Rajada final garantiu vitória lusa na estreia. Ronaldo a bisar e a quebrar três recordes. Todos os jogos da primeira jornada. Visto da Linha de Fundo.
A paciência tem limites
- Hungria 0 – 3 Portugal (Raphaël Guerreiro 84′, Cristiano Ronaldo 87′ e 90+2′)
As bandeiras portuguesas voltaram às varandas e janelas. Esplanadas e praças apinhadas de gente. Depois de Paris 2016, começou a viver-se mais um sonho. Olhos postos no ecrã, ouvidos à escuta e corações a palpitar, os relatos da rádio aceleram emoções.
Portugal entrou a mandar, com posse e circulação de bola constante, ficando evidente que pela frente o adversário trazia o plano para o jogo bem acertado. Os húngaros encolheram-se, fechavam os caminhos da sua baliza. Portugal insistia, a Hungria resistia. A ideia era simples: defender bem e com muitos, depois contra-atacar. Ia tanto resultado.
Sempre superior a equipa lusa tentava de todas as formas descobrir soluções, fazendo um jogo paciente, o tal que nos dá conta dos nervos. O golo estava difícil de alcançar. As oportunidades surgiram, mas eram desperdiçadas. Diogo Jota e Ronaldo falhavam na hora de fazer chegar a bola ao fundo da baliza defendida superiormente por Gulácsi.
Os minutos iam passando e o empate a persistir. Nas redes sociais começava outro jogo, a eterna discussão sobre se jogamos bem ou mal. Pode não ser uma ideia de jogo que deslumbre plateias, mas a equipa mostra segurança e competência.
À disposição de Fernando Santos está um elenco de jogadores brilhantes. Qualidade máxima e soluções para todos os gostos. Quando as coisas de arrastavam para um balde de água fria, o selecionador mexeu na equipa. Momento de ousadia e, finalmente, os golos.
71 minutos. Troca de Silvas. Rafa para o lugar de Bernardo. 81 minutos. Entra Renato Sanchez para o lugar de William Carvalho. A velocidade de Rafa trouxe o que faltava a Portugal, participando nos três golos. Renato acrescentou rebeldia.
Os últimos 10 minutos foram arrasadores. Portugal chegou à vantagem, apenas aos 84 minutos. Após passe de Rafa, remate de Raphaël Guerreiro com a bola a ser desviada por um defesa e a trair Gulácsi. Estava feito o primeiro golo.
Depois foi a vez de surgir Cristiano Ronaldo. Aos 87 minutos, Rafa é empurrado na área. Ronaldo converte a grande penalidade.
Já em tempo de compensação, aos 90+2′, notável capacidade de circulação de bola, com a jogada a terminar com Rafa a assistir CR7, o capitão soltou-se de marcação, fintou o guarda-redes húngaro e fez o 0-3. O jogador da Juventus tornou-se o melhor marcador em Europeus e o primeiro a alinhar em cinco fases finais. Mas não é tudo. Chegou aos 106 golos por Seleções, ficando apenas a três golos do máximo registado por Ali Daei (109).
Foram dez minutos diabólicos, toda a equipa liga e ousada. A velocidade de Rafa e o futebol selvagem de Sanchez transfiguraram a Seleção e deram vida a Ronaldo. A paciência tem limites. Depois de algum sofrimento, onde pairou um cenário cinzento, o jogo ficou resolvido. Venha a Alemanha.
Rui Patrício: Primeira intervenção aos 37 minutos, a defender uma cabeçada de Szalai, que voltou a ameaçar aos 50 minutos. Depois anulou um remate de Sallai aos 57 minutos. Viu a bola dentro da baliza, mas foi salvo por um fora de jogo de Schon. Esteve seguro. Cumpriu nas raras vezes que foi chamado a intervir.
Nélson Semedo: Travou muitos duelos e levou a melhor quase sempre. Muito ativo no corredor direito, rigoroso a defender e afoito no ataque. Faltou melhor acerto nos cruzamentos.
Rúben Dias: Concentrado, mostrou mais uma vez que é um central de classe elevada.
Pepe: Por ele não passa nada. Mais uma exibição de gala, voltando a evidenciar o que ainda é: um dos melhores do Mundo. E quase conseguir marcar. Notável.
Raphael Guerreiro: Mais contido do que Nelson Semedo, sempre que surgiu na área adversária, conseguiu provocar desequilíbrios. No lugar certo no momento certo… fez o primeiro golo e quebrou o enguiço.
Danilo Pereira: Varreu tudo o que apareceu pela frente. Absoluto controlo posicional e astucia.
William Carvalho: Cumpriu a missão, fazendo o que era esperado.
Bruno Fernandes: Demorou a aparecer no jogo, mas assim que engrenou, trouxe velocidade e descobriu espaços. Perto do intervalo assistiu Ronaldo, mas o capitão falhou como não costuma ser hábito. Quase conseguia marcar com uma remate fora da área, umas das suas especialidades.
Diogo Jota: Mostrou personalidade. Muito rematador, dispôs de três ocasiões para marcar. Depois de uma boa primeira parte… foi-se apagando.
Bernardo Silva: Uma das mais apagadas exibições da equipa lusa. Escondido no jogo, não conseguiu mostrar a habitual fantasia com que trata a bola.
Cristiano Ronaldo: Bis e mais três recordes: tornou-se o melhor marcador em Europeus e o primeiro a alinhar em cinco fases finais. Mas não é tudo. Chegou aos 106 golos por Seleções, ficando apenas a três golos do máximo registado por Ali Daei (109). A fera acordou.
Rafa Silva: Foi o grande agitador do jogo. Aposta certeira de Fernando Santos. Esteve nos três golos. Foi dele o passe para o primeiro golo, depois sofreu o penálti que permitiu a Ronaldo fazer o segundo e ainda foi o protagonista da tabela primorosa para CR7 fazer o terceiro. Entrada decisiva no jogo.
Renato Sanches: Mais um agitador. Mostrou coragem e imprimiu mais voltagem à equipa.
André Silva: Pouco tempo em jogo e sem qualquer oportunidade para mostrar serviço. Limitou-se a ser mais uma preocupação para a defensiva húngara.
João Moutinho: Entrou já com tudo resolvido, foi um elemento fresco para cortar qualquer tentativa adversária.
Destino: Wembley
Grupo A
Turquia – Itália (0-3)
Excelente estreia da equipa italiana. A Itália foi sempre dominante. Muitas oportunidades e remates. Procura constante de soluções para marcar. Triunfo indiscutível. A Turquia acabou o jogo sem qualquer remate enquadrado com a baliza de Donnarumma. Veni, vidi, vici (Vim, vi e venci).
País de Gales – Suíça (1-1)
Surpresa. A “Geração de Ouro” hélvetica com Granit Xhaka, Xherdan Shaqiri ou Haris Seferovic não desiludiu, mas desperdiçou várias oportunidades para sair da Baku com a vitória. Só à conta de Seferovic, teve aos 27, 41 e 45 minutos, ocasiões para marcar, mas sempre com o mesmo desfecho: bola ao lado. Quanto aos aguerridos galeses mostraram que podem criar mais dificuldades do que o esperado.
Grupo B
Dinamarca – Finlândia (0-1)
Jogo difícil de esquecer, onde todos foram vencedores. Minuto 43. O dinamarquês Christian Eriksen caiu inanimado no relvado. Seguiram-se momentos dramáticos, após vários minutos de assistência médica, o médio de 29 anos recuperou os sentidos. Rápida intervenção médica a conseguir o golo desejado.
Foi também o dia que marcou a estreia feliz da Finlândia em grandes competições. Três dias depois de ter deixado o mundo em choque, Christian Eriksen voltou a sossegar os adeptos e todos os seus fãs.
Através de uma mensagem partilhada nas redes sociais, acompanhada de uma foto, o internacional dinamarquês agradece todo o apoio, “muito obrigado pelas vossas amorosas e fantásticas mensagens de todo o mundo. Significa muito para mim e para a minha família. Estou bem, dentro das circunstâncias. Ainda tenho de realizar alguns exames no hospital, mas sinto-me OK. Agora vou apoiar os rapazes na equipa da Dinamarca nos próximos jogos.” Força, Eriksen.
Bélgica – Rússia (3-0)
Golos e amor. Triunfo categórico dos belgas, num jogo demolidor de Lukaku, assinando um bis e na celebração do primeiro golo agarrou uma câmara e anunciou: “Chris, I love you!”, numa mensagem para colega de equipa no Inter, Christian Eriksen. Gesto gigante, proporcional à exibição de Lukaku. Quanto à Rússia revelou ter ainda alguns problemas a resolver, principalmente a nível defensivo. Entrada em grande estilo dos belgas, uma das seleções a continuar a seguir com atenção na prova
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Grupo C
Áustria – Macedónia do Norte (3-1)
Estreia dos macedónios numa fase final de um Campeonato da Europa e a primeira vitória austríaca, à terceira participação, neste patamar da prova. Foi um jogo em que as duas seleções deram tudo, criando dificuldades uma à outra. Na teoria não seria dos duelos mais apelativos, mas na prática, ou seja no relvado, tudo foi diferente, acabando por resultar num jogo entusiasmante.
Países Baixos – Ucrânia (3-2)
Espetacular! Jogo intenso, emocionante até ao apito final, com cinco golos numa segunda parte de grande nível. Os holandeses foi quase sempre dominante. Chegou aos dois golos de vantagem. Os ucranianos reagiram e chegaram ao empate. Denzel Dumfries foi a grande figura da partida ao resgatar a vantagem aos 85 minutos. Venceu com mérito a seleção laranja. Acordou tarde a Ucrânia, muitas cautelas, dando muito tempo de avanço ao adversário. Tem equipa para fazer mais e melhor.
Grupo D
Inglaterra – Croácia (1-0)
Pela primeira vez na história, a Inglaterra ganhou o jogo de abertura de um Europeu e logo frente à vice-campeã do Mundo. Não foi uma partida vibrante, embora bem disputada, em que a vitória assenta bem à seleção orientada por Gareth Southgate. Quanto à Croácia, tem potencial e qualidade, mas não foi capaz de a revelar no jogo de estreia.
Escócia – República Checa (0-2)
Jogo marcado pelo momento sublime de Patrik Schick. Depois de ter apontado o primeiro golo, o avançado do Leverkusen, teve um rasgo de talento que irá ficar para a história dos Campeonatos da Europa, ao fazer um chapéu a David Marshall quase do meio-campo!!! Que grande momento. Os checos foram melhores, vencendo bem o jogo. Os escoceses foram uma desilusão.
Grupo E
Polónia – Eslováquia (1-2)
Entrada em falso dos polacos na estreia de Paulo Sousa. A Eslováquia conseguiu surpreendeu a Polónia, apresentando-se coesa e objetiva. Os polacos foram um desastre a defender. Nem a estrela Lewandowski apareceu no jogo. Saiu tudo ao contrário para a seleção orientada pelo treinador português. “Estou muito desapontado, toda a equipa está desanimada, porque não podemos perder um jogo desta forma”, referiu Paulo Sousa. Está tudo dito, e bem dito.
Espanha – Suécia (0-0)
Primeiro jogo sem golos. Espanha dominante, mas sem inspiração na hora de finalizar. Ouviram-se assobios dos adeptos, com Morata a ser um dos mais visados. “À Espanha falta golo e sobram estúpidos”, escreveu Carlos Carpio, sub-diretos do diário desportivo Marca. A equipa sueca cumpriu com rigor a missão defensiva, sendo premiada com um ponto. Faltou alguma da característica fúria espanhola. Luis Enrique mexeu tarde no jogo. Para o próximo tem um dilema para resolver. Morata ou Gerard Moreno, eis a questão.
Grupo F
França – Alemanha (1-0)
Fantástica 1.ª parte dos franceses, mostrando qualidade e dando razão a tantos os que apontam os gauleses como a principal equipa a vencer a competição. Mais contida na 2.ª parte, aguentou a poderosa pressão germânica. O campeão do Mundo teve mestria e revelou capacidade de sofrimento. Um belo duelo de gigantes resolvido com um autogolo. O central Hummels foi infeliz ao tentar anular um cruzamento de Lucas Hernandéz, após um excelente lance de ataque francês com o sensacional Pogba a baralhar a defesa germânica com uma trivela para a esquerda. Pogba esteve endiabrado.
[sc name=”assina” by=”Teófilo Fernando, ZAP” ]
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