O Grande Prémio de Fórmula 1 da Arábia Saudita, no circuito de Jeddah, vai mesmo realizar-se apesar do ataque com um míssil a uma refinaria de petróleo a menos de 20 quilómetros da pista. Uma decisão polémica que é apoiada pelos pilotos depois de quase quatro horas de reunião.
A prova do Mundial de Fórmula 1 no circuito saudita esteve em dúvida depois do ataque já assumido pelos rebeldes Houthi, do Iémen, contra uma refinaria de petróleo da empresa estatal da Arábia Saudita Aramco.
O ataque com um míssil ocorreu a menos de 20 quilómetros do circuito e era possível ver o fumo da explosão da pista de corrida. Mas nem isso cancela o Grande Prémio da Arábia Saudita, tal como já foi anunciado pela FIA, a Federação Internacional de Automobilismo e pela organização saudita da prova.
Joint statement on the Saudi Arabian Grand Prix pic.twitter.com/xsyYpvVmhB
— Formula 1 (@F1) March 26, 2022
A associação de pilotos de Fórmula 1, a GPDA, também anunciou que vai haver corrida depois de quase quatro horas de reunião e de “um dia difícil” e “stressante”, como se assume num comunicado.
“Talvez seja difícil de compreender para quem nunca pilotou um carro de F1 neste rápido e desafiante circuito de Jeddah, mas depois de vermos o fumo do incidente foi difícil manter a concentração total de piloto e afastar a preocupação natural humana“, começa por notar a GDPA.
A entidade nota que houve “discussões longas” entre pilotos, com os directores das equipas e os responsáveis da Fórmula 1, bem como com os ministros do Governo saudita. Depois de as autoridades sauditas garantirem que “as medidas de segurança estavam a ser aumentadas para o nível máximo“, os pilotos decidiram correr, avança a GDPA.
Os pilotos ainda notam que esperam que o Grande Prémio da Arábia Saudita seja lembrado como “uma boa corrida e não pelo incidente” na refinaria.
#SaudiArabianGP🇸🇦
📣 Comunicado de la GPDA (Grand Prix Drivers Association):“Ayer fue un día difícil para la Fórmula 1 y un día estresante para nosotros, los pilotos de Fórmula 1.”
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Pilotos alertados que poderia ser difícil sair do país
A Sky Sports avança que Lewis Hamilton, Carlos Sainz e Pierre Gasly foram os pilotos que maiores preocupações expressaram. Mas todos os pilotos acabaram por “concordar que o evento deveria continuar”, aponta o canal.
A BBC deixa no ar a possibilidade de os pilotos terem sido alertados para o facto de poderem vir a ter problemas em sair de Jeddah, caso a corrida fosse cancelada.
Os pilotos foram “convencidos a seguir em frente e a correr depois de receberem mais informações dos chefes”, incluindo “o potencial impacto que o cancelamento da corrida poderia ter”, nomeadamente quanto a “atrasos na saída do país no pessoal ou da sua carga”, refere a BBC.
BREAKING: Houthi missile hits Aramco oil facility in Jeddah, Saudi Arabia pic.twitter.com/0TnMQ7s76Q
— BNO News (@BNONews) March 25, 2022
Entretanto, também surge o rumor de que os pilotos foram proibidos de falar à comunicação social. E, na verdade, têm sido os responsáveis das equipas a comentar o caso com os jornalistas.
“Garantiram-nos que estamos protegidos aqui e que é, provavelmente, o local mais seguro onde se pode estar na Arábia Saudita neste momento, e é por isso que vamos correr”, salienta o líder da Mercedes, Toto Wolff.
Na Red Bull, o líder Christian Horner destaca a importância de a Fórmula 1 se manter “unida colectivamente”. “Nenhum acto de terrorismo pode ser tolerado e o desporto não deve ser intimidado a tomar uma posição, simplesmente não é aceitável”, acrescenta.
Já o consultor da Red Bull, o alemão Helmut Marko, revela que “Max [Verstappen] não tem medo”, mas que Sergio Pérez “está muito assustado”, embora o que se passa em Jeddah “não seja muito diferente de como se vive na Cidade do México“.
Cuando no hay nada veraz e importante para decir es mejor guardar silencio. El Dr Marko no aprobó esa materia. https://t.co/sRUcKIpLNI
— Fernando Tornello (@F1Tornello) March 25, 2022
Petrolífera saudita patrocina Fórmula 1
O director-executivo da Fórmula 1, Stefano Domenicali, aponta que as autoridades sauditas têm implementados “todos os sistemas para proteger” a área do circuito, “a cidade” e “os lugares” por onde se deslocam. “Por isso, sentimo-nos confiantes e temos que confiar nas autoridades locais”, acrescenta.
Já o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, destaca a garantia que recebeu “a mais alto nível” de que se trata de “um lugar seguro”.
Ben Sulayem também nota que o ataque dos Houthis não visou a pista, nem a Fórmula 1 em particular. “Estão a atacar a infraestrutura da economia, não os civis, nem o circuito“, vinca ainda o líder da FIA que tem fortes ligações com a família real do Dubai dos Emirados Árabes Unidos, país que é aliado da Arábia Saudita na guerra no Iémen.
Os sauditas apoiam o governo do Iémen na guerra civil contra os rebeldes Houthis que, por seu turno, são apoiados pelo Irão.
O eventual cancelamento do Grande Prémio de Fórmula 1 seria péssimo para a imagem da Arábia Saudita, até porque chamaria a atenção do mundo para a guerra no Iémen.
Note-se ainda que a Fórmula 1 tem um contrato que envolve 450 milhões de dólares com a Aramco, a estatal saudita do petróleo.
“Jeddah nem deveria fazer parte do circuito da F1”
Pelo meio de tudo isto, há adeptos de Fórmula 1 que consideram que Jeddah nem sequer deveria fazer parte do circuito da modalidade.
Além disso, há quem note que é “extraordinário” que os responsáveis deste desporto estejam dispostos a assumir o risco de correr, mesmo depois do ataque.
Também há quem faça comparações entre a situação no Iémen, com o envolvimento dos sauditas, e o que está a acontecer na Ucrânia, até depois de a Rússia ter sido afastada do circuito de Fórmula 1.
Entretanto, em resposta ao ataque dos Houthis, a coligação liderada pelos sauditas realizou ataques aéreos no Iémen “contra fontes de ameaça em Sanaa e Hodeidah”, como noticiou a agência de notícias oficial saudita.
“A operação militar vai continuar até que os objectivos sejam alcançados”, aponta a mesma agência, citando a coligação.
Os Houthis têm feito vários ataques a instalações estratégicas sauditas, incluindo de gás e petróleo, em resposta à intervenção no Iémen.
O conflito iniciou-se em 2014, depois de os rebeldes se terem revoltado contra o Governo e assumido o controlo de Sanaa e de províncias do norte e oeste do país.
No ano seguinte, uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita envolveu-se no conflito. A ONU considera esta guerra, que já causou mais de 100 mil mortos, sobretudo civis, uma das piores crises humanitárias do mundo.
[sc name=”assina” by=”Susana Valente, ZAP” url=”” source=”Lusa”]
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