Mesmo sem adeptos, equipas de futebol mantêm vantagem ao jogar em casa

Um novo estudo realizado durante a pandemia da covid-19 sugere que o apoio dos adeptos no estádio não é um fator chave quando se fala da vantagem de jogar em casa.

Há muito que os investigadores se debruçam sobre a suposta vantagem de jogar em casa, que pode ser influenciada por fatores como, por exemplo, o apoio dos adeptos, a fadiga associada à viagem da equipa adversária, a familiaridade e a territorialidade. No entanto, nunca se chegou a nenhum forte consenso.

O aparecimento do novo coronavírus, e a consequente proibição de ter público nos estádios, deu aos cientistas a oportunidade ideal para medir o impacto do apoio dos adeptos.

Por isso, conta o jornal The Guardian, uma equipa de investigadores decidiu comparar mais de mil jogos profissionais disputados sem público nas bancadas e mais de 35 mil partidas com adeptos. Os confrontos, que ocorreram entre as épocas de 2010-11 e 2019-20, foram disputados em dez ligas profissionais, incluindo as de Espanha, Inglaterra e Alemanha.

No estudo, publicado a 31 de março na revista científica PLOS One, os cientistas exploraram o impacto dos espetadores em quatro grandes categorias, incluindo a vantagem em casa (medida pelo número de golos marcados e pontos conquistados) e sanções disciplinares (medidas por faltas, cartões amarelos e vermelhos).

De acordo com o diário britânico, sem os milhares de adeptos a torcer pelas equipas, a vantagem em casa caiu cerca de um terço, mas, apesar disso, a queda não foi estatisticamente significativa.

Matthias Weigelt, professor da Universidade de Paderborn e um dos autores do estudo, que tem lugar cativo no estádio da equipa alemã Arminia Bielefeld, disse ter ficado surpreendido com as descobertas.

“Sempre tive a convicção de que estar nos jogos e torcer pela equipa mudava alguma coisa, nem que fosse às vezes. Mas o que é que podemos fazer? É ciência e o grande conjunto de dados, dos mais de 40 mil jogos que foram considerados para o estudo, não pode ser ignorado. O apoio social não parece ser um fator chave na vantagem de jogar em casa”, declarou.

Em circunstâncias normais, as equipas da casa recebem menos sanções disciplinares e são capazes de criar mais ações ofensivas do que as visitantes. Mas, em linha com pesquisas anteriores, os cientistas descobriram que a diferença nas sanções disciplinares desaparecia – ou era até ligeiramente revertida – quando os adeptos não estavam nas bancadas.

Segundo escreveram os autores deste estudo, isto sugere que a presença dos espetadores provavelmente seria a única ou predominante razão para o comportamento tendencioso do árbitro.

“Se uma equipa me perguntasse o que poderia fazer para ganhar vantagem, teria de dizer para colocar o máximo de pressão social possível sobre o árbitro. O problema é que isso não é fair play, logo, não quero mesmo estar a dizer isso. Embora eu ache que seja verdade e é o que está em causa neste estudo”, disse o autor principal do estudo, Fabian Wunderlich, da Escola Superior de Desportos da Alemanha.

O investigador destaca, porém, que continua a não ser claro quais são os principais impulsionadores da vantagem em casa e que, nesta pesquisa, o video-árbitro (VAR) ainda não foi considerado na análise.

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