Foi por “necessidade de gestão” e não por falta de dinheiro que o Sporting não pagou a primeira prestação da transferência do treinador Rúben Amorim, segundo o vice-presidente dos leões, Francisco Salgado Zenha. A SAD leonina “sente-se protegida” pela lei e abriu uma “guerra” com o Sporting de Braga que promete tomar medidas.
“A lei prevê que se existirem alterações de circunstâncias críticas, extraordinárias, os próprios contratos possam sofrer alterações”, alega Salgado Zenha em entrevista à Sporting TV, concluindo que “o Sporting sente-se protegido nesta situação” em que o mundo atravessa a pandemia de Covid-19.
O vice-presidente do Sporting diz que é “uma necessidade de gestão, face a uma circunstância completamente imprevisível”, justificando, assim, a decisão de não pagar ao Sporting de Braga a primeira parcela do valor acordado para a contratação do técnico Rúben Amorim, notando que “até haver pandemia o Sporting não incumpriu pagamentos”.
“O acordo entre o Sporting e o Sporting de Braga é de 10 milhões de euros [ME], mais IVA, que é um custo dedutível. Qualquer atraso de pagamento que haja, tenha penalidades ou juros, estamos protegidos pela lei, porque as circunstâncias mudaram dramaticamente”, reforça Salgado Zenha.
A contratação de Rúben Amorim, em 5 de Março passado, previa o pagamento ao Sporting de Braga de 10 ME (além do IVA da transacção, no valor de 2,3 ME), em duas prestações, uma até 6 de Março e outra até 5 de Setembro, esta acrescida de 155 mil euros de juros.
Apesar de reconhecer a necessidade de reformular o plano financeiro, para “rever determinados pagamentos e investimentos”, o administrador da SAD do Sporting lembra que o clube já cumpriu as regras do ‘fair-play’ financeiro e que, por isso, “não há o risco” de ser impedido de participar nas competições europeias da próxima época.
Sp. Braga vai “tomar as diligências necessárias”
O presidente da mesa da Assembleia Geral da SAD do Sporting de Braga, António Marques, antecipa que o clube pode agir judicialmente contra os leões.
“O presidente António Salvador irá tomar as diligências necessárias e isso deixa-me tranquilo. É um assunto que me preocupa, mas tenho a maior confiança no nosso presidente”, salienta António Marques em entrevista à Rádio Renascença.
“As dificuldades de tesouraria do Sporting são públicas, tal como acontece, nos dias de hoje, com tantos outros clubes e empresas”, diz ainda o dirigente dos bracarenses.
86% dos funcionários do Sporting em lay-off
Para enfrentar as dificuldades financeiras deste período, o Sporting já avançou com cortes salariais no plantel de futebol e com um processo de ‘lay-off’ a 86% dos funcionários. Sobre esta medida, Salgado Zenha diz que foi “das mais difíceis” de tomar pela administração presidida por Frederico Varandas e que visa permitir ao clube de Alvalade “passar por esta crise com o menor impacto possível”.
“São medidas necessárias à sobrevivência do clube, um esforço para manter os postos de trabalho. Fizemos para evitar ao máximo despedimentos e para fazer face a um contexto imprevisível, que não está no nosso controlo”, sustenta o dirigente, prevendo que o ‘lay-off’ tenha “um período mínimo de dois meses”.
A administração da SAD aprovou também um corte de metade do vencimento de todos os seus membros nos meses de Abril, Maio e Junho e negociou com o plantel profissional de futebol uma redução salarial de 40% durante o mesmo período, elogiando a “solidariedade” dos jogadores nesse processo.
“Não nos restou alternativa”, destaca Salgado Zenha, salientando, contudo, que estas medidas não significam que “não temos dinheiro para chegar ao fim do mês”. “Temos uma almofada de tesouraria”, adverte o vice-presidente do Sporting, apontando para a importância decisiva de “preparar o clube para o que vem aí”.
O dirigente leonino antevê “um impacto nas receitas” muito negativo, até porque o sector do desporto “não terá uma normalização tão cedo, pelo menos [no espaço de] um ano”. Apesar disso, Salgado Zenha admite a possibilidade de a equipa de futebol regressar aos treinos em Maio e de as competições de 2019/2020 se virem a concluir.
“A redução na massa salarial foi significativa e prepara-nos muito melhor, mas não sei se será suficiente. Temos ferramentas para fazer outra redução no próximo ano. Garantidamente, o orçamento [da próxima época] será menor do que o ano passado”, revela ainda o vice-presidente do Sporting.
Salgado Zenha destaca ainda que o Sporting “não vai abdicar” dos 16,5 ME a que o futebolista Rafael Leão foi condenado a indemnizar o clube pelo Tribunal Arbitral do Desporto, no âmbito do processo de rescisão de contrato do actual jogador do AC Milan.
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