O Mundial 2014 tem apresentado inovações importantes, como a introdução de chips nas bolas para confirmação de golos e o uso de spray de espuma para marcação de barreiras, ferramentas introduzidas pela primeira vez em Mundiais.
O segundo golo da França contra Honduras no Mundial 2014 ficará marcado como o primeiro golo validado com recurso à tecnologia, através do chip que atesta se a bola cruzou a linha de fundo. Por outro lado, o spray de espuma tem ajudado os árbitros a manter os jogadores da defesa distantes do local da cobrança de faltas, principalmente quando ocorrem perto da grande área.
Ao que parece, essas novidades vieram para ficar. Conheça outras inovações que mudaram os Mundiais.
1. Cartões vermelho e amarelo (desde 1970)
Hoje tão comuns como o apito, os cartões amarelos e vermelhos foram fruto da imaginação do árbitro inglês Ken Aston, que apitou a notória partida entre Chile e Itália no Mundial de 1962 – um dos jogos mais agressivos da história dos campeonatos do mundo.
Aston chefiou também a arbitragem do Mundial seguinte, em 1966, em Inglaterra, quando houve confusão entre jogadores da Argentina e os anfitriões nos quartos de final, e o capitão argentino Antonio Rattin recusou-se a deixar o campo após ser expulso.
A ideia dos cartões surgiu a Aston enquanto dirigia o seu carro, em Londres, quando parou nos semáforos: “O semáforo ficou vermelho e eu pensei, ‘Amarelo, vai com calma; vermelho, pára, estás fora’”.
Livre de barreiras linguísticas, os cartões vermelhos e amarelos foram introduzidos no Mundial de 1970 e foram adotados em todo o mundo – e existem até variantes em outras modalidades.
O que aconteceu depois?
O árbitro alemão Kurt Tschenscher mostrou cinco cartões amarelos no jogo de abertura do Mundial de 1970 entre México e URSS, mas nenhum cartão vermelho foi mostrado em toda a competição.
No dia 14 de junho de 1974, o jogador do Chile Carlos Caszely foi o primeiro a levar com um cartão vermelho num Mundial de Futebol, depois de uma segunda advertência.
No Mundial de 2006, o árbitro inglês Graham Poll ficou famoso ao levantar erroneamente três cartões amarelos para o defesa croata Josip Simunic, antes de levantar um vermelho.
2. Substituições (desde 1970)
Quando Geoff Hurst marcou o seu terceiro golo consecutivo na final do Mundial de 1966 pela Inglaterra, o jogador que ele estava a substituir, Jimmy Greaves, estava a assistir a partida do lado de fora, vestido de fato e gravata. Como assim? As substituições durante o jogo não eram autorizadas nos Mundiais até 1970.
O primeiro suplente numa partida de futebol foi Keith Peacock, que jogava pelo Charlton Athletic Football Club no campeonato inglês, no dia 21 de agosto 1965. Mas em Mundiais de futebol, a honra é do soviético Anatoliy Puzach, no jogo de abertura contra o México, em 1970.
O que aconteceu depois?
Até 1990, as equipas só podiam nomear cinco suplentes e, entre eles, apenas dois podiam ser usados.
A partir de 1994, todos os membros da equipa – com exceção dos jogadores suspensos – podem ser suplentes. Nesse Mundial, no entanto, o número de substituições era limitado a dois jogadores e o guarda-redes; desde 1998, quaisquer três substituições são permitidas.
3. Penalties (desde 1978)
Os métodos tradicionais para definir um vencedor após um empate numa partida decisiva eram novos jogos ou mesmo sorteio. A Itália, por exemplo, venceu a Jugoslávia no Europeu de 1968 num jogo extra realizado dois dias após a grande final.
A decisão por penalties começou a ser usada em competições de clubes na Europa desde 1970.
No entanto, apesar de adotada para o Mundial de 1978, a medida acabou sendo necessária apenas no torneio seguinte, de 1982, quando a Alemanha Ocidental bateu a França nas meias-finais.
O que aconteceu depois?
Jogos de Mundiais já foram concluídos nos penalties em 22 ocasiões, incluindo as finais de 1994 – quando o Brasil venceu depois de um remate falhado do italiano Roberto Baggio – e de 2006.
A Alemanha é a equipa mais bem-sucedida na disputa de penalties, com quatro vitórias e nenhuma derrota, enquanto a Inglaterra é conhecida pelos seus fracassos nessa área – é a única equipa a ter perdido três disputas em Mundiais e nunca ganhou uma final nos penalties.
Bélgica, Paraguai e Coreia do Sul têm o recorde de acertar 100% dos penalties, ao marcar cinco golos em cinco remates. A Suíça é o único país a errar todas as tentativas – perdeu por 3 a 0 para a Ucrânia em 2006.
4. Três pontos por vitória (desde 1994)
O prémio de três pontos por vitória (em vez de dois) foi introduzido na Liga Inglesa em 1981, numa tentativa de incentivar mais o jogo ofensivo.
A novidade foi rapidamente adotada na maioria dos outros campeonatos importantes nos anos seguintes, mas só foi empregue nos Mundiais a partir de 1994.
O que aconteceu depois?
Na verdade, não teria feito diferença na classificação da primeira fase dos Mundiais de 1994, 2002 ou 2006, quando as mesmas equipas se teriam qualificado para a fase eliminatória caso ganhassem dois pontos por vitória.
No entanto, em 1998, o Paraguai teria terminado na liderança do Grupo D à frente da Nigéria, o que lhes teria dado diferentes oponentes nos oitavos, quando ambas as seleções foram eliminadas.
Em 2010, a Nova Zelândia, depois de empatar todos os três jogos do grupo, ter-se-ia classificado para os oitavos no lugar da Eslováquia, que perdeu para a Holanda na fase de grupos.
5. “Golden goals” (1998-2002)
Após um empate, o “golden goal” (golo de ouro) é o primeiro golo marcado no prolongamento – dois tempos de 15 minutos – e encerra a partida.
A partir de 1993, foi testado em competições menores, e ao longo da década de 90 passou a ser usado em campeonatos mais importantes, como a Taça UEFA.
Quatro partidas de Mundiais foram resolvidas com golos de ouro: em 1998, a França venceu o Paraguai; e em 2002 a Coreia do Sul eliminou a Itália, o Senegal bateu a Suécia e depois foi eliminado da mesma forma pela Turquia.
O objetivo ao adotar o golo de ouro era promover um jogo mais ofensivo, mas às vezes isso parecia ter o efeito inverso, com as equipes a jogar de forma conservadora com medo de sofrer o golo decisivo.
O que aconteceu depois?
O Euro 2004 adotou uma variante, o “golo de prata”, em que um jogo seria encerrado após o primeiro tempo do prolongamento, se uma das equipas estivesse à frente. Depois disso, porém, tanto o golo de prata como o de ouro deixaram de ser utilizados.
Entre as histórias bizarras associadas a estas decisões está a do clube italiano Perugia, que ameaçou demitir o sul-coreano Ahn Jung-Hwan depois de este ter eliminado a Itália do Mundial de 2002 com um golo de ouro. O jogador reagiu recusando-se a comparecer aos treinos para a pré-temporada dos campeonatos.
A final da Liga dos Campeões deste ano é sinal de que pode ser bom deixar o espetáculo fluir mais um pouco: após um empate por 1-1 no final da segunda parte, Real Madrid e Atlético de Madrid seguiram para prolongamento, onde os merengues marcaram não um, mas três golos de vitória.
ZAP / BBC
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