Karsten Warholm é um recordista olímpico e mundial chateado com a Nike

O velocista norueguês Karsten Warholm, recordista mundial e campeão olímpico após os 400m barreiras em Tóquio

Atleta norueguês acredita que a tecnologia incorporada pela gigante norte-americana contribui para a descredibilização do atletismo, já que dá aos atletas uma sensação de corrida semelhante a um trampolim.

“A melhor corrida da história olímpica.” “Uma das melhores prestações da história do desporto.” “A corrida perfeita.” “Assombroso.” Foram estas algumas das palavras usadas para descrever a prestação de Karsten Warholm nos 400 metros barreiras, onde o norueguês voltou a baixar a marca (45.94 segundos) que o próprio estabeleceu já este verão depois do recorde mundial de Kevin Young ter vigorado durante 29 anos.

Quando cruzou a meta, os olhos do atleta procuraram desesperadamente pelo relógio, seguindo-se imagens que nos remetem para filmes de gladiadores ou super-heróis. Perante a constatação do feito, um grito de guerra fez-se ouvir na pista do estádio de Tóquio e um equipamento foi rasgado em pedaços.

Segundo Warholm, os últimos 20 metros da histórica prova — comparada aos 100 metros de Usain Bolt em Pequim — foram corridos sem que conseguisse “sentir as pernas”. “Corri pela minha vida“, disse após a corrida.

Logo atrás vinha Rai Benjamin, dos Estados Unidos da América, que completou a prova em 46.17 segundos, conquistando assim a medalha de prata. Sobre o adversário e a corrida que ambos tinham acabado de fazer, o norte-americano só tinha aspetos positivos a destacar. “Foi fenomenal. Desfizemos em pedaços o antigo recorde. Se alguém me tivesse dito que eu iria correr em 46.17 segundos e ia chegar em segundo, provavelmente teria dado uma sova a essa pessoa”, disse.

“Este miúdo é fantástico” — disse, referindo-se a Warholm — “não se pode ficar chateado com o que aconteceu”, atirou o norte-americano. “Como adversário, magoa. Ontem à noite não conseguia dormir, havia dez milhões de sentimentos diferentes no meu quarto.”

Sobre a relação entre os dois, Benjamin referiu que se davam “bem“, mas que não falavam com frequência. Talvez porque entre o norueguês e o norte-americano há uma discordância quase do tamanho do oceano que separa os países onde nasceram e que tem que ver com o calçado usados por Benjamin, e outros atletas, nestes Jogos Olímpicos.

Em causa está o modelo de sapatilhas que a gigante norte-americana Nike providenciou aos atletas por si patrocinados que se distinguem das demais pelos super espigões que têm na sola e que, segundo o The Guardian, incorpora uma espessa placa de espuma de pebax super-responsiva.

Segundo Karsten Warholm, a novidade é uma “treta” que pode até trazer consequências para a modalidade. “Se meteres um trampolim lá [na sola das sapatilhas], eu acho que é uma treta e tira a credibilidade do nosso desporto.” O campeão olímpico e recordista mundial chegou mesmo a dizer que o adversário “correu no ar”. “Ele tem aquelas coisas nos sapatos que eu odeio”, disse.

“Não vejo por que motivo se deve por alguma coisa por baixo de uma sapatilhas de velocidade. Se estivéssemos a falar de distâncias médias poderia perceber por causa amortecimento. Se o quiseres, podes sempre acrescentar algum acolchoamento na sola. Mas se adicionares um trampolim eu acho que é uma treta”, reforçou.

Nike

Ainda sobre o tema, o velocista norueguês tratou de explicar aos jornalistas o processo de desenvolvimento e produção dos espigões das suas próprias sapatilhas (Puma), que o levou a trabalhar com a Mercedes-AMG, equipa do mundial de Fórmula 1.

“Sim, têm placas de carbono. Mas tentamos fazê-los o mais finos possível. Porque é dessa maneira que eu gosto. Claro que a tecnologia vai estar sempre presente, mas acho que é importante moderarmos o seu uso a um nível em que é possível comparar resultados porque isso é importante.”

A culpa também pode ser da pista — e dos adversários

Questionado pela sua própria prestação e como justificava uma marca tão histórica, Warholm juntou-se a outros velocistas e fundistas que já tinham destacado a pista super rápida de Tóquio. “É de loucos. É uma pista incrível que me dá sensações semelhantes à que foi usada nos Mundiais de 2017, em Londres — e que já tinha sido usada para as olimpíadas de 2016 —, onde consegui a minha primeira vitória”, relembrou.

Finalmente, o novo recordista mundial e campeão olímpico destacou também o papel dos adversários. “Não foi só a pista [a ter impacto no desempenho], também foram os outros rapazes que se pressionaram entre si.”

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