Jornalista analisou o “jogo burocrático” da seleção portuguesa e criticou a presença da política no futebol português.
Não vê jogos pela televisão, acha que o futebol é catalisador de muita coisa e quase passava ao lado do Euro 2020. Mas Rui Miguel Tovar tem algo a dizer sobre o torneio: “Em Europeus e Mundiais, quanto mais surpresas, melhor. Gosto de elementos fora do comum“.
O jornalista não gosta do estilo de jogo de Portugal, que no entanto funcionou no Europeu 2016: “A seleção, a jogar desta maneira (e isto já acontecia em 2016), não me dá muito gozo. Não me dá muito gozo defender um mau jogo, defender um jogo burocrático”.
E o que é um jogo burocrático? “É um jogo muito chato, previsível, sem arriscar. A nossa seleção, se fosse um aluno da escola, seria um aluno para nota 19 e tira sempre 12, para fugir à oral. Deixa-me nervoso não explorar todas as nossas qualidades – e temos imensas qualidades humanas e técnicas. Temos muitos jogadores bons, jogadores que jogam no mesmo clube e que, portanto, poderiam funcionar melhor… Essas questões não foram devidamente exploradas neste Europeu e foi uma pena”, respondeu, no programa Era o que faltava, na Rádio Comercial.
A sua carreira no jornalismo desportivo começou há mais de 25 anos mas, atualmente, as palavras não são muito simpáticas para este mundo: “O jornalismo desportivo tem piorado, já não sigo um jornal desportivo há muitos anos“.
“Quando trabalhava no Record, já não era adepto daquele Record. Já estava um bocado entediado com tudo aquilo. Já não era o jornal dos anos 90. Quando entrei, o jornal era uma família, não pertencia a uma empresa, como agora. O jornal é agora totalmente administrativo, perdeu-se a ligação familiar que havia entre jornalistas e entre todos os funcionários do jornal. O jornalismo tornou-se mais impessoal, tornou-se um jornal mais chato, começou a haver mais picardias, um ambiente mais agressivo. E desinteressei-me”, explicou.
Rui Miguel Tovar prolongou as críticas, centrando-se na escrita: “O que me chateia no jornalismo desportivo é a escrita. É estarmos há 40 anos a falar dos «dragões», dos «leões», dos «encarnados», do «teatro dos sonhos», dos «special one»… Acho que é uma seca. Tudo é uma seca. Parece que não há vontade de mudar, aquilo é chapa cinco. Isso chateia-me”.
“Eu vejo lógica falar do «leão» quando o Sporting é campeão. Pronto, começar um texto com «O leão voltou a ser o rei da selva» – acho isso interessante, acho engraçado. Agora, os «leões» todas as semanas, todos os jogos… Não. Acho entediante”, lamentou o jornalista.
Tovar também não gosta de ver a ligação contínua (e antiga) entre futebol e política: “A política está de braço dado com o futebol. Salazar aproveitou-se disso, e muito bem. E agora, num registo diferente, mas igualmente não tão limpo como isso, é muito intrigante. Não gosto de ver políticos no futebol. Não acho que o presidente da República tenha de entregar a Taça de Portugal, não vejo o porquê de um político estar na bancada a ver um jogo de seleção. Não é uma obrigação. Há assuntos de Estado mais importantes para tratar”.
Rui Miguel Tovar centrou-se temporariamente noutras modalidades para escrever o livro Os nossos heróis do desporto. Uma publicação com muitas ilustrações, destinada sobretudo – mas não só – ao público infantil, e com a qual o jornalista apercebeu-se de que “demasiada gente que não tem o reconhecimento que merece”, no desporto em Portugal.
[sc name=”assina” by=”Nuno Teixeira, ZAP” ]
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