A justiça argentina abriu um inquérito para determinar se houve negligência na morte de Diego Maradona. Entretanto, um amigo do ex-futebolista acusa aqueles que o rodeavam de lhe darem cerveja para que não estivesse em condições de ver as filhas. E ainda há uma disputa pela herança milionária.
“Foi aberta uma investigação porque se trata de uma pessoa que morreu em casa e não foi assinada a certidão de óbito. Isto não significa que existam suspeitas de irregularidades”, aponta uma fonte judicial à agência noticiosa francesa AFP, sob anonimato.
O agente e advogado Matías Morla, que tornou pública na quarta-feira a morte de Maradona, denunciou que o ex-futebolista internacional argentino não recebeu assistência médica adequada e disse que iria exigir uma “investigação até às últimas consequências”.
“É inexplicável que durante 12 horas o meu amigo [Maradona] não tenha tido a atenção médica que devia, em função do seu estado de saúde. A ambulância demorou mais de meia hora a chegar, o que é uma idiotice criminosa“, escreveu Matías Morla na sua conta na rede social Twitter.
Entretanto, a imprensa argentina avança que o médico pessoal de Maradona, Leopoldo Luque, pediu uma ambulância para assistir o ex-futebolista sem nunca ter mencionado que era para Maradona, às 12:16 horas. Um minuto depois, os assistentes que estavam com Maradona terão feito um novo pedido de ambulância.
A ambulância terá chegado à casa de Maradona às 12:28, ou seja, 12 minutos depois do telefonema de Luque, como reporta o jornal Olé, num dado que contradiz o que o advogado de Maradona referiu.
Foi Luque quem operou Maradona a um hematoma no cérebro recentemente e estava a acompanhá-lo num plano de exercícios e de dieta, mas não estava com ele no momento em que veio a falecer.
No áudio da chamada, o médico pede auxílio para “um homem” de “60 anos”, sem nunca referir o nome de Maradona, como nota o Olé. “Há uma pessoa que se encontra, aparentemente, dizem-me, em paragem cardio-respiratória, o médico está a atendê-lo”, terá referido no telefonema, ainda segundo o jornal desportivo argentino.
Familiar denunciou “irregularidades”
Quanto ao inquérito judicial, nem Morla, nem qualquer elemento da família de Maradona apresentaram queixa formal, mas um familiar do antigo jogador terá dito à agência noticiosa francesa que “existem irregularidades”.
“É preciso determinar se fizeram o que deviam ou não. A enfermeira [que assistia Maradona em casa] fez uma declaração ao procurador no dia em que Diego morreu e depois mudou-a, para, finalmente, ir à televisão afirmar que o que declarou lhe tinha sido imposto. Portanto, existem aqui contradições“, observa o mesmo familiar, também sob anonimato.
Segundo a imprensa argentina, Maradona, que treinava os argentinos do Gimnasia de La Plata, sofreu uma paragem cardíaca na sua vivenda em Tigre, na província de Buenos Aires.
Amigo acusa próximos de o embebedarem
Entretanto, um amigo de infância de Maradona, Mariano Israelit, assegura que as pessoas que lhe eram mais próximas, nesta fase da vida, o embebedavam para que não recebesse as visitas das filhas Dalma e Gianinna.
“Agora era impossível chegar a ele, era preciso passar por 10 filtros”, começa por dizer Israelit, um amigo íntimo de Maradona desde os tempos da infância que também é conhecido como “O Feio”.
“Diego vivia numa casa de campo com segurança privada e tinha dois tipos à porta de casa com metralhadoras. Para quê?”, questiona ainda Israelit em declarações a uma rádio argentina que são transcritas pelo Olé.
“Fui muitas vezes à casa, Diego chamava-me para comer um assado com a família ou só com o doutor Mariano Castro, com quem também vivemos juntos na etapa de Cuba”, refere ainda.
Nessas alturas, dizia que estava à espera das filhas Dalma e Gianinna, “mas se elas vinham às 7 da tarde, às 6 e um quarto aparecia este Charly e dizia-lhe: ‘Diego, uma cervejita?’. Não a pedia Diego, traziam-lha. Bebia uma Corona. Dez minutos depois, vinham e davam-lhe outra cerveja. Eu dizia-lhe: ‘Charly, vêm aí as filhas’. E dizia-me que não se passava nada… À terceira cerveja, Diego começava a balbuciar e dizia: ‘E agora, o que faço que vêm as minhas filhas?’. E Charly rematava dizendo: ‘Bem, abrimos um vinho!’“, conta ainda Israelit.
Este Charly será “o marido de uma prima de Rocío (Oliva)“, a ex-namorada de Maradona, como refere o amigo do antigo futebolista.
Israelit também fala dos problemas de saúde de Maradona, notando que “estava muito cansado, muito dolorido do joelho“.
“Falando com uma das filhas, fiquei a saber que quando o operaram, fizeram-lhe uns estudos e através de uma ressonância viram que a prótese de joelho que lhe puseram não é a melhor prótese que podiam pôr”, sublinha ainda, notando que “não era importada”.
Israelit salienta ainda que quando o ia ver, era preciso “levantá-lo entre dois e acompanhá-lo à casa de banho”.
Além disso, também precisava de ser “operado ao outro joelho” e “estava angustiado“, revela.
O cirurgião que pôs a prótese a Maradona, Diego Eyharchet, garante ao Olé que a mesma era “de alta qualidade” e “importada”. “Diego subiu e caminhou normalmente cinco dias depois de operado”, assegura ainda Eyharchet.
“Agora, vão-se matar todos esses delinquentes”
Também o histórico massagista da Selecção Argentina, Galíndez, que acompanhou Maradona no Mundial de 1986 que ficou famoso pelo golo da “mão de Deus”, critica as pessoas que estavam mais próximas de Maradona neste momento da sua vida.
“As pessoas que estavam em seu redor devem estar contentes. Agora, vão-se matar todos esses delinquentes, o advogado e toda essa merda que estava ali”, acusa Galíndez numa rádio argentina.
“Nunca nos pudemos aproximar para falar com ele”, lamenta ainda. “Mandava uma mensagem a Diego e nunca tinha respostas”, acrescenta, concluindo que os amigos estavam “totalmente afastados do mundo de Diego”.
“Esta gente que estava ao seu lado não tem perdão de Deus”, prossegue para concluir que “Diego morreu sozinho”.
5 filhos legítimos e 6 ilegítimos disputam herança
A vida de Maradona foi marcada por diversas guerras familiares, algumas das quais devido ao seu enorme património que inclui joias, carros de alta gama e casas de luxo na Argentina e em Cuba, onde chegou a viver.
Agora que morre, espera-se mais uma batalha feia por uma herança que será da ordem dos 84 milhões de euros.
Além dos cinco filhos legítimos – Dalma, Giannina, Diego Júnior, Jana e Diego -, há mais seis que Maradona nunca reconheceu que poderão vir a reclamar a sua herança, designadamente quatro filhos nascidos em Cuba (Javelito, Lu, Johanna e Harold) e mais duas filhas argentinas (Lara e Magalí).
Para já, os filhos que mais privaram com ele na infância, expressam a sua dor nas redes sociais pela perda do pai.
“Papá capitão do meu coração nunca vais morrer porque amarei-te até ao último respiro que vou ter” , escreve Diego Júnior, enquanto Dalma se diz “destruída”.
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