Não há nenhum ciclista negro no Tour, que começa esta sexta-feira. No ano passado, menos de 1% dos ciclistas do World Tour era negro.
O Tour de France arranca hoje, dando início a uma maratona de 3.349,8 quilómetros que se desdobra de Copenhaga, na Dinamarca, aos Campos Elísios, em Paris. Ao longo de 21 etapas, os melhores ciclistas do mundo competem pela prestigiada ‘camisola amarela’.
O que é que todos os 218 ciclistas têm em comum? Nenhum deles é negro.
Não é uma mera coincidência. Durante o World Tour do ano passado, que inclui as principais corridas mundiais, menos 1% dos ciclistas era negro. A edição de 2021 do Tour de France também só contou com um ciclista negro no pelotão: o sul-africano Nic Dlamini.
O ciclismo é, de facto, um dos desportos mais “brancos” do mundo. Para encontrar um medalhista olímpico negro, por exemplo, é preciso recuar até 1984, quando nos Jogos Olímpicos de Verão, em Los Angeles, Nelson Vails conquistou a prata na prova de sprint de ciclismo masculino.
Agora com 61 anos, Vails era um ex-estafeta de bicicleta em Nova Iorque. A sua conquista surpreendente mantém-se única no palmarés do ciclismo olímpico, 38 anos depois.
Em maio, Biniam Girmay destacou-se no Giro de Itália ao tornar-se o primeiro ciclista negro africano a vencer uma etapa numa grande volta. No início do ano, o atleta natural da Eritreia já se tinha tornado o primeiro negro africano a vencer uma corrida do World Tour quando conquistou a Gent-Wevelgem, na Bélgica.
Infelizmente, a sua vitória em Itália foi machada por um festejo desastrado com a garrafa de espumante.
O ciclista da Eritreia estava a celebrar como habitualmente mas, quando abriu a garrafa de espumante, foi atingido pela rolha, no seu olho esquerdo. Logo na altura Biniam queixou-se e, depois de ter sido analisado no hospital, a equipa preferiu retirar o seu ciclista do Giro.
Os riscos para ciclistas negros podem, no entanto, ser bem mais sérios do que uma mera rolha.
Kevin Hylton, professor emérito de igualdade e diversidade no desporto, lazer e educação na Leeds Beckett University, no Reino Unido, mostra-se preocupado com os riscos para os ciclistas negros.
“Para pessoas de cor, estar em espaços abertos pode trazer perigos em lugares específicos”, disse Hylton à Andscape. “Então, se estiver a correr por uma rua em particular, pode ser perseguido por pessoas que pensam que você não deveria estar lá, e você pode levar um tiro apenas por correr”. Ou, neste caso, por pedalar.
A União Ciclista Internacional (UCI), a associação internacional das federações nacionais de ciclismo, reconhece os problemas da diversidade e está empenhada em mudar o paradigma.
“Nos últimos 20 anos, o ciclismo fez grandes avanços em termos de número de atletas que representam diferentes partes do mundo, em grande parte graças aos seus programas de solidariedade e ao trabalho de desenvolvimento vital realizado através do UCI World Cycling Center. A UCI intensificará as suas atividades em apoio à diversidade no ciclismo em todas as suas formas”, disse a organização em comunicado.
O problema é que os ciclistas negros enfrentam desafios adicionais, com os quais pessoas brancas, por exemplo, não têm de se digladiar.
Nos Estados Unidos, os negros e outros grupos minoritários historicamente foram agrupados em bairros com menos dinheiro, menos recursos e piores infraestrutura – como lojas de bicicletas. A falta de dinheiro pode ser decisiva para que um jovem aspirante a ciclista fique para trás.
[sc name=”assina” by=”Daniel Costa, ZAP” ][/sc]
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