Atletas que testem positivo à Covid-19 são automaticamente afastados da competição e têm de cumprir uma quarentena de 14 dias fora da aldeia olímpica. Com o número de infetados a subir, atletas temem efeito dominó antes da competição terminar.
Após o adiamento de um ano, a realização dos Jogos Olímpicos (JO) de Tóquio esteve envolta em incertezas quase até à cerimónia de abertura face à situação epidemiológica que a capital do Japão vive atualmente — esta semana foi registado na cidade um novo recorde de casos diários, mais de 3 mil.
Mesmo assim, o comité olímpico organizador insistiu em avançar com a competição, assegurando à população local — que se manifestou nas ruas contra a realização do evento — que os desportistas iriam permanecer na aldeia olímpica e que a sua presença não constituiria um risco acrescido para a saúde pública.
Na mesma linha, foi anunciado que os atletas iriam ser submetidos a um regime rigoroso de testes e, na eventualidade, de uma infeção se confirmar, o indivíduo em causa teria que cumprir uma quarentena fora da aldeia olímpica, com confinamento total, ou transferidos para uma unidade hospitalar.
Agora, os atletas que se viram nesta posição estão a denunciar, através das suas delegações, as condições em que o isolamento está a decorrer. Esta semana, o comité olímpico dos Países Baixos, que conta com seis elementos infetados, revelou que os infetados estão isolados em “quartos muito pequenos, sem ventilação ou acesso a luz do dia”, aponta o site RFI.
Num vídeo partilhado através do Instagram, a skater Candy Jacobs, também dos Países Baixos, revelou que oito dias após o primeiro resultado continua a testar positivo. “Precisamos de ar livre. As janelas estão fechadas, as portas nunca abrem. Isto não está correto”, afirmou na gravação. Candy afirma ter sido sujeita a uma “verdadeira batalha a nível mental“, pelo que agora vai “precisar de tempo para recuperar, fisicamente e mentalmente” — entretanto a atleta já deixou o hotel porque cumpriu o período de quarentena.
O Comité Olímpico Internacional, através da representante dos atletas, Kirsty Coventry, lembrou que Candy não foi a única atleta a queixar-se das condições dos quartos destinados ao isolamento, mas salientou que o governo japonês é que trata desses processos. “Temos trabalhado muito perto do comité organizador dos Jogos Olímpicos para melhorarmos as experiências dos atletas. Os centros de quarentena e os hotéis são da responsabilidade do governo japonês”, assegurou.
A lutadora de taekwondo Reshmie Oogink, proveniente do mesmo país, afirmou que os atletas só estão autorizados a sair dos quartos para ir buscar comida, que é “todos os dias a mesma”. Também através de vídeo, mostrou uma figura humana feita através dos seus acessórios desportivos deitada na sua cama, a qual classificou como “o novo detido da prisão olímpica”.
O descontentamento dos atletas dos Países Baixos levou-os a organizar um protesto no átrio do edifício onde cumprem isolamento, onde permaneceram imóveis durante sete horas. O grupo foi autorizado a abrir as janelas dos quartos durante 15 minutos por dia.
Teme-se efeito dominó
Apesar das medidas restritivas implementadas — para além dos atletas, não é permitida a presença de público nas bancadas e o país encontra-se praticamente fechado a visitantes estrangeiros —, a organização dos Jogos Olímpicos mal pode esperar pelo fim da competição. É que a cada que passa, novos casos de infeção por Covid-19 são detetados, temendo-se um “efeito dominó” entre atletas.
Os dados mais recentes apontam para 198 casos positivos entre indivíduos acreditados, ou seja, atletas, equipas técnicas e restantes membros das delegações. Um dos casos mais recentes e badalados é o de Sam Kendricks, saltador com vara norte-americano, tido como favorito ao ouro. A notícia foi avançada pelo pai do atleta nas redes sociais.
Pouco tempo depois, outro saltador com vara, Germán Chiaraviglio, de nacionalidade argentina, também desistiu da competição após testar positivo. Na sequência destes resultados, vários membros das equipas de atletismo da Austrália foram colocados em isolamento durante algumas horas — até a organização comprovar o nível de exposição a que estiveram sujeitos.
Chiaraviglio, campeão sul-americano em título, afirmou nas redes que a situação que atravessa atualmente “é muito difícil de processar”. “De certeza que vou precisar de muito tempo para o conseguir fazer. Nós sabíamos que estes JO iriam ser diferentes e iriam ter diferentes regras, e aqui estou eu, é a minha vez“, escreveu.
Mondo Duplantis, campeão europeu do salto com vara, passou pela sala de conferência de imprensa na vila olímpica, onde comentou a situação “muito assustadora” com os jornalistas presentes. “Há uma hora eu estava a preparar-me para uma grande batalha com o Sam. Ele é um dos meus principais rivais e alguém que me iria desafiar na final”, disse o atleta nascido nos Estados Unidos naturalizado sueco. “Estou um bocado chocado. Parece que, de alguma forma, ele ainda vai conseguir competir”, confessou
Duplantis também revelou que não teve nenhum contacto com Kendricks, mas que irá ter precauções extra antes da competição do salto com vara ter início. “Não irei fazer coisas que não tenha necessariamente de fazer. Vou comer e vou treinar. Vou tentar não fugir disso e não fazer algo que me possa deixar em risco de apanhar Covid, disse, citado pelo The Guardian.
De acordo com as diretrizes transmitidas às delegações, qualquer atleta que este positivo deverá permanecer no seu quarto durante 14 dias antes de poder regressar ao seu país.
[sc name=”assina” by=”Nuno Teixeira; ARM” ][/sc]
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