A Argentina está em choque com a morte de Diego Armando Maradona. O coração de El Pibe não aguentou numa altura em que estava a tentar mudar de vida, com exercícios físicos, dieta e a tentar livrar-se do álcool. Ainda foi socorrido por nove ambulâncias, mas nada havia a fazer e foi levado pela mão de Deus.
Maradona tinha 60 anos e sucumbiu a uma paragem cardio-respiratória no mesmo dia em que morreu Fidel Castro, o líder cubano a quem ele chamava o seu “segundo pai” e de quem era admirador. Tinha uma tatuagem de Fidel na perna esquerda e outra de Che Guevara no braço direito.
Ao longo da sua vida, El Pibe assumiu sempre as suas posições políticas e nunca fugiu a controvérsias, tanto dentro como fora de campo. “Sou preto ou branco, nunca na vida serei cinzento”, chegou a dizer.
Também desabafou que a “correr atrás” da bola era “o homem mais feliz do mundo“. E era a bola que lhe faltava nestes tempos de pandemia quando ficou afastado do futebol e do Gimnasia de La Plata, a equipa que treinava, devido à suspensão dos treinos na Argentina.
Estava a cumprir um plano de exercícios e dieta
Estava a ser controlado “24 horas” por dia por uma enfermeira e por um psicólogo depois de ter sido operado a um coágulo sanguíneo no cérebro.
A operação correu bem e El Pibe voltou para casa. Mas estaria algo debilitado pelo abuso de álcool que se terá agravado durante a pandemia e devido a guerras familiares com as filhas.
Mas depois da cirurgia ao cérebro, Maradona estaria decidido a mudar de vida e estava a cumprir um programa de exercícios físicos e de dieta elaborado pelo seu médico pessoal, Leopoldo Luque, como avança a imprensa argentina.
No dia da sua morte, nesta quarta-feira, 25 de Novembro, levantou-se de manhã, fez uma pequena caminhada e algumas horas depois voltou a deitar-se numa rotina que lhe era habitual depois da cirurgia, como reporta o jornal argentino Olé.
A enfermeira que o acompanhava encontrou-o “descompensado, desvanecido” quando o foi acordar, por volta do meio-dia, para tomar um medicamento, frisa a mesma publicação.
Foi chamada de imediato uma ambulância, mas chegaram nove, ainda segundo o Olé que repara que, contudo, “não havia nada a fazer”.
“O coração do melhor jogador de todos os tempos não aguentou mais”, conclui o desportivo.
“Até a bola chora”
Na Argentina, é “um dia duríssimo” porque Maradona “faz parte da identidade” dos argentinos, realça o ministro dos Desportos do país, Matías Lammens. Trata-se de um dos dias “mais tristes ou o mais triste da história do desporto argentino“, acrescenta o governante.
“Toda a Argentina o chora e todo aquele que gosta de futebol também. Até a bola chora”, salienta, por seu turno, Jorge Valdano, ex-colega de Selecção de Maradona com quem foi campeão do mundo em 1986.
E foi a emoção que ganhou a Valdano durante a emissão televisiva de um jogo da Liga dos Campeões quando falava da morte de El Pibe em directo, não conseguindo conter as lágrimas.
Ao vivo, Jorge Valdano não conseguiu segurar a onda na hora de falar das recordações que tinha de Maradona.
Pesado 🙁pic.twitter.com/aK1Ettk0p8
— 🇫🇷 Filipe Frossard Papini (@FilipeDidi) November 25, 2020
Também Oscar Ruggeri, que jogou três Mundiais com Maradona, se emocionou quando soube da sua morte em pleno directo de um programa de televisão.
“Não há um argentino a quem não esteja a cair uma lágrima pelo que este rapaz fez por este país”, apontou Ruggeri.
A Argentina já decretou três dias de luto nacional pela morte de Maradona e o seu corpo vai ser velado na Casa Rosada, a sede da presidência da República, em Buenos Aires, numa cerimónia aberta ao público.
Nápoles vai dar nome de Maradona ao Estádio
Em Nápoles, onde Maradona é rei depois de ter representado o clube local, sucedem-se as homenagens. O presidente da Câmara da cidade, Luigi de Magistris, já anunciou que o Estádio San Paolo passará a chamar-se Diego Armando Maradona.
Intitoliamo lo Stadio San Paolo a Diego Armando Maradona!!!
— Luigi de Magistris (@demagistris) November 25, 2020
O Nápoles já tinha retirado a camisola 10 depois do adeus de Maradona numa homenagem ao seu maior craque de todos os tempos.
Nas ruas, sucedem-se os momentos de tributo dos adeptos do clube italiano.
Nápoles, Italia, ahora.
Maradona ♾pic.twitter.com/o31wyuk1Qu
— C5N (@C5N) November 25, 2020
Na sua rede social no Twitter, o Nápoles reforça que faltam as palavras para expressar a dor pela perda.
“Todos esperam as nossas palavras. Mas que palavras podemos usar para uma dor como esta que estamos a viver? Agora é o momento das lágrimas. Depois, será o momento das palavras”, aponta o clube italiano que, em jeito de homenagem, partilha uma publicação com a frase “Eu vi o Maradona”.
— Official SSC Napoli (@sscnapoli) November 25, 2020
Muitos outros clubes de países diferentes juntam-se no lamento à morte de El Pibe, desde AC Milan, Inter, Lázio, Juventus e AS Roma até Arsenal, Liverpool, Chelsea, Bayern Munique, Real Madrid, Barcelona, Atlético de Madrid, Marselha e Paris Saint-Germain, entre outros.
Também o Sporting quis homenagear Maradona com uma fotografia dele com a camisola dos leões, num momento registado em 1989, após um jogo com o Nápoles.
“Se morrer quero voltar a nascer e quero ser futebolista. E quero voltar a ser Diego Armando Maradona. Sou um jogador que deu alegria às pessoas e isso chega e sobra”, destaca o clube de Alvalade na sua publicação, numa referência a uma frase do craque.
"Si me muero, quiero volver a nacer y quiero ser futbolista. Y quiero volver a ser Diego Armando Maradona. Soy un jugador que le ha dado alegría a la gente y con eso me basta y me sobra" – Diego Armando Maradona pic.twitter.com/Bu2qlf5duy
— Sporting CP (@SportingCP) November 25, 2020
O FC Porto também divulgou uma imagem no seu perfil do Twitter a apontar para o minuto de silêncio que foi cumprido no jogo da Liga dos Campeões com o Marselha, onde também foi lembrada a morte de Reinaldo Teles, histórico dirigente portista.
O minuto de silêncio por Maradona foi cumprido em todos os jogos da Liga dos Campeões disputados nesta quarta-feira.
The UEFA Champions League pays tribute to Diego Maradona. pic.twitter.com/yQvmR1qTHb
— UEFA Champions League (@ChampionsLeague) November 25, 2020
Entretanto, o jogo da Taça Libertadores entre Internacional e Boca Juniors foi adiado devido ao desaparecimento prematuro de El Pibe.
“Espero que possamos jogar bola juntos no céu”
Pelé, o grande rival do futebol de Maradona, já veio lamentar a morte do argentino.
“Que notícia triste. Eu perdi um grande amigo e o mundo perdeu uma lenda. Ainda há muito a ser dito, mas por agora, que Deus dê força para os familiares. Um dia, eu espero que possamos jogar bola juntos no céu”, destaca o ex-futebolista brasileiro no seu perfil do Twitter.
Também Messi já veio salientar que é “um dia muito triste para todos os argentinos e para o futebol”. “Deixa-nos, mas não se vai porque o Diego é eterno“, realça o jogador do Barcelona no Instagram.
“Despeço-me de um amigo e o Mundo despede-se de um génio eterno“, escreve, por seu turno, Cristiano Ronaldo, referindo-se a Maradona como “um dos melhores de todos os tempos” e “um mágico inigualável”.
“Parte demasiado cedo, mas deixa um legado sem limites e um vazio que jamais será preenchido”, reforça o capitão da Selecção Portuguesa.
Hoje despeço-me de um amigo e o Mundo despede-se de um génio eterno. Um dos melhores de todos os tempos. Um mágico inigualável. Parte demasiado cedo, mas deixa um legado sem limites e um vazio que jamais será preenchido. Descansa em paz, craque. Nunca serás esquecido.🙏🏽 pic.twitter.com/WTS21uxmdL
— Cristiano Ronaldo (@Cristiano) November 25, 2020
Sergio Agüero, que é casado com uma das filhas de Maradona, também já expressou a sua dor pela perda. “Nunca te vamos esquecer. Sempre connosco”, destaca nas redes sociais.
“Don Diego… porra, amigo vou sentir a tua falta”, desabafa José Mourinho, enquanto Carlos Queiroz, actual seleccionador da Colômbia, considera que “perdemos parte do futebol”. “Maradona é o futebol, o 10 que ganhou a eternidade e a universalidade”, realça ainda.
“Não consigo parar de chorar”, confessa o ex-jogador argentino Juan Pablo Sorín, enquanto Claudio Caniggia se revela “devastado com a notícia”.
“Era o meu irmão de alma”, escreve Caniggia.
“O mais humano dos deuses”
Pelas redes sociais, os adeptos anónimos também lamentam a morte do génio argentino, com a partilha de memórias dos tempos em que ele maravilhou o mundo, como é o caso do segundo golo que marcou a Inglaterra, durante o Mundial de 1986 no México.
https://twitter.com/mejoresrelatos/status/1331645855288467457
Antes desse golo que deu a vitória por 2-0 à Argentina e a conquista do seu único título mundial, Maradona já tinha apontado o célebre golo com a “mão de Deus”.
O respeito do povo argentino por ele vai além das arquibancadas… Na conquista de 1986, a Guerra das Malvinas foi vingada, graças ao gol
"La mano de Dios" de Maradona. pic.twitter.com/ObkK8Y05oo— Michael Martins (@omichaelmartins) November 25, 2020
“Vamos, abracem-me, ou o árbitro não vai validar o golo”, chegou a contar Maradona a propósito do polémico golo.
Outro momento que faz as delícias dos fãs de Maradona é o vídeo de um aquecimento antes de um jogo da Taça UEFA contra o Bayern de Munique, quando jogava no Nápoles.
SIMPLEMENTE GRACIAS, SEÑOR 🔟 pic.twitter.com/0T0i5QBA7F
— TyC Sports (@TyCSports) November 25, 2020
Em homenagem a El Pibe, o Ajax aqueceu ao som da música “Live is Life” antes do jogo da Champions contra o Midtjylland, nesta quarta-feira, com Nicolás Tagliafico a tentar imitar Maradona.
Contudo, Maradona é “adorado não apenas por causa dos seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses“, como escreveu sobre ele o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, também já falecido.
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