149 concussões ao longo de 271 jogos. Foi esta, na época passada, a realidade da principal liga de futebol americano do mundo. Agora, novo capacete com absorventes de choque líquidos pode solucionar o problema de longa data.
Uma concussão é um tipo de traumatismo cranioencefálico que afeta as funções cerebrais. Apesar de a maioria dos clínicos não a encarar como mortal, a lesão é acompanhada pela maldição do silêncio dos sintomas, dificultando a sua deteção.
Milhões de norte-americanos sofrem concussões todos os anos durante variadas atividades desportivas, e o boxe e a sua ‘demência pugilística’ já não são os maiores culpados.
O futebol americano aumenta drasticamente o risco de a pancada violenta provocar danos irreparáveis a longo prazo no cérebro.
Aliás, o atleta nem precisa de chegar ao estado de concussão. Provas científicas ditam que o efeito acumulativo de pancadas na zona da cabeça também pode ter graves consequências.
Estudo publicado no início de março pela Academia Nacional de Neuropsicologia, em Oxford, analisou ex-jogadores da National Football League (NFL), principal liga de futebol americano dos EUA e do Mundo, e concluiu que aqueles que se recordam de ter sintomas como náuseas, febre, desorientação, tonturas e dores de cabeça — todos típicos de concussão — se saíram muito pior em testes cognitivos do que os que não se recordam desses sintomas.
Na liga milionária, o número de concussões tem crescido drasticamente, tendo aumentado 18% na última temporada regular. Foram 149 concussões ao longo de 271 jogos, segundo informação emitida pela própria liga.
Como seria de esperar, as críticas aos protocolos da liga de futebol americano têm, a par das concussões, aumentado, prendendo-se muitas vezes ao método dos médicos da liga na verificação de concussões.
O problema ético das concussões é tão grave que as críticas estendem-se à seguinte questão: será que o desporto, dada a sua perigosidade, deveria sequer ser legal?
O capacete que pode mudar tudo
Cientistas da Universidade de Stanford, em colaboração com a empresa Savior Brain, desenharam um capacete com absorventes de choque líquidos que pode reduzir o impacto dos golpes na cabeça.
“Importa-nos muito assegurar a saúde cerebral do atleta a longo-prazo. Concussão e impacto repetido na cabeça ainda são um grande problema nos desportos de contacto”, afirma o professor da Universidade de Stanford e autor principal do estudo publicado esta sexta-feira na Frontiers, Nicholas Cecchi.
“Acreditamos que tecnologia de capacete melhorada pode desempenhar um importante papel na redução de risco de lesão cerebral”, sublinhou.
Com base num estudo anterior da mesma universidade, que determinou que os absorventes de choque líquidos podiam fornecer maior proteção, a equipa de Cecchi começaram por construir um modelo de capacete de futebol americano com 21 absorventes.
Depois, testaram o seu desempenho contra simulações do protocolo de avaliação de desempenho de capacete usado pela NFL, comparando o inovador capacete a outros quatro já existentes no mercado.
Os cientistas mediram, em cada impacto, a cinemática da cabeça de modo a produzir uma pontuação HARM (Head Accelerate Response Metric), usada para pontuar a performance do capacete sob impacto.
Os resultados foram muito positivos, com o capacete equipado com absorventes de choque a reduzir significativamente a gravidade da pancada e a tensão no cérebro, comummente provocada por impactos fortes na cabeça.
Com uma pontuação HARM mais baixa em 33 dos 36 cenários de colisão testados, o capacete reduziu o impacto por 33%.
Adicionalmente, o dito capacete obteve a melhor “Pontuação de Performance de Capacete”, uma medição da qualidade de proteção dos capacetes usada pela própria NFL, que atribui mais ‘pontos’ de importância à área do crânio onde, em caso de pancada, é mais provável ocorrer concussão — o lado superior da cabeça.
Na verdade, o capacete com absorventes de choque líquidos reduziu a pontuação HARM nesta área entre 39% e 50%, em todas as velocidades de impacto.
O próximo passo será fazer o protótipo físico do capacete para, posteriormente, o testar em atletas.
“Temos planos para expandir a nossa implementação de absorventes líquidos para mais áreas do capacete, para melhorar ainda mais a segurança do cérebro para uma ampla variedade de populações”, disse Cecchi, que quer ver, mais tarde, o capacete aplicado a outros desportos de contacto.
[sc name=”assina” by=”Tomás Guimarães, ZAP” url=”” source=”” ]
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