O Ministério Público (MP) e a Autoridade Tributária estão a seguir a pista de sociedades offshores que terão sido utilizadas pelo Benfica para esconder transferências. Mas, por esta altura, as provas apontam para crimes fiscais, enquanto as suspeitas de corrupção desportiva serão difíceis de provar.
“Neste momento, as provas mais fortes estão no domínio da máquina fiscal”, destaca o Correio da Manhã (CM) que teve acesso ao processo que envolve as recentes investigações que estão a ser efectuadas ao Benfica.
A investigação está a tirar partido dos vários processos-crime que decorrem na justiça contra o Benfica e envolvem também suspeitas em torno do Desportivo das Aves, do Moreirense, do Santa Clara e do Sporting de Braga.
O CM repara que o MP “poderá avançar proximamente para a acusação de crime de branqueamento de capitais“. A fraude fiscal é outra possível acusação, uma vez que alguns negócios de compra, venda e empréstimo de jogadores não terão sido declarados.
Por outro lado, as suspeitas de corrupção desportiva serão mais difíceis de provar, até perante o “silêncio dos envolvidos”, como atesta o referido jornal.
De qualquer modo, o MP está “a passar a pente fino a quase totalidade dos empréstimos feitos pelo Benfica de jogadores que comprou e foram imediatamente cedidos”, sem nunca terem jogado pelos encarnados, segundo o Tribuna Expresso.
Esses negócios terão sido “um incentivo” para os clubes beneficiados jogarem melhor contra os adversários directos do Benfica, como Sporting e FC Porto, atesta uma fonte ouvida pela mesma publicação.
Entre as transferências suspeitas estão Chiquinho, Pedro Nuno e Alfa Semedo que passaram pelo Benfica e que acabaram a jogar no Moreirense. O MP suspeita que o Benfica fez estes negócios para ajudar o emblema de Moreira de Cónegos, no sentido de este beneficiar o clube da Luz nos jogos contra si.
As suspeitas apontam que o mesmo esquema terá sido feito com o Aves e o Santa Clara.
O líbio Hamdou Elhouni, jogador que o Benfica comprou ao Santa Clara por 500 mil euros, em 2016, é citado pelo Tribuna Expresso como outro dos casos suspeitos.
Elhouni nunca jogou pelo Benfica e foi cedido ao Desportivo de Chaves e vendido depois ao Desportivo das Aves.
“Os valores demasiado elevados deste e de outros jogadores que passaram pelo Benfica e por outros clubes chamaram a atenção”, refere uma fonte ao Tribuna Expresso.
O MP acredita que os valores inflaccionados são uma evidência da “troca de favores e poder de influência” do Benfica sobre os clubes de menor dimensão, afiança a dita publicação.
Mas os investigadores também suspeitam que o Benfica terá pago a outros clubes para ganharem ao Sporting.
“Como o Apito Dourado depois não dá nada”
As recentes buscas efectuadas no Estádio da Luz, nesta semana, levam o treinador Manuel José a considerar que “volta e meia aparecem estas investigações e a montanha vai parindo ratos”. “Aquilo não dá nada. Passam-se anos, anos e anos”, atira ainda o técnico em declarações no programa “Grande Área” da RTP3.
“Faz algum sentido fazer estas investigações todas? Em Portugal, as pessoas antes de serem julgadas já foram condenadas na praça pública“, refere ainda Manuel José, fazendo a comparação com o Apito Dourado e concluindo que “depois não dá nada”.
“Com tanta busca no Estádio da Luz, ainda vai aparecer o brinco do Vítor Baptista“, salienta também o treinador.
O brinco perdido de Vítor Baptista
Manuel José referia-se ao insólito episódio que marcou o clássico Benfica-Sporting da época de 1977/1978. Num jogo em que Jordão até partiu a perna, o episódio que ficou imortalizado na história do jogo originou de Vítor Baptista.
O avançado marcou o golo que deu a vitória aos encarnados por 1-0, mas perdeu o brinco nos festejos. Quando terminaram as celebrações, a bola voltou ao centro do terreno mas o marcador não. Vítor Baptista ficou perto da grande área dos leões a olhar para o chão à procura do seu característico brinco.
O jogador interrompeu o jogo por cerca de 10 minutos, obrigando os companheiros e alguns adversários a procurarem o adereço que nunca apareceu. Ainda no final do jogo, Vítor Baptista não ficou satisfeito e voltou a sondar o terreno de jogo à procura do brinco.
Segundo o jogador, foi quando Cavungi o abraçou que o objecto lhe desapareceu da orelha. “O brinco custou doze contos e penso que o prémio de jogo é de oito. Em suma, perdi dinheiro a trabalhar”, recordou.
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