Milhares de fãs de Maradona marcharam em Buenos Aires, Argentina, para pedir a condenação daqueles que, segundo os adeptos, provocaram a morte prematura do seu ídolo, e que estão indiciados pela Justiça por negligência médica.
A concentração, na noite de quarta-feira, teve lugar no emblemático Obelisco do Centro de Buenos Aires, onde tradicionalmente os adeptos se reúnem para demonstrar a sua paixão, como aconteceu no campeonato mundial de 1986 ou a 25 de novembro, quando Diego Armando Maradona faleceu.
Cerca de duas mil pessoas empunhavam faixas que reproduziam partes do lema da manifestação: “Justiça por Diego. [Ele] Não morreu; foi morto. Julgamento e castigo aos responsáveis”.
“Estamos aqui para pedir justiça pela morte de Maradona porque ficou demonstrado que todos ao seu redor estavam preocupados com o dinheiro dele; não com a vida dele. Não cuidaram dele. Ninguém se salva”, explicou à Lusa Diego Busemi, de 40 anos, exibindo uma gigante bandeira com a imagem do seu ídolo.
A lista dos sete investigados inclui o médico pessoal de Maradona, Leopoldo Luque, a psiquiatra Agustina Cosachov e o psicólogo Carlos Díaz, além de uma médica coordenadora, de um coordenador de enfermeiros e dois enfermeiros.
Mas a família e os fãs também apontam responsabilidades ao advogado Matías Morla, agente e amigo de Maradona, responsável por todos os contratados e por cada decisão sobre Maradona, tanto a nível financeiro quanto da saúde.
Para os adeptos, não há dúvida: todos devem ser condenados. E a base para essa sentença popular antecipada é a catadupa de áudios que a Justiça obteve dos telemóveis dos indiciados.
Nos áudios, a saúde de Maradona aparecia depois do interesse financeiro. Também conspiravam para que a família ficasse distante e não pudesse retirar-lhes o cuidado médico sobre Maradona.
“Ficou demonstrado, através dos áudios, que ele era roubado pelo advogado, pelo médico, pelo assistente. O único que realmente amava Maradona era o povo”, afirmou Diego Busemi, membro da chamada Igreja Maradoniana que congrega milhares de fiéis adeptos, para os quais Diego Maradona é Deus.
Lorena Cáceres, de 45 anos, nasceu na Villa Fiorito, a mesma favela que viu nascer Maradona. Veste uma t-shirt com o rosto de Maradona, com o ano de nascimento (1960) e, em vez da data da morte, aparece o símbolo de infinito, indicando que, por aqui, Maradona continua vivo como o Deus do futebol. Aliás, na t-shirt, aparece “D10s”, uma combinação de “Dios” em espanhol com o número 10 da camisola que Maradona envergava.
“Queremos justiça para Diego. Sabemos que o mataram. Ele deveria estar agora connosco, aqui entre nós. Nada nos devolverá Diego, mas devem ir todos presos. O médico [Leopoldo Luque] deveria perder o direito de exercer medicina”, sentenciou Lorena.
Na segunda-feira, uma comissão médica, criada pela Justiça, começou a trabalhar e, durante duas ou três semanas, vai avaliar se a prestação de cuidados a Maradona foi deficiente. São vinte peritos, metade oficiais, metade indicados pelas partes. O resultado da perícia pode levar os indiciados à acusação de “homicídio culposo”.
“Independentemente da Justiça legal, deve haver justiça social. Defenderemos Diego até à nossa morte”, avisou Lorena. E explicou: “Diego foi o único que deu alegria aos argentinos. Depois da Guerra das Malvinas, Diego devolveu-nos a alegria. Morreram os nossos soldados, mas ele trouxe-nos a alegria”.
“Acreditamos em homicídio doloso [com intenção]; não culposo. O que foi revelado, através dos áudios, é apenas 1 ou 2% de todas as provas contundentes do processo. Há muitas evidências de como roubaram Maradona e de como deixaram que ele morresse. É o suficiente para irem todos presos. São assinaturas falsificadas, histórias clínicas adulteradas. Não ficarei em paz enquanto não forem todos presos”, diz o advogado Mario Baudry, representante de Diego Fernando, de oito anos, filho de Maradona com Verónica Ojeda, de quem o advogado é namorado. Todos eles marcaram presença na marcha.
“Queremos que Diego possa descansar em paz. Deixaram-no abandonado e combinaram uma história para se livrarem. Um bando de sanguessugas. Queremos justiça até as últimas consequências e não vamos parar até conseguir”, advertiu Maria Luque, de 53 anos, esclarecendo que o seu apelido nada tem a ver com o do médico investigado.
Ao seu lado, o seu irmão Marcelo Luque, de 50 anos, desabafou: “Tenho raiva. Tenho muita raiva. Mataram Maradona. Não vamos parar até todos serem presos”, afirmou enquanto mostrava as tatuagens do ídolo pelo corpo.
A marcha por Maradona começou e terminou com incidentes. Quando chegaram Dalma e Gianinna, filhas de Maradona com a sua primeira esposa, Claudia Villafañe, também presente na marcha, uma multidão de fãs e de jornalistas correu até às três. Todos queriam estar perto delas.
As três tiveram de correr e refugiar-se num hotel, tamanha a quantidade de gente que os guarda-costas não conseguiram conter.
No final da manifestação, houve mais correria, com a polícia a intervir devido à grande quantidade de vítimas de roubos de telemóveis e câmaras, tanto de jornalistas quanto de outros adeptos. Várias pessoas foram detidas.
Diego Armando Maradona, de 60 anos, morreu a 25 de novembro, na consequência de um “edema agudo de pulmão secundário a uma insuficiência cardíaca crónica aguda”. No coração também havia uma “miocardiopatia dilatada”.
O exame toxicológico revelou ausência de álcool e de drogas ilegais, apesar de, nos áudios, aparecer que os enfermeiros davam regularmente álcool e marijuana para se livrarem do comportamento próprio de um dependente químico.
[sc name=”assina” by=”ZAP” source=”Lusa” ]
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