Mais de 100 menores trancados com cadeados, sem acesso à escola, casa de banho e aos documentos pessoais. Tudo acontecia na academia Bsports, fundada pelo Presidente da Assembleia-Geral (AG) da Liga de Futebol, Mário Costa.
Na sequência das buscas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) à academia Bsports, fundada pelo Presidente da Assembleia-Geral (AG) da Liga de Futebol, Mário Costa, já foram resgatados 114 jovens da academia, que fica em Riba D’Ave, concelho de Famalicão, distrito de Braga.
Da centena de menores — com idades compreendidas entre os 14 e 17 anos — 36 são estrangeiros que ficaram à responsabilidade da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) para serem entregues nos próximos dias às famílias.
O SEF e o Ministério Público (MP) terão, segundo o JN, relatos de alguns dos atletas menores estrangeiros, que afirmam serem trancados com cadeados, à noite, sem acesso à casa de banho.
Os jovens estariam a viver amontoados em camaratas e terão sido sujeitos a várias medidas disciplinares na academia do dirigente da Liga Portugal.
Só saíam acompanhados de funcionários da academia e o seu acesso ao exterior era limitado. A sua documentação, incluindo o passaporte, também foi retida.
Os mesmos relatos adiantam que os atletas eram fechados em salas com apenas uma casa de banho partilhada por dezenas e que, por vezes, eram impedidos de ir à escola, com o ensino a ser ministrado por professores da academia ou através de aulas online.
Menores e famílias presos a contratos exploratórios
Os jogadores menores seriam recrutados pelos dois suspeitos na América do Sul, África e Ásia, segundo a TSF, através de torneios de captação aí realizados pela academia.
De acordo com a RTP, os atletas vinham para Portugal com uma promessa de contrato dos arguidos, válidos por 11 meses, e seriam impedidos de sair caso os pais quisessem interromper a sua formação ou não tivessem coberto o pagamento previsto.
Mário Costa e o seu pai procuravam celebrar contratos fictícios com equipas de escalões inferiores quando os atletas não conseguiam ser contratados por equipas das competições nacionais, de modo a permitir-lhes obter o visto de residência em Portugal.
As famílias destes menores pagariam entre 500 e 1800 euros por mês para receber formação, treinar e serem alojados. Alguns, segundo o JN, pagariam até 20 mil euros para viver na academia do funcionário da Liga.
No entanto, a promessa não era cumprida, com os atletas a serem recebidos em condições precárias, onde passariam fome e frio, de acordo com relatos de vítimas.
O SEF e o Ministério Público (MP) constituíram como arguidos, esta segunda-feira, Mário Costa e o seu pai, gerente da Bsports Academy, devido a suspeitas de tráfico de seres humanos. Os arguidos foram indiciados pelos crimes de tráfico de pessoas, auxílio à emigração ilegal e falsificação de documentos.
Mário Costa já garantiu que será provado que não cometeu “nenhum ilícito criminal”.
O órgão presidido por Pedro Proença — que disse que os factos relatados em nada estão relacionados com o trabalho exercido por Mário Costa na Liga Portugal — vai convocar uma reunião para analisar a situação do presidente da AG.
“A Liga Portugal informa que o seu Presidente, Pedro Proença, chamou os Presidentes dos restantes órgãos sociais da instituição – Mesa da Assembleia Geral, Conselho Jurisdicional e Conselho Fiscal – para uma reunião de urgência, a realizar esta quarta-feira, na qual será avaliado o impacto das notícias mais recentes relacionadas com o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Dr. Mário Costa, na gestão e estabilidade da Liga Portugal”, lê-se no comunicado.
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