Roman Abramovich ficou conhecido mundialmente como o tímido, e discreto, dono do Chelsea. Agora que foi afastado do clube inglês salta para as luzes da ribalta como um improvável negociador de paz nas conversações entre Rússia e Ucrânia. Como é que isso aconteceu, afinal? E qual o seu papel?
Abramovich foi classificado como um “mediador” informal que é aceite “pelas duas partes” pelo porta-voz do presidente russo, Dmitri Peskov.
O consultor económico de Zelenskyy, Alexander Rodnyansky, revela ao The Guardian que Abrahmovich foi chamado para as negociações através do seu pai, “um produtor de cinema ucraniano que conhece bem o bilionário”.
Assim, o papel de Abrahmovich pode ser o de uma espécie de “ponte” entre os dois lados em conflito e diz-se que tem sido especialmente activo nos bastidores, até pela sua proximidade com Putin.
De resto, foi essa proximidade que lhe valeu duras sanções da União Europeia e do Reino Unido, estando obrigado a vender o Chelsea e a afastar-se do clube.
No seu novo papel de negociador de paz, Abrahmovich é visto como “um interlocutor sério que tem o ouvido de Putin“, conforme constata o The Guardian.
A função do bilionário é “passar a nossa posição ao chefe deles em linguagem humana”, constata uma fonte da delegação ucraniana à agência de notícias Ukrayinska Pravda, conforme cita o referido jornal inglês.
Os restantes elementos da equipa russa de negociações são figuras secundárias e pouco conhecidas. Portanto, Putin pode ter em Abramovich o seu homem de confiança nas conversações.
Abrahmovich tem sido apontado como um “testa-de-ferro” de Putin, representando alegadamente os seus interesses económicos. A jornalista Catherine Belton até alega no seu livro, intitulado “Putin´s People”, que comprou o Chelsea a pedido do presidente russo.
O ainda dono do Chelsea levou a jornalista a tribunal por causa daquela alegação, com os seus advogados a defenderem que “Abramovich é alguém que é distante de Putin”. Algo que parece ainda mais mentira agora que surge nas negociações com a Ucrânia.
Abramovich passa mensagens entre Zelenskyy e Putin
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, revelou que Abrahmovich foi um de vários oligarcas russos que o contactaram para investir na economia ucraniana. “Recebemos sinais dele e de vários outros empresários dizendo ‘vamos ajudar de alguma forma, vamos tentar fazer alguma coisa’”, salientou Zelenskyy.
O líder ucraniano e o bilionário russo terão tido pelo menos um encontro face a face, tendo o segundo levado uma mensagem escrita do primeiro a Putin, conforme o que veio na imprensa.
O The Mirror avança mesmo que Abrahmovich têm viajado “entre Moscovo e Kiev para retransmitir mensagens entre Putin e Zelenskyy“.
Após a entrega de uma dessas mensagens, escrita à mão por Zelenskyy com os termos de um eventual acordo de paz, Putin terá pedido a Abrahmovich para dizer ao presidente da Ucrânia: “diga-lhe que vou derrotá-los”.
Zelenskyy também revelou que Abrahmovich esteve envolvido em conversações para organizar corredores humanitários que acabaram por ser mal-sucedidas.
“A tentar salvar as suas moradias e iates”
Esta intervenção de Abramovich nas conversações de paz, e o alegado desejo de colaboração de outros oligarcas russos que foi revelado por Zelenskyy, podem ser sinais da expressão do desagrado contra a guerra de Putin.
Mas também pode ser um olhar prático para o presente e para o futuro, como homens de negócios que querem garantir os seus bens e activos, bem como fazer valer os seus interesses no pós-guerra.
No fundo, estão “a tentar salvar as suas moradias e iates”, e também procuram “estar do lado certo da batalha”, revela ao The Guardian a jornalista russa Yevgenia Albats, editora-chefe da revista The New Times.
“Alguns estão horrorizados”, outros “não conseguiam acreditar no que aconteceu” e há ainda os que “estão apenas preocupados por não conseguirem pagar às suas empregadas de limpeza”, acrescenta Albats.
Abramovich pode também estar a tentar “limpar” a face depois de ter visto a sua reputação mundial cair a pique.
Mas é algo que será difícil aos olhos de Maria Pevchikh, próxima de Alexey Navalny, o opositor de Putin que se encontra detido, como refere ao The Guardian, classificando o oligarca como “um dos maiores patrocinadores do regime de Putin”.
Pevchikh também acredita que a participação de Abrahmovich nas negociações foi “100% coordenada com o Kremlin”, até porque foi “o fantoche de Putin durante 22 anos”, como diz.
[sc name=”assina” by=”Susana Valente, ZAP”]
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