto ele como o defesa-central Sebastian Coates tentaram demover os elementos, os quais afastaram os dois capitães do Sporting, dizendo: “‘Isto não é nada convosco, afastem-se’. Não tive reação. O momento foi demasiado rápido para reagir, ou sequer pensar. Não era comigo, ninguém me tocou“, referiu.
O internacional português lembra-se de ter visto alguns dos elementos a bloquear a porta do balneário. “Fiquei com a convicção de que ficaram ali para impedirem a saída. Ficaram lá alguns parados. Ninguém saiu, ninguém conseguiu sair. No fim, há um grito de um deles: ‘vamos embora, vamos embora’ e começaram a sair. Nesse momento ainda dizem a frase: ‘não ganhem no domingo que vocês vão ver o que vos acontece, e lançaram uma tocha”, relatou o jogador.
No final da sessão, Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, requereu a acareação de Bruno Fernandes com Vasco Fernandes, secretário técnico do clube, por apresentarem versões diferentes sobre as circunstâncias e o momento em que os atletas foram informados da hora do treino do dia do ataque. Contudo, Sílvia Reis, juíza presidente, indeferiu o requerimento.
O jogador dos leões confirmou ao tribunal que o treino estava marcado para a manhã do dia do ataque e que foi Bruno de Carvalho que mandou mudar para a tarde.
Ristovski: “Depois disto, fiquei sempre com medo”
Ontem, foi também ouvido o lateral-direito Stefan Ristovski, que assume que ainda hoje tem medo de eventuais represálias. “Depois deste incidente fiquei sempre com medo. Ainda hoje, cada vez que o Sporting perde um jogo, fico com medo que isto se volte a repetir”, cita o Expresso.
De acordo com o mesmo jornal, o jogador macedónio explicou que estava na sala onde se guardam as chuteiras quando viu “quatro a cinco pessoas do lado de fora, com a cara tapada, a baterem na porta e a fazerem tudo para entrar”.
“Quando entraram, tentaram perceber quem é que se encontrava onde, quem estava em pé. Eu estava de pé, ao mau lado estava o Acuña, sentado, começaram a gritar uns palavrões. Nesse momento, percebemos a intenção. O Acuña foi agredido com chapadas na cara e na cabeça. Ele tentou evitar, mas não conseguiu, pois estavam quatro a cinco pessoas à volta dele”.
Além de Acuña, o defesa disse ter assistido às agressões a Rodrigo Battaglia. “Vi a agressão ao Battaglia, que se encontrava no fundo do balneário, onde estavam quatro a cinco pessoas, mas não vi bem, pois estava a tentar proteger-me para também não ser agredido. Não presenciei, não vi as agressões aos outros jogadores porque naquele momento havia um grande caos no balneário”.
Depois de os agressores saírem do balneário, Ristovski diz que ninguém saiu a seguir com medo. “Ninguém tentou sair. Só meia hora depois é que saímos do balneário, porque tínhamos medo que ainda estivessem lá estas pessoas, e ficámos à espera que nos viessem dizer alguma coisa”.
Tal como Bruno Fernandes, o jogador temeu pela segurança da família e contou ao tribunal que mandou a mulher e a filha para a Macedónia.
O julgamento prossegue, esta quinta-feira, com as inquirições do médico Virgílio Abreu, do jogador Daniel Podence, via Skype, e Ricardo Vaz.
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