“Estamos aqui porque o ex-presidente foi preso”. 20 anos depois, o Benfica teve um debate entre candidatos

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Rui Costa e Francisco Benitez protagonizaram, esta quinta-feira, o primeiro debate entre candidatos à presidência do Benfica nas últimas duas décadas, em vésperas do ato eleitoral agendado para sábado.

O frente-a-frente entre Rui Costa e Francisco Benitez, que decorreu na BTV, foi o primeiro desde outubro de 2000, quando o então presidente João Vale e Azevedo esgrimiu argumentos com o candidato Manuel Vilarinho, que viria a vencer as eleições de 31 de outubro desse ano.

Duas décadas depois, foi possível ver e ouvir um debate entre candidatos, que reforçaram as ideias que constam dos respetivos programas eleitorais e não recusaram alguns momentos mais quentes.

“Este debate é um momento histórico. Estamos aqui porque o ex-presidente foi preso. Caso isso não tivesse acontecido não estávamos aqui. E foram crimes graves para o Benfica”, fez questão de frisar Francisco Benitez.

“Vieira diz que não assinou sozinho, que há mais gente, portanto estes casos podem voltar a acontecer. Domingos Soares de Oliveira e Miguel Moreira estão implicados também. Ao contrário de Vieira e Gonçalves que abandonaram, e muito bem, outros estão na lista de Rui Costa e isso assusta-me”, disse ainda.

O atual presidente, por sua vez, declarou que “há processos em curso e que ninguém pode fugir deles” e que, para já, “o Benfica não foi acusado de nada”.

Luís Filipe Vieira saiu por questões pessoais e não questões do Benfica. Disse que contava com Domingos Soares de Oliveira. Até à presunção de inocência, todos têm a oportunidade de se defender. Esteja quem estiver, vai ter de assumir a responsabilidade de lidar estes processos. Quero que daqui para a frente acabem os processos.”

“O Benfica já está a fazer uma auditoria forense. Anualmente, o Benfica é auditado, todas as empresas são auditadas manualmente. Estou disponível para fazer todas as auditorias necessárias. Quero que os adeptos tenham a plena consciência do que está a ser feito internamente”, disse ainda o ex-futebolista.

Composição da SAD encarnada

Benitez falou de uma das suas principais bandeiras, a composição da SAD encarnada, afirmando que a quer “alterar substancialmente”.

“Temos cinco administradores em que só o candidato da Lista A percebe de futebol. E a SAD vive de futebol, vamos colocar mais dois a três administradores que dominem o negócio do futebol. Pessoas competentes e benfiquistas. Não vou tolerar na SAD e órgãos sociais pessoas que não sejam benfiquistas”, afirmou.

“Depois vamos criar um plano estratégico sobre onde queremos estar dentro de oito anos. Esse plano terá team manager, diretor desportivo, scouting e de futebol de formação. Comigo, os administradores só vão receber prémios quando houver resultados desportivos e financeiros. (…) Eu aposto em equipas, não aposto em pessoas”, acrescentou.

Rui Costa contrapôs, dizendo que vê que “há muita gente a perceber de futebol na Lista B”, mas lembrando também que o “futebol é muito restrito”.

Não ouvi falar de diretor geral, não sei se conhecem a diferença. (…) Esta administração devolveu ao Benfica a potência desportiva e financeira que é hoje, é referência mundial em termos de gestão. Há uma estratégia. Se não houvesse, não tínhamos ganho cinco ligas nacionais em oito anos. Mas há coisas a melhorar”, admitiu.

“Gostava de saber quem são as suas pessoas que vão estar na SAD na sua lista. Já sabemos que são benfiquistas, não sabemos quem são. Está a pedir às pessoas para lhe passarem um cheque em branco. Eu nunca disse que ia gerir o futebol sozinho. Sempre trabalhei em grupo, terei uma equipa que me vai auxiliar naquilo que serão os destinos do Benfica. Não farei nada sozinho. O clube não é meu, a empresa não é minha. Estou a escolher as pessoas que me possam auxiliar em cada área”, referiu o ex-jogador.

Formação encarnada

Entre outros temas, foi também abordada a formação das águias, com Benitez a admitir que “há um legado de Luís Filipe Vieira que temos de reconhecer”, embora considere que se esteja apenas a “formar para vender”.

“Esta formação do Seixal permite-nos formar talentos, mas estamos a formar para vender, tal como compramos para vender. Temos de formar para ganhar. Ao fim de seis meses, temos logo um frenesim para vender um jogador que se destaca. A formação é um caminho de mística e é isso que queremos. Transmitir e recuperar a mística da formação. Os jovens jogadores querem ir para melhores ligas e é aí que o Benfica tem de trabalhar. Se acabar com intermediários e comprar menos, pode aumentar receitas e pagar mais a esses jovens. Se estivermos constantemente nos oitavos e quartos das provas europeias, eles já não querem sair”, considerou.

“Bem haja que alguma coisa foi bem feita. O Seixal não tem apenas a ver com a formação, mas é a casa da equipa principal também. Tem sido feito um trabalho de excelência, com jogadores espalhados pelo mundo inteiro e em quase todos os clubes na Liga. É evidente que há uma porta de entrada para a equipa principal, mas ela tem de ser aberta também pelos jogadores. Temos muitos campeões nacionais saídos da formação. As transferências não têm apenas a ver com o dinheiro que entra, tem a ver com as decisões dos próprios jogadores”, respondeu Rui Costa.

“Segurar os jovens? Lido com eles todos os dias. Não é só aos jogadores da formação do Benfica, o panorama em Portugal é que nós todos não conseguimos dar aos jogadores financeiramente e o estatuto que as Big-5 dão. Independentemente da nossa prestação europeia. O que o jogador pretende é dar o salto. Nós temos de impedir esse processo o maior tempo possível. Isto envolve jogadores, os seus empresários. Falo com conhecimento de causa”, disse ainda.

Equipa de futebol feminino

O atual presidente quis ainda destacar o trabalho que tem sido feito no futebol feminino, considerando que é “um projeto fantástico” e com “um desenvolvimento tremendo”.

“Subimos da segunda divisão, fomos campeões na primeira divisão, entramos na Champions, criámos categorias das sub-9 às sub-13, temos equipa B. É um projeto fantástico, com um desenvolvimento tremendo“, afirmou.

“Temos de criar infraestruturas para albergar as equipas femininas ou com alargamento do Benfica Campus ou com a construção de uma cidade desportiva. É um projeto em mente para o bem do clube face ao crescimento nas modalidades e no futebol feminino a criação de um pólo desportivo para as equipas não jogarem noutros campos e o alargamento do Benfica Campus para que as equipas femininas possam fazer parte do Seixal até estarem estáveis e passarem para a SAD.”

Benitez reconheceu que “é preciso elogiar o trabalho, que tem sido muito bem feito”, mas lembrou que é pena que o clube tenha sido “dos últimos grandes a chegar”.

“Fico contente por admitir que o futebol feminino possa ir para o Seixal. Deve juntar-se ao futebol masculino e entrar no conceito da SAD. O Centro de Alto Rendimento tem de ser uma realidade nos próximos anos. Andamos com a casa às costas, o que é mau. Mas não faz sentido colocar lá o futebol feminino, é duplicar as estruturas do futebol. O futebol feminino conquistou o direito a estar no Seixal. Ampliações do Seixal devem ser feitas, alargar para poder ter o futebol feminino lá faz sentido”, considerou.

Polémica com empresa FootLab

Já no final deste debate, que durou cerca de duas horas, o candidato da lista B aproveitou para referir o facto de a empresa do rival, a FootLab, aparecer no site do Benfica como um dos parceiros.

“Vou ao site e aparece o FootLab como parceiros. Como é possível? O que dizem os estatutos do Benfica é que não pode ter relação nenhuma e diz que tem relação”, atacou.

“A FootLab é parceira do Benfica? A única vez que alguma coisa do Benfica entrou no FootLab foram os campos de férias do Benfica. Está a confundir com uma escola de Linda-a-Velha que paga ao Benfica para lá ir treinar. O FootLab não tem nada a ver rigorosamente com o Benfica”, contrapôs Rui Costa.

“Não andei a rejeitar tudo o que andei a rejeitar para servir o Benfica. Se quiser ponho aqui contratos de administrador com prémios de campeão que nunca recebi por opção própria. Não ia agora sujar as minhas mãos ou enganar o meu clube com comissõezinhas ou alugueres de campo de 60 euros.”

“Nunca me servi do Benfica para nada se não pelo meu amor. É ponto assente. Os benfiquistas que me acompanharam sabem perfeitamente disso. (…) Não estrago a minha relação com o clube por maneira nenhuma, muito menos por uma parceria que poderia render 200 ou 300 euros. Já prescindi de muito dinheiro para servir o Benfica”, reafirmou.

Eleições do Benfica este sábado

As eleições para os órgãos sociais do Benfica para o quadriénio 2021-2025 realizam-se este sábado, com Rui Costa e Francisco Benítez a disputarem a sucessão de Luís Filipe Vieira, que ocupou o cargo de presidente durante quase 18 anos, entre novembro de 2003 e julho deste ano.

Rui Costa, que vinha desempenhando o cargo de vice-presidente, assumiu a presidência do Benfica em julho, na sequência da demissão de Vieira, que foi constituído arguido no âmbito da Operação Cartão Vermelho, por suspeita de vários crimes económico-financeiros.

Já Francisco ​​​​​​​Benitez, principal rosto do movimento Servir o Benfica, foi o primeiro a anunciar a candidatura à presidência dos encarnados, depois de nas eleições anteriores ter desistido para apoiar João Noronha Lopes, que acabou por ser derrotado por Vieira.

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Comentários

Um comentário a ““Estamos aqui porque o ex-presidente foi preso”. 20 anos depois, o Benfica teve um debate entre candidatos”

  1. Avatar de Carlos Mota
    Carlos Mota

    Francisco Benitez foi de um comportamento deplorável, alegando que estava em debate porque o anterior presidente LFV tinha sido preso, não dizendo que isso aconteceu por dívidas pessoais à Banca e não pelo Benfica. Apesar de ir cheio de cábulas não conseguiu explicar aos Benfiquistas quais eram as estratégicas e os planos, apenas se limitando a dizer que as tinha, tanto assim que não esgotou o tempo que lhe estava destinado. Limitou-se a lavar roupa suja do passado sem qualquer prova.

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