O “cancro” das SAD já fez dezenas de vítimas. O Aves é apenas a mais recente

O Desportivo das Aves corre o risco de fechar portas. O emblema avense não é o primeiro do futebol português a ver-se em problemas devido à SAD. Há muitos outros que passaram pela mesma situação.

O Desportivo das Aves SAD vai abdicar da participação no Campeonato de Portugal, após ter falhado as negociações com o Perafita para utilizar as instalações do clube de Matosinhos.

“As inscrições fechavam ontem [terça-feira] e nenhum atleta foi inscrito devido às dívidas antigas da SAD. O Aves SAD não vai competir esta época. Fecho definitivo de portas? Não fazemos ideia do futuro”, explicou à agência Lusa fonte do clube.

O Aves SAD reprovou, em julho, os requisitos de licenciamento nas provas profissionais de 2020/21 junto da Liga de clubes e dispensou o recurso para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, na sequência de uma temporada assinalada por sucessivos incumprimentos salariais e culminada com a descida no relvado à II Liga.

A estrutura liderada pelo chinês Wei Zhao tem sido acompanhada pelo administrador judicial provisório António Dias Seabra e beneficia de um Processo Especial de Revitalização (PER), que reparte dívidas de 17,1 milhões de euros por 110 credores.

O Desportivo das Aves é apenas a mais recente vítima de um problema generalizado no futebol português e que tem um denominador em comum: Sociedade Anónima Desportiva (SAD). O blogue Tabelou Com Quem elaborou uma lista de clubes que, nos últimos anos, têm descido às ruas da amargura por causa de investidores externos.

Em 2015, a Traffic Sports Europe, empresa brasileira de marketing desportivo proprietária do Estoril-Praia, esteve no centro de um escândalo de corrupção da FIFA. O dono da empresa, José Hawilla, admitiu as acusações de fraude eletrónica, lavagem de dinheiro e obstrução à justiça, aceitando devolver 151 milhões de dólares.

Em 2018, o Ministério Público esteve a investigar o jogo Estoril-FC Porto, que terminou com vitória dos dragões por 3-1, após uma denúncia anónima sobre a alegada combinação do resultado. A denúncia dá conta de uma suposta reunião entre um executivo da Traffic, um empresário e um dirigente do FC Porto para a alegada combinação de resultado. O encontro terá decorrido num hotel de Lisboa, na véspera da segunda parte do jogo.

A denúncia também dará nota de uma alegada transferência bancária para a Estoril, SAD, no valor de 730 mil euros, efetuada dias depois do desafio.

O Beira-Mar foi outro clube histórico que recentemente entrou em insolvência. O emblema de Aveiro foi comprado, em 2011, pelo investidor iraniano Majid Pishyar. Em quatro anos, o clube desceu às distritais por gestão danosa, escreve o blogue. De momento, o clube disputa o Campeonato de Portugal.

Também o Belenenses viveu uma guerra recente, com a separação entre clube e SAD. O desaguisado começou em 2012, quando a Codecity comprou a maioria da SAD por 520 euros. Devido à situação financeira delicada do clube, os sócios decidiram vender 51% do capital da SAD à empresa liderada por Rui Pedro Soares.

O antigo administrador da PT adquiriu, inicialmente, 46,9% do capital social por 469 euros, tendo mais tarde comprado mais 5% por 50 euros.

Em 2014, clube e SAD não se entenderam relativamente à utilização das instalações do Restelo e o Belenenses SAD passou a treinar e jogar no Estádio Nacional do Jamor. Em 2018, consumou-se o divórcio. O histórico emblema está agora na 1.ª Distrital de Lisboa, enquanto o Belenenses SAD milita no primeiro escalão português.

Nos últimos anos, a Belenenses SAD terá tentado fugir ao Fisco e à Segurança Social. Em causa estão pagamentos salariais efetuados aos funcionários sem os processar e emitir os respetivos recibos de vencimento, avançou o Público, a 26 de agosto, detalhando que os valores em jogo rondaram o milhão de euros no final da temporada de 2018/2019.

A União de Leiria anda agora longe das luzes da ribalta, mas não há muito tempo era uma presença habitual na primeira divisão portuguesa. Em 2012, num jogo para o campeonato frente ao Feirense, alinhou apenas com oito jogadores.

Dois anos mais tarde, a SAD foi comprada pela DS Investment e, apenas dois anos volvidos, rebentava o escândalo que ficou conhecido como “Matrioskas”, onde foram reveladas ligações diretas à máfia russa.

Sem condições para inscrever o clube nas divisões profissionais, em apenas uma época desceu duas divisões. A “Equipa do Lis” continua no Campeonato de Portugal até aos dias de hoje.

Em 2013, o empresário italiano Igor Campedelli comprou 80% do capital da Olhanense, apesar da crise financeira que o clube atravessava. À pressa, o clube construiu um plantel variado, trazendo vários jogadores internacionais de classe com provas dadas no estrangeiro. A maioria chegou a custo zero ou por empréstimo.

De nada adiantou. Nessa época, desceu de divisão e só parou no Campeonato de Portugal, onde lá continua. Este ano esteve perto de subir ao segundo escalão, mas viu a pandemia de covid-19 arruinar-lhe os planos.

Estes são casos de estudo, mas há muitos mais no futebol português. Atlético CP, Fátima, Cova da Piedade, Leixões, Penafiel, Sintrense, AD Oliveirense, Freamunde, Lusitano de Évora, Torreense e Vilafranquense são outros clubes, mencionados pelo Tabelou Com Quem, que passaram por situações semelhantes.

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