Mundo está a mudar. Futebol dá 3 exemplos: “Salário elevado não é sinónimo de felicidade”

Benjamin Pavard

Pavard, Pandev e Higuaín: confissões que não eram nada frequentes, até há alguns anos. “Pensam que temos vida fácil…”

Multiplicam-se as vozes que indicam que o mundo está a atravessar anos de mudança profunda. As pessoas estão a mudar.

Obviamente o mundo e as pessoas estão sempre a mudar. Há milhões de anos houve mudanças, daqui a milhões de anos haverá mudanças.

Mas, desta vez, mais do que revolução industrial ou tecnológica, estaremos perante uma revolução humana. Alterações nas atitudes, nas posturas, nas prioridades, nos discursos.

E não é preciso estar ligado à psicologia, à sociologia, à filosofia ou à astrologia para assistir a esta transformação. Basta observar.

Ainda ontem recuperámos o fenómeno quiet quitting, uma tendência no panorama laboral – que, como já tínhamos mencionado, está a preocupar as chefias.

No panorama desportivo, neste caso no futebol, acumulam-se palavras, confissões, que raramente (ou mesmo nunca) assistíamos há uns anos.

Neste domingo, o jornal francês Le Parisien publicou uma entrevista com Benjamin Pavard, internacional francês. Que passou por uma depressão, em 2020.

Motivo? Coronavírus: “Não gosto da palavra deprimido, mas era assim que me sentia. Sou uma pessoa como as outras e, mesmo tendo uma super casa, com sala de musculação, precisava de contacto com outras pessoas“.

“Acordava, não tinha apetite. Tentava manter-me ocupado, cozinhar, ver séries. Mas a Netflix é boa apenas durante dois minutos“, descreveu o defesa do Bayern Munique.

Aliás, estar na Alemanha, longe da sua família, foi factor crucial: “A nível pessoal não foi nada fácil estar sozinho num país que não é o meu. Longe da minha família e dos meus amigos. Algo não estava bem na minha vida”.

A minha cabeça não estava bem. No início dizes a ti próprio que não é nada, que vai passar. Mas se percebes que és teimoso, que vais treinar sem um sorriso, então tens que agir”, alertou, acrescentando que depois abriu-se com outras pessoas, sente-se “muito melhor” e essa situação difícil fez com que crescesse.

O campeão mundial partilhou outro alerta: “Poucos sabem por aquilo que passei. Podes ganhar bem (salário), mas isso não significa que sejas feliz“.

O Union Berlim, rival do Bayern e líder da Bundesliga, reagiu a estas declarações. Apoia o adversário e deixa um apelo: “Ama o futebol, ama o Union, mas ama as pessoas próximas da mesma forma“.

Pandev quer ver o filho

Esta entrevista foi publicada quatro dias depois da retirada de Goran Pandev.

O último resistente do 11 inicial do Inter Milão campeão europeu em 2010 (liderado por José Mourinho) juntou-se agora ao grupo dos reformados porque já “não tinha cabeça para ir treinar”.

O antigo avançado quer estar mais tempo com a família. E quer ver o filho ao longo de todo o ano: “O meu filho maior tem quase 13 anos e só o vi nas pausas entre um campeonato e outro. Agora quero dedicar-me à família”.

Higuaín: “Pensam que temos vida fácil”

No mesmo dia, Gonzalo Higuaín deixou outros desabafos sobre o dia-a-dia de um futebolista.

“Eu vivi de forma não natural durante 15 anos. As pessoas pensam que nós, futebolistas, temos uma vida fácil e não, não é verdade“, resumiu o argentino, sobre o período que jogou na Europa (Real Madrid, Nápoles, Juventus, AC Milan e Chelsea).

“Nós não temos o mesmo direito de poder andar na rua, somos insultados e não podemos reagir, porque se o fizermos, o impacto duplica-se. Se perdes um jogo, se desperdiças um golo, ou se perdes uma partida importante, não podes ir à rua“, lamentou o jogador, que agora está nos EUA, ao serviço do Inter Miami.

Um jogador de futebol vive condicionado por resultados. É um desporto, um trabalho e isso não deve ser confundido. Somos todos humanos“, rematou Higuaín.

[sc name=”assina” by=”Nuno Teixeira da Silva, ZAP” ]


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