Jacobs, o americano 100% italiano que quase não fala inglês

Marcell Jacobs vence final dos 100m nos Jogos Olímpicos de Tóquio

O atleta mais rápido nos Jogos Olímpicos foi Marcell Jacobs, que nasceu nos Estados Unidos da América mas viveu (quase) sempre em Itália.

Lamont Marcell Jacobs Jr. não estava entre os maiores favoritos à conquista da medalha de ouro nos 100 metros masculinos, no atletismo. Mas conquistou. Foi o atleta mais rápido dos Jogos Olímpicos de Tóquio e é o sucessor da “lenda” Usain Bolt.

O italiano protagonizou uma vitória surpreendente, com margem clara para os adversários – Fred Kerley e Andre De Grasse completaram o pódio – e com direito a recorde da Europa: 9.80 segundos. O mínimo anterior pertencia… a Marcell Jacobs, que horas antes tinha corrido a mesma distância em 9.84 segundos, na última meia-final (na qual foi apenas terceiro classificado).

Antes dos dois registos deste domingo, o recorde europeu pertencia ao português Francis Obikwelu, que na final dos Jogos Olímpicos 2004 registou 9.86 segundos em Atenas. Mais tarde, Jimmy Vicaut igualou esses números, duas vezes.

O recorde do francês Vicaut continua a ser o melhor registo de sempre, nos 100 metros, de um atleta nascido na Europa. Francis Obikwelu nasceu na Nigéria e Marcell Jacobs nasceu nos Estados Unidos da América.

Percurso do campeão olímpico

No dia 26 de setembro de 1994, em El Paso, no estado Texas, nasceu Lamont Marcell Jacobs Jr., filho de uma mãe italiana: Viviana Masini, que só tinha 18 anos quando o seu filho nasceu. O seu pai é norte-americano e era um soldado na altura.

Jacobs só esteve no Texas durante três semanas; o seu pai foi então transferido, em serviço militar, para a Coreia do Sul – mas Viviana voltou para Itália, para Desenzano del Garda, levando também o seu filho. “Ele cresceu sem pai. Eu era mãe e pai. Era uma vida muito difícil”, contou Viviana Masini. Jacobs só falou com o seu pai no ano passado.

Marcell Jacobs nasceu nos Estados Unidos da América mas o próprio confessou que nem sabe falar inglês muito bem, já que cresceu a falar sempre italiano. E assegurou que se sente “100% italiano”.

Aos 10 anos começou a praticar atletismo em Itália, primeiro só em corridas de velocidade e mais tarde no salto em comprimento. Foi a partir dos seus 21 anos, em 2016, que começou a dar nas vistas: nesse ano foi campeão italiano do salto em comprimento.

Também em 2016 foi campeão mediterrânico dos sub-23, no salto em comprimento. Mas, enquanto sénior, nunca tinha conquistado um grande título internacional até 2021. Nem no salto em comprimento, nem nos 100 metros. Nos últimos Europeus e nos últimos Mundiais de atletismo, nem chegou à final dos 100 metros, em nenhum dos dois eventos.

“Já perdi muitas vezes e isso ajudou-me muito”, viria a explicar.

Em março deste ano chegou ao topo da Europa. Foi campeão europeu em pista coberta, nos 60 metros, mas isso não o colocava no pódio dos favoritos para a final dos 100 metros de Tóquio. O próprio Jacobs sabia que dificilmente iria vencer uma corrida ao lado dos já referidos Fred Kerley e Andre De Grasse, e ainda de Ronnie Baker, Su Bingtian ou Akani Simbine.

“Ontem à noite eu estava a jogar PlayStation com o Gianmarco Tamberi (campeão olímpico no salto em altura, poucos minutos antes) e ainda colocámos a hipótese de os dois sermos campeões olímpicos no dia seguinte. Mas, logo a seguir, dissemos que era impossível, era melhor nem pensar nisso”, contou o novo rei da velocidade.

[sc name=”assina” by=”Nuno Teixeira, ZAP” ]


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