O futebolista Sebastien Coates assumiu esta quinta-feira em tribunal que ficou “em choque” aquando do ataque à Academia do Sporting e que pensou em sair do clube após a invasão, receando a repetição do episódio de violência.
“Após o ataque, liguei à minha companheira e contei o que tinha passado. Disse-lhe que estava bem, mas que outros colegas tinham sido agredidos. Pedi-lhe que fosse para o Uruguai por causa dos nossos filhos. Depois liguei para o meu agente, pois estava com muito medo e com muitos pensamentos em sair do clube“, revelou o internacional uruguaio.
O defesa central recordou o momento complicado pelo qual passou esta época, com vários autogolos, e que, nessa fase, chegou a pensar que “isto voltasse a acontecer”, lembrando que os invasores tinham quatro jogadores como alvos bem definidos: Acuña, Battaglia, Rui Patrício e William Carvalho.
Na reunião de 7 de abril de 2018, após a derrota com o Atlético de Madrid, e o ‘post’ de Bruno de Carvalho a criticar os jogadores, Coates afirmou que o então presidente “não estava no seu estado normal”, em alusão à discussão de Bruno de Carvalho com Rui Patrício e William Carvalho.
Coates foi ouvido, por videoconferência a partir do Tribunal do Montijo, na 15.ª sessão do julgamento da invasão à academia ‘leonina’, em Alcochete, em 15 de maio de 2018, com 44 arguidos, incluindo o antigo presidente do clube Bruno de Carvalho, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa.
O futebolista estava no ginásio com outros colegas quando viu a chegar vários “encapuzados”, enquanto Ricardo Gonçalves, então diretor de segurança da Academia, tentava “controlá-los”, para que não entrassem nos campos de treino.
“Assim que saímos do ginásio, o André Pinto foi a correr para avisar os meus colegas e eu fui logo a seguir. Quando cheguei, estava o Vasco Fernandes [secretário técnico do Sporting] a tentar impedir a entrada deles no balneário“, explicou.
Segundo Coates, “seriam entre 30 a 40 pessoas” que entraram no balneário, onde estava quase todos os elementos do plantel e os fisioterapeutas.
“Assim que entraram, começaram a procurar por Acuña, Battagglia, Rui Patrício e William. Empurraram e atiraram um garrafão de água contra o Battaglia. Para nós foi um choque, não estávamos à espera que fizessem isto”, declarou a testemunha.
Coates ainda tentou proteger William Carvalho, mas foi afastado pelos invasores, que também lançaram tochas.
“Pus-me à frente daqueles que se dirigiram ao William Carvalho, mas disseram-me para sair da frente, pois não era nada comigo. Diziam que o William não era digno de vestir a camisola do Sporting e agrediram-no com um cinto e com murros. Foi agredido nas costas, estavam quatro a cinco indivíduos com ele”, descreveu.
Após as agressões, William Carvalho saiu do balneário e foi seguido por alguns dos invasores. “Não sei se saiu a fugir ou se foi atrás de alguém. Todos os elementos que inicialmente o estavam a atacar foram atrás do William”, indicou um dos atuais capitães do Sporting.
Coates viu ainda agressões ao fisioterapeuta Ludovico Marques, atingido na cara com uma bolsa, e ao então preparador físico Mário Monteiro, que levou com uma tocha na barriga.
“Estavam todos a insultar. Também houve ameaças aos jogadores, em geral. Um deles disse-me que eu não merecia vestir a camisola do Sporting”, contou o central, acrescentando que “havia gente [invasores] à porta [do balneário] e que ninguém tentou sair”, por medo e por terem ficado “todos em choque”.
Antes da saída dos invasores, ouviu frases como ‘vamos embora’ e ‘se não ganharem no domingo, vão ver o que vos acontece’, em alusão à final da Taça de Portugal que se disputou no domingo seguinte diante o Desportivo das Aves, que o Sporting viria a perder por 1-0.
Antes de Coates, o tribunal concluiu a inquirição a Battaglia, iniciada na terça-feira, tendo o médio argentino recordado a rescisão com o Sporting, após o ataque.
“Rescindi porque, depois do que aconteceu, de me terem batido e tratado como trataram, achei que era o melhor para mim e para a minha família“, explicou.
O médio regressou depois ao Sporting, com a garantida de que o clube lhe garantiria “segurança máxima”, sendo esse um dos aspetos “mais importantes” para o seu regresso, confirmando agora mais segurança na academia.
Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, ainda tentou questionar o jogador sobre o salário que auferia antes e depois do ataque, mas a presidente do coletivo de juízes, Sílvia Pires, não o deixou fazer a pergunta, por não ser objeto do processo.
A sessão de hoje, a 15ª, foi a última deste ano. O julgamento, que começou em 18 de novembro, será retomado em 6 de janeiro de 2020.
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