Responsável pela Fundação FC Barcelona descreveu ao britânico The Guardian como o clube catalão conseguiu canalizar o seu poder e influência para o apoio à equipa feminina de futebol.
A discussão em torno da viabilidade económica do futebol feminino — que se estende à igualdade salarial das jogadoras — teve último fim de semana, em Barcelona, um marco que poucos poderão deixar escapar nos seus argumentos. Na noite de 30 de março, 91.553 pessoas marcaram presença em Camp Nou para assistir a um jogo da equipa feminina da casa, com muitas a relatarem aos meios de comunicação social internacionais que o ambiente no recinto era indescritível, perante a noção de que história estava a ser feita.
Este foi um marco no futebol feminino, mas os sinais de que uma explosão mediática estava prestas a acontecer. Recentemente, o Paris St-Germain também quebrou o seu recorde de assistência nos jogos femininos, com 27 mil pessoas. Na mesma linha, milhares de adeptos marcaram presença nos seis jogos dos quartos de finais da Liga dos Campeões feminina, isto ao mesmo tempo que os bilhetes para a final do Europeu de seleções esgotaram.
A Dazn, estação de televisão responsável pela transmissão dos jogos da liga milionária, afirmou ter experienciado um “crescimento sem precedentes” nas audiências dos jogos dos referidos quartos de final. Neste grupo incluem-se 2.6 milhões de espectadores, nomeadamente através do canal de YouTube, onde a transmissão dos jogos pode ser acompanhada gratuitamente, só para o jogo que opôs Barcelona a Real Madrid. Ao todo, mais de 11 milhões de pessoas acompanharam os duelos dos quartos de final – sendo que na fase de grupos o valor atingiu os 14 milhões.
Mas tal como nota o The Guardian, estes números não aconteceram de um dia para o outro. São, na realidade, o resultado de décadas de luta, uma luta que o Barcelona parece ter elevado a outros níveis. Esta foi a premissa de uma entrevista do jornal britânico a Lucy Mills, responsável pela Fundação FC Barcelona, que enumerou quatro razões para o sucesso alcançado pelo clube catalão.
Primeiramente, Mills referiu a adoração que os adeptos do clube e os habitantes da cidade sentem pelas jogadoras, mas também o orgulho que têm pelo seu estilo de jogo e personalidades. De seguida, a publicitação dos jogos, que ocorreu em todos os meios possíveis – ao ponto de, refere a responsável, ser difícil não saber quando se ia realizar o jogo.
Outra das razões evocadas tem que ver com o preço dos bilhetes, que podia variar entre os 9 e os 15€. Desta forma, o clube tornou acessível uma experiência que muitos caracterizam como única: assistir a um jogo de futebol na que é considerada a catedral do futebol europeu. Estes preços destacam-se ainda mais quando comparados com os dos bilhetes para os jogos de futebol masculino, que frequentemente sobem às centenas.
Finalmente, e talvez mais importante, a maior atenção dada às mulheres nas modalidades coletivas e o movimento tendo em vista à igualdade de género casam bem com a sociedade catalã. Há muito que Barcelona e os seus habitantes são conhecidos pelo seu progressismo. O governo gere ativamente a chegada de refugiados, o respeito pelos direitos LGBTQI+, a igualdade de gênero e a sustentabilidade. Não é, por isso, surpresa, que os cidadãos apareçam aos milhares para apoiar a equipa feminina.
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