A derrota quatro dias antes com o Benfica, na Luz, “foi determinante” para o Sporting perder a final da Taça UEFA de futebol, em ‘casa’, com o CSKA Moscovo , há 15 anos, considera o então treinador dos leões, José Peseiro.
“Vi o jogo pela primeira vez há pouco tempo e o nosso final não foi assim tão mau como sempre esteve presente na minha cabeça ao longo destes anos. Mas foi marcado por um menor equilíbrio emocional, menor tranquilidade, um estado de ansiedade e de descontrolo”, diz o então treinador do Sporting à Lusa.
“Para mim, mais do que pelo que estava a acontecer, isso foi determinado pelo resultado quatro dias antes. A derrota na Luz, para além de nos ter tirado um título (porque um empate bastava-nos, ficava a faltar-nos um jogo em casa), deixou-nos uma auréola negativa”, considera José Peseiro.
Para o atual selecionador da Venezuela, o ‘fantasma’ não se mostrou até ao empate dos russos, aos 57 minutos, mas fez-se sentir depois disso. “Passar da ideia de podermos ganhar tudo a podermos não ganhar nada pesou muito. Só sentir que podíamos ganhar a Liga dava-nos conforto. A gestão do empate não foi bem feita precisamente por isso. Vendo agora à distância, a derrota na Luz marcou-nos”, considera.
O Sporting disputava diante dos russos do CSKA Moscovo, em pleno Estádio José Alvalade, a 18 de maio de 2005, a sua segunda final europeia de futebol, depois da conquista da Taça das Taças, em 1964, “apenas 4 dias após ter perdido em casa do grande rival, com um golo já no fim da partida que ainda hoje divide opiniões”.
“Há falta de Luisão sobre Ricardo“, defende Peseiro. Mas o golo do central brasileiro valeu mesmo, o Benfica venceu por 1-0 e os leões foram com isso ultrapassados no primeiro lugar.
Fizemos as coisas “com pressa a mais”
A ‘efeméride’ assinala-se na segunda-feira. Na final europeia, Rogério colocou os ‘leões’ na frente a meio da primeira parte, com um grande remate de fora da área, e a euforia instalou-se nos cerca de 50 mil adeptos sportinguistas.
Contudo, já no segundo tempo, o CSKA Moscovo deu a volta ao marcador em apenas oito minutos e sentenciou-o pouco depois, ‘gelando’ as bancadas ‘verde e brancas’.
Quinze anos depois, “a primeira coisa” que vem à cabeça de José Peseiro quando recorda esse jogo é “uma bola que bate na perna do Rogério, vai ao poste e vai ter ao guarda-redes, que dava o 2-2”. “No contra-ataque, o CSKA ‘matou’ a partida com o 3-1, por Vagner Love”, lembra.
“Mas também me lembro da grande festa de estarmos pela segunda vez na história do Sporting numa final europeia, que começou numa meia-final extremamente emotiva contra os holandeses do AZ Alkmaar”, recorda Peseiro.
“Lembro-me da grande emoção que foi jogarmos essa final, o trajeto desde a academia, a emoção no estádio, que estava cheio, a forma como fomos recebidos, o golo extraordinário que nos colocou na frente, o controle praticamente total que tivemos do jogo até aos 60 minutos”, conta à Lusa.
“Depois, veio o empate na sequência de um livre lateral que a equipa sentiu muito e, com ele, a pressa de querer chegar ao 2-1. Fizemos as coisas com pressa a mais, com menos discernimento”, lembra, dando o exemplo de como nasceu o segundo golo russo.
Ainda assim, o Sporting podia ter empatado no tal lance de Rogério, “que desafia todas as leis da gravidade, a um metro da baliza, em que o mais difícil era fazer aquilo, a bola ir ao poste e ir parar às mãos do guarda-redes”, o internacional russo Akinfeev, ainda hoje jogador do CSKA e então com apenas 19 anos.
“Se tivéssemos feito esse 2-2, éramos nós que estávamos por cima e podíamos ter ganho a Taça UEFA, mas isso não esconde a época extraordinária que fizemos. Gostaríamos de ter vencido e acho que, eu e os jogadores, merecíamos. Jogando em casa, perante o nosso público e dadas as expectativas que criámos, era o momento de vencer, mas não conseguimos”, concluiu.
Ao intervalo “só pensava onde ia festejar”
O lateral direito dos leões na final europeia, Miguel Garcia, tinha a “certeza absoluta” que o Sporting ia segurar a vitória sobre o CSKA Moscovo e, ao intervalo, só pensava onde ia festejar a conquista da Taça UEFA de futebol, confessou o ex-jogador à Lusa.
Miguel Garcia foi titular na final do Estádio José Alvalade, em 18 de maio de 2005, a última com aquela a designação de Taça UEFA, e que precedeu a atual Liga Europa.
“Entrámos no jogo com uma força e motivação fabulosas, até ao intervalo era impensável dizer que íamos perder aquele jogo. Quando fui para o intervalo, deitei-me com as pernas para o ar no balneário e pensei ‘a ganharmos 1-0, a darmos uma lição de futebol, de certeza absoluta que vamos ganhar’ e já estava a pensar ‘onde é que eu vou esta noite festejar este título?’”, contou o antigo lateral-direito à Lusa.
“Éramos uma equipa muito ofensiva, que gostava muito de ter bola, com jogadores muito para a frente, muitas vezes com os dois laterais subidos, não soubemos gerir o 1-0 e ser mais cautelosos, mas durante a época inteira era assim que jogávamos, a nossa identidade não era recuar no terreno depois de marcarmos para gerir a vantagem e não seria naquele jogo que ia ser”, explicou.
O lateral direito discorda de José Peseiro sobre a eventual influência negativa da derrota com o Benfica, quatro dias antes, para o campeonato, que ‘transferiu’ em definitivo a liderança a uma jornada do fim, e afirma que, “conscientemente”, não a sentiu.
“Cada jogo é um jogo, ali era uma final, um título que o Sporting nunca tinha ganho, dois dias depois já ninguém pensava nesse jogo com o Benfica. Estávamos super motivados. Depois do empate só me veio à cabeça a vontade de voltar a marcar. Quando sofremos novo golo, aí fomos um pouco abaixo, quisemos voltar a fazer tudo rápido, mas rápido não quer dizer bem feito”, notou.
Assumido sportinguista, Miguel Garcia tinha sido o herói da eliminatória anterior, diante dos holandeses do AZ Alkmaar, ao marcar em cima do final do prolongamento o golo que permitiu ao Sporting a qualificação para a final, mas recorda uma equipa cheia de craques.
“Saía o Pedro Barbosa, entrava o Carlos Martins, saía o Liedson e entrava o Niculae, havia o Custódio ou o Hugo Viana, saía o Rui Jorge e tinha o Tello, tinha o Rochemback, o Polga, o Enakarhire, havia muitas soluções e o ‘mister’ Peseiro fez um trabalho fantástico a gerir o plantel”, disse.
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