António Costa, juntamente com Fernando Medina e Cristina Ferreira, faz parte da Comissão de Honra de apoio à recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do SL Benfica. Apoio levou a críticas de várias frentes.
Rui Rio, presidente do PSD, disse, citado pelo Diário de Notícias, que “não faz sentido” que o primeiro-ministro António Costa e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, façam parte da Comissão de Honra da candidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica.
“Sempre achei mal a mistura entre a política e o futebol profissional. No passado combati isso e afastei-me. Hoje até há problemas de ordem judicial metidos nisso”, afirmou o líder social-democrata, em conferência após a primeira reunião do Conselho Consultivo do Conselho Estratégico Nacional do PSD, em Coimbra.
“O futebol é sobretudo emoção e a política tem uma componente de emoção, porque somos todos homens e mulheres, mas acima de tudo tem de ter racionalidade e não deve ditada por motivos de ordem emocional ou por motivo de simpatia clubística. Nada disto faz sentido. O ideal é que, quando estamos em cargos políticos no Governo, nos abstenhamos“, afirmou Rio.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, criticou Costa por integrar a comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira, defendendo que “não pode existir cumplicidade entre a política e os negócios”.
“Saber hoje que o primeiro-ministro acha normal fazer parte de uma comissão de honra de alguém que é dos maiores devedores do Novo Banco e que está implicado no problema do BES (Banco Espírito Santo) não fica bem”, afirmou Catarina Martins.
A líder bloquista admitiu que “as paixões de futebol e outras são todas humanas e aceitáveis”, mas ressalvou que “ao primeiro-ministro aquilo que se pede é o dever de reserva”. “Nada pode ser como antes e a cumplicidade entre a política e os negócios não pode ser aceite neste país”, vincou.
Também o porta-voz do PAN, André Silva, considerou inadmissível “do ponto de vista ético”, que Costa e Medina entrem na comissão de honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira.
“Todas estas situações de ligação próxima da política ao futebol não são admissíveis do ponto de vista ético, porque abrem a porta a que o amor ao clube se possa sobrepor ao compromisso para com o interesse público, que deverá sempre nortear qualquer titular de um cargo político no exercício do cargo”, defende o PAN, em comunicado.
No comunicado, o partido fala ainda em “vários casos” da mesma ordem, e considera “que este tipo de situações não devia suceder, uma vez que um dos principais problemas da sociedade portuguesa é o excesso de promiscuidade entre a política e o futebol, e as ligações perigosas e pouco transparentes associadas a este mundo”.
“De resto, essas ligações são mais do que óbvias quando a própria Europol considera a corrupção no desporto como uma das 12 principais atividades criminosas organizadas na União Europeia”, acrescenta.
O partido defende que, “face a este caso, e aos restantes casos recentes de ligação institucional de deputados ao mundo futebol, é importante que, o quanto antes, o parlamento faça a sua parte no combate a estas promiscuidades e tenha a coragem de aprovar a iniciativa do PAN que, seguindo o modelo já em vigor para os magistrados, impede a ocupação de cargos em órgãos de clubes de futebol”.
“Esperemos, também, que António Costa volte atrás nesta sua decisão que descredibiliza a política e afasta os cidadãos, a bem da transparência e da salvaguarda do interesse público”, apela.
“Andam a gozar connosco”
Em declarações à SIC Notícias no Jornal de Sábado, José Gomes Ferreira disse que a presença de Costa na comissão de honra da candidatura de Luís Filipe Vieira é “muito grave” – ainda mais grave do que quando a Galp ofereceu bilhetes para o Euro 2016 a deputados.
“Devemos todos voltar a ter capacidade de nos indignarmos perante estas coisas”, afirmou.
José Gomes Ferreira lembrou ainda a ligação de Luís Filipe Vieira ao Novo Banco. “Ele [Luís Filipe Vieira[ devia à banca mais de 700 milhões de euros e só ao Novo Banco, em 2018, foram-lhe apagadas das contas do banco 225 milhões. E quem é que pagou esse dinheiro ao Novo Banco? Fomos todos nós portugueses”.
José Gomes Ferreira salientou o facto de Costa ter criticado as práticas do banco e o ministro Mário Centeno por ter aprovado uma nova injeção. “Esses buracos temos de ser nós contribuintes a pagar.”
Além disso, José Gomes Ferreira disse ainda que é muito grave um primeiro-ministro associar-se a um candidato que aparece em processos judiciais, como é o caso da Operação Lex.
Em entrevista à SIC Notícias, João Paulo Batalha, presidente da Associação Cívica Integridade e Transparência, afirmou que “não faz sentido” o apoio do primeiro-ministro e do presidente da Câmara de Lisboa a Luís Filipe Vieira, assumindo mesmo tratar-se de “uma bizarria”.
“António Costa e Fernando Medina são sócios do Benfica, tudo bem, têm o direito de votar, mas deviam abster-se de se envolverem na vida interna de um clube, ainda para mais numa eleição”, disse.
“Há relações institucionais entre os cargos que ocupam e o clube em questão. Vieira convida pessoas para uma Comissão de Honra em função das funções que ocupam, da importância pública que têm. Vieira pediu emprestada a honra da Câmara Municipal de Lisboa e do Governo português para a sua candidatura. E eles aceitaram emprestar”, justificou.
Candidatos à presidência do Benfica também criticaram
O candidato João Noronha Lopes utilizou o Twitter para garantir que “nenhuma comissão de honra, lista ou órgão consultivo” que seja apresentado pela sua lista incluirá políticos em funções executivas.
“Cada um tirará as suas conclusões acerca da presença do primeiro-ministro na comissão de honra de Luís Filipe Vieira, mas aproveitamos a oportunidade para assegurar que esta candidatura será sempre pela separação escrupulosa entre a política e o futebol”, frisou.
Cada um tirará as suas conclusões acerca da presença do primeiro ministro na comissão de honra de Luís Filipe Vieira, mas aproveitamos a oportunidade para assegurar que esta candidatura será sempre pela separação escrupulosa entre a política e o futebol.
— João Noronha Lopes (@jnoronhalopes) September 11, 2020
Já Rui Gomes da Silva optou, no Facebook , por se dirigir ao seu eleitorado. “O Benfica que pretendemos a partir de outubro é um clube eclético, vitorioso e cumpridor dos seus compromissos desportivos, financeiros e sociais. A grandeza do Sport Lisboa e Benfica exige-nos a todos um compromisso extra, com a ética”, referiu.
https://www.facebook.com/ruigomesdasilva.oficial/posts/3190240251092745
Bruno Costa Carvalho também disse no Facebook ser “completamente incompreensível que um primeiro-ministro e um presidente da Câmara se metam nas eleições do Benfica”, justificando que “ocupam esses cargos e sabem bem que nunca conseguirão despir essa pele”.
“Posso dizer que votei no PS e em António Costa, mas nunca mais o farei na minha vida. Tenho vergonha do meu voto. Tenho vergonha do meu país“, frisou. “Portugal precisa, urgentemente, do regresso de Passos Coelho à política ativa. Com ele não havia estas poucas vergonhas.”
https://www.facebook.com/bruno.carvalho.963434/posts/10220700801128917
Questionado pelos jornalistas à saída do congresso federativo do PS, na Área Metropolitana de Lisboa, António Costa recusou fazer comentários sobre aquilo que diz ser “um assunto que não tem nada a ver com a vida política”, escreve o Observador.
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