“Anã gorda”: queixas prolongam-se na ginástica britânica

Amy Tinkler tenta que o assunto dos maus tratos não seja esquecido e agora começa a revelar correspondência privada. Várias ex-ginastas já lançaram acusações a treinadores.

A controvérsia começou em julho, quando as ex-ginastas Catherine Lyons e Lisa Mason relataram publicamente alegados abusos por parte de treinadores, no Reino Unido.

Na altura, Catherine Lyons contou que passou fome durante uma semana porque os seus treinadores diziam que ela tinha peso a mais. No meio de muitos gritos por parte dos técnicos, a jovem também ficou presa num armário para se acalmar e, num treino, o seu corpo foi atingido com um bastão. Catherine abandonou a carreira de ginasta aos 19 anos, devido a estes maus tratos.

Lisa Mason, hoje com 38 anos, relatou os abusos que sofreu desde os seus 10 anos de idade: era forçada a treinar até as mãos sangrarem, em várias ocasiões esteve lesionada mas treinava na mesma, sob efeitos de analgésicos, e chegou a treinar sobre um solo com picos – colocados propositadamente pelos treinadores, para as ginastas andarem somente com as pontas dos pés.

Poucos dias depois destas denúncias, as irmãs Becky e Ellie Downie confessaram que esses abusos, sobretudo os mentais, eram tão frequentes por parte dos treinadores que se tornou “a norma” no mundo da ginástica britânica.

Antes, em janeiro deste ano, Amy Tinkler anunciou que tinha abandonado a ginástica, aos 20 anos. Especulou-se que os problemas constantes no seu tornozelo tinham originado esta decisão mas, afinal, e igualmente em julho, a própria Amy confessou que deixou a modalidade porque, apesar das várias queixas formais que apresentou junto da Federação Britânica de Ginástica, não recebeu qualquer resposta.

A federação reagiu e disse que as queixas foram apresentadas em dezembro de 2019, apenas um mês antes do anúncio da atleta, e que os pormenores só tinham sido divulgados em março de 2020, por isso a investigação estava em curso.

Amy Tinkler, que conquistou uma medalha de bronze na última edição dos Jogos Olímpicos, voltou a fazer um anúncio nesta terça-feira, revelando que vai começar a tornar pública a sua correspondência privada, para demonstrar que a federação está a mentir sobre este assunto.

A Federação Britânica de Ginástica reagiu novamente e diz que iniciou nova investigação, desta vez relacionada com queixas de Amy sobre Colin Still, o selecionador nacional.

Colin Still (que continua a ser o selecionador nacional) trocou mensagens sobre Amy Tinkler, depois de ver resultados de análises, que a ginasta “parecia estar um bocado pesada”. Quando foi elucidado por uma nutricionista sobre os números das análises, comentou: “Obrigado pela explicação. Agora vou voltar ao meu esqui, sabendo que a Amy não se está a transformar numa anã gorda!“. Amy Tinkler tinha 17 anos, na altura. Até hoje não recebeu qualquer pedido de desculpa do treinador.

“Eu odeio fazer isto em público. É injusto para mim e para as pessoas de quem vou falar, mas não encontro outra escolha. De que adianta fazer a coisa certa, seguindo as diretrizes, apenas para ser enganada e rejeitada. Os melhores profissionais da British Gymnastics não demonstraram qualquer empatia ou desejo de mudar, por isso é hora de demonstrar publicamente o seu comportamento”, escreveu Amy nas redes sociais.

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