No Brasil, a camisola da seleção tornou-se o equivalente ao chapéu vermelho MAGA usado pelos seguidores do aliado de Bolsonaro, o ex-presidente Donald Trump.
O Brasil estreou-se ontem no Mundial de 2022, no que pode ser visto como o momento mais aguardado do torneio – estatuto de quem á tem cinco títulos no currículo. À conta disso, a canarinha é provavelmente a camisola mais reconhecida nas ruas do Qatar por estes dias. No entanto, usá-la não é uma escolha fácil. Ao longo dos últimos meses, a peça de vestuário tornou-se um símbolo político, depois de Jair Bolsonaro a ter adotado como uniforme não oficial do seu movimento político associado à extrema-direita.
Bolsonaristas, como são conhecidos os seguidores do presidente, usam as camisolas e embrulham-se na bandeira brasileira em marchas e comícios que apoiam as mensagens conservadoras religiosas, anti-LGBT+ e a favor dos direitos das armas.
Durante os seus cinco anos na presidência, Jair Bolsonaro minimizou a pandemia do coronavírus e foi responsabilizado por um devastador número de mortos. Simultaneamente cortou as proteções à floresta Amazónia, levando a uma desflorestação recorde. Tentou ainda desafiar os resultados eleitorais depois de as autoridades eleitorais terem declarado vitória no mês passado para o seu rival, Luiz Inácio Lula da Silva.
No Brasil, a camisola da seleção tornou-se o equivalente ao chapéu vermelho MAGA usado pelos seguidores do aliado de Bolsonaro, o ex-presidente Donald Trump.
A adepta de futebol Vanessa Morales diz que não pode usar a camisa da Seleção durante o Mundial deste ano. “Não vou usar nem o verde nem o amarelo”, diz, não querendo ser confundida com os apoiantes do Bolsonaro. A adepta usará a camisola vermelha e preta da equipa local do Flamengo em vez disso. “É difícil que um partido [político] tenha acabado por dominar o nosso símbolo“.
Mas também tem esperança que quando Lula tome posse em janeiro, mais brasileiros vistam a camisola novamente. De facto, os apoiantes do presidente eleito Lula têm vendido a sua própria versão da camisola nacional nas cores amarelo e verde brilhante. Tem uma pequena imagem de Lula na frente, e um 13 – o seu número de candidato à eleição – no verso.
O vendedor Renato Monteiro diz ter vendido 20.000 das camisas aos eleitores de Lula nos últimos dois meses. “Estão a comprá-la porque Bolsonaro pensava que o símbolo era dele, mas na realidade não era, pertence ao povo. Resgatámos o símbolo da nossa pátria”, diz ele do seu pequeno stand num mercado ao ar livre de fim-de-semana no Rio de Janeiro.
A confederação de futebol do Brasil, CBF, é neutra na frente política, mas lançou uma campanha para encorajar os cidadãos a unir-se em torno da camisola e da equipa. E uma das maiores empresas cervejeiras do país, Brahma, está a exortar os brasileiros a vesti-la durante o Mundial.
Num país onde o futebol é praticamente uma religião, talvez este seja o momento em que os brasileiros podem colocar de lado as divisões intensas dos últimos meses e esquecer o que os divide para se unirem-se em torno de uma cor, o amarelo.
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