César Boaventura é a figura principal da Operação Malapata. O empresário com ligações ao SL Benfica soma negócios polémicos ao longo dos anos.
A Polícia Judiciária (PJ) realizou buscas, esta quarta-feira, nas instalações do Benfica e do Sporting, por suspeitas dos crimes de branqueamento de capitais, fraude fiscal, burla qualificada e falsificação informática.
O empresário César Boaventura foi detido, no âmbito da Operação Malapata. Mas, afinal, quem é César Boaventura e qual o seu envolvimento no processo?
O agente desportivo é suspeito de branqueamento de capitais, fraude fiscal, burla qualificada e falsificação informática.
A PJ está a investigar os negócios de Luca Waldschmidt, Odysseas Vlachodimos, Lisandro López, Nuno Tavares, Gedson Fernandes, Gabigol e Facundo Ferreyra, todos eles intermediados por César Boaventura.
No caso de Nuno Tavares, o empresário entrou recentemente com uma ação em tribunal contra o Benfica, reclamando 800 mil euros que não lhe terão sido pagos.
Através de contas bancárias de ‘testas de ferro’, os detidos “lograram criar um intrincado esquema de faturação/movimentação financeira que ofereciam tanto como veículo de branqueamento para terceiros, prestando assim esse serviço ilícito pelo qual seriam remunerados, como para ocultação dos proveitos gerados da própria atividade legítima dos próprios e de terceiros, nos setores indicados”, explica a PJ.
Até agora, escreve o Jornal de Notícias, a investigação identificou mais de 70 milhões de euros de “movimentos financeiros” e estima que Boaventura tenha lucrado pelo menos 1,5 milhões de euros só com a fuga ao Fisco. César Boaventura não declara rendimentos em Portugal há cerca de dez anos.
O informante português Rui Pinto foi dos primeiros a reagir à sua detenção, através das redes sociais.
“César Boaventura detido por indícios da prática de crimes de fraude fiscal, burla qualificada e branqueamento de capitais. Um esquema que poderá ter movimentado cerca de 70 milhões de euros. Será uma boa altura para reler esta thread“, começou por escrever.
“Em 28 de novembro de 2012 foi criada em São Tomé e Príncipe uma sociedade anónima offshore denominada GIC Corporation SA. Este tipo de sociedades rege-se pelas normas do Decreto-Lei nº 70/95, de 31 de dezembro, conhecido como Regime das Sociedades Anónimas Offshore”, acrescentou Rui Pinto.
César Boaventura detido por indícios da prática de crimes de fraude fiscal, burla qualificada e branqueamento de capitais. Um esquema que poderá ter movimentado cerca de 70 milhões de euros.
Será uma boa altura para reler esta thread. 👇 https://t.co/PSX9mXTejx
— Rui Pinto (@RuiPinto_FL) December 15, 2021
Esta sociedade, acusa o hacker, terá sido utilizada por César Boaventura na “elaboração de um conjunto de contratos que envolveu as SAD do Benfica e do Atlético CP”.
Fundador da GIC Career Management, Boaventura representa menos de uma dezena de futebolistas, segundo o portal Transfermarkt, entre os quais o ex-Benfica Facundo Ferreyra.
Há apenas dois meses, escreve a Tribuna Expresso, César Boaventura criou uma nova empresa em Barcelos, a Louvávelemoção Unipessoal Lda, que foi precisamente uma das entidades alvo de buscas.
Entre outras atividades, a empresa trata da gestão de carreiras de profissionais desportivos, intermediação da compra e venda de passes de profissionais desportivos. É detida por uma empresa inglesa chamada Spartacus Image Rights Limited, que por sua vez pertence a Boaventura.
Esta última foi criada pouco tempo depois da GIC England Ltd, detida então por Boaventura, ser liquidada. Após a dissolução em 2018, o agente rumou à África do Sul, onde constituiu a VCGIC International, juntamente com um outro empresário, Vasili Devin Barbis.
Esta não foi a primeira vez que César Boaventura apostou no continente africano. Através da GIC Corporation SA, com sede em São Tomé e Príncipe, já tinha feito negócios com o Benfica em 2014.
“A sociedade VCGIC INTERNATIONAL, para além dos diretores César Boaventura e Vasili Barbis, teve numa fase inicial como diretor Christian Gouws, advogado responsável pela criação de empresas em massa na África do Sul, através da Shelf Company Warehouse”, expôs Rui Pinto através do Twitter.
A sociedade VCGIC INTERNATIONAL, para além dos directores César Boaventura e Vasili Barbis, teve numa fase inicial como director Christian Gouws, advogado responsável pela criação de empresas em massa na África do Sul, através da Shelf Company Warehouse.https://t.co/nXc6iq2eUt pic.twitter.com/TgShw8ZkLb
— Rui Pinto (@RuiPinto_FL) December 15, 2021
Quando criou a GIC Corporation SA, Boaventura terá transferido 50% dos direitos económicos de Mika, operação feita alegadamente com conhecimento de Luís Filipe Vieira, o então presidente do SL Benfica, para uma segunda empresa controlada a 100% por Boaventura, a Splendivdeta Unipessoal LDA, dissolvida e liquidada em fevereiro de 2021.
O primeiro episódio em que o nome de César Boaventura andou nas bocas do mundo remonta a 2017. Nesta altura, depois de conquistar dois campeonatos pelo Benfica, Rui Vitória começava a equacionar abandonar o Estádio da Luz.
A saída só se consumou em janeiro de 2019, mas no final de 2017, Luís Filipe Vieira já tinha mandatado o agente para negociar a saída do técnico para o Everton.
Segundo o Público, uma chamada telefónica entre os dois, divulgada no YouTube, mostra o então presidente ‘encarnado’ a pedir secretismo a Boaventura, que não era agente de Rui Vitória: “Mas calas-te muito bem calado, que eu não sei nada disso, atenção. [O Benfica] não sabe de nada”.
O nome de César Boaventura voltou a ganhar notoriedade quando, em junho de 2018, um jogador do Marítimo disse ter sido aliciado pelo agente, alegadamente em nome do Benfica.
O agente negou qualquer tipo de envolvimento e acusando o ex-presidente do Sporting Bruno de Carvalho de estar por trás da denúncia, com o intuito de prejudicar as ‘águias’.
Menos de um ano depois, Boaventura foi acusado em tribunal por jogadores do Rio Ave de os ter tentado corromper para beneficiar o Benfica num jogo entre as duas equipas em 2015/16. César Boaventura voltou a desmentir o seu envolvimento.
No ano passado, em declarações a dois inspetores da Polícia Judiciária, o empresário admitiu ter estado na origem do processo Cashball.
“César Boaventura puxou como tema da conversa o designado processo Cashball”, referindo ter sido “o próprio quem contribuiu para que o processo despoletasse, tendo sido a pessoa que apresentou o denunciante e agente de jogadores, Paulo Silva”, de quem é amigo há muitos anos”, ao seu atual advogado, Carlos Macanjo.
O agente revelou ainda que meses antes da operação foi contactado por Carlos Macanjo para uma reunião. Foi nesse encontro que o seu advogado pediu-lhe o contacto de Paulo Silva. César Boaventura e Carlos Macanjo voltariam a falar uma semana antes da operação da PJ.
“Foi-lhe solicitado por aquele advogado, na sexta-feira, 11 de maio de 2018, que publicasse na sua página de Facebook um texto, fazendo referência a André Geraldes e ao facto de aquele alegadamente corromper jogadores do Vitória de Guimarães para beneficiar o Sporting Clube de Portugal na época 2017/2018. Refere que o texto que acabou por publicar nesse dia, com o título “Geraldes a passear nas muralhas de Guimarães”, lhe foi integralmente enviado por aquele advogado e que ele publicou como sendo seu”, lê-se no auto da PJ.
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