A compra do Newcastle pelo herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman, está a ser muito contestada em várias frentes. A aquisição está a servir de meio para a guerra por procuração entre Arábia Saudita e Catar.
Uma guerra por procuração, também conhecido por proxy war, é um conflito armado no qual dois países recorrem a terceiros — os proxies — como intermediários ou substitutos, de forma a não lutarem diretamente entre si. Agora, a disputa entre Arábia Saudita e Catar alarga-se até à Premier League, o principal campeonato do futebol inglês.
Tudo começou quando o herdeiro saudita, Mohammed Bin Salman, decidiu iniciar um processo de aquisição do Newcastle e tornar-se o novo dono do clube. O magnata fez-lo através do Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e prevê um investimento de 300 milhões de euros.
Uma estação televisiva do Catar acusou a Arábia Saudita de piratear os seus sinais de transmissão e está a pedir à Liga que bloqueie a venda da equipa do Newcastle United a Bin Salman, escreve o jornal norte-americano The New York Times. O beIN Media Group fez o apelo através de uma carta enviada a todas as equipas e ao presidente executivo da Premier League, Richard Masters.
A beIN é responsável pela transmissão televisiva dos jogos da campeonato inglês no Médio Oriente e acusa a Arábia Saudita de apoiar uma operação de pirataria que terá desviado o seu sinal de transmissão.
A disputa entre Arábia Saudita e Catar não é recente e intensificou-se em 2017, quando os sauditas boicotaram os catari, acusando o país de apoiar o terrorismo e criticando a sua relação amigável com o Irão.
“Por que é que isso é importante? Não apenas o potencial comprador do Newcastle United causou enormes danos às receitas comerciais do seu clube e da Premier League, mas o legado do serviço ilegal continuará a impactar-vos no futuro “, escreveu o CEO do beIN Media Group, Yousef Al-Obaidly, na carta aos clubes. “Quando a temporada da Premier League recomeçar nos próximos meses, todo o conteúdo das emissoras da liga continuará disponível prontamente e ilegalmente”.
Depois deste escândalo de acusações de pirataria, a Arábia Saudita tornou-se no único país do mundo onde apenas é possível assistir à Premier League ilegalmente.
“Na medida em que os relatórios sobre a aquisição do Newcastle estão corretos, consideramos essencial que a Premier League investigue completamente o potencial comprador do clube, incluindo todos os diretores, dirigentes e outros representantes”, escreveu ainda Al-Obaidly, numa carta separada enviada a Richard Masters.
As consequências desta aquisição não são apenas vistos por Al-Obaidly. A diretora da Amnistia Internacional no Reino Unido, Kate Allen, também escreveu uma carta ao presidente executivo da Premier League, onde apela para que Masters não permita que a liga seja usada para aquilo que chama de “lavagem desportiva” levada a cabo pela Arábia Saudita.
“A menos que a Premier League pare e olhe seriamente para a situação dos direitos humanos na Arábia Saudita, corre o risco de se tornar uma bode expiatório“, escreveu Allen. “Como é que isto pode ser positivo para a reputação e imagem da Premier League?”.
A luta de poderes por detrás da Premier League é algo há muito conhecido e já acontecia antes da chegada da possível chegada de Mohammed Bin Salman aos ‘magpies’.
City contra United já não é só uma partida de futebol, é aquilo que rapidamente se tornou uma guerra ideológica entre o Ocidente e o Oriente. Os avarentos apetites corporativos do capitalismo ocidental e os xeiques famintos por lucros do Golfo estão agora envolvidos no maior dérbi de todos — a batalha pelo domínio ideológico.
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