Ex-olheiro do Benfica terá criado empresas para desviar fundos da SAD encarnada

SAD das águias terá pagado mais de cinco milhões a mais em comissões fictícias. Esquema foi montado por Vieira, Rui Costa, Domingos Soares de Oliveira e Paulo Gonçalves, diz o MP.

O suposto plano de desvio de fundos da Benfica SAD, que incluiu a contratação de Daniel dos Anjos e Marcelo Hermes, terá lesado a SAD em 7,2 milhões de euros e sido posto em prática por um ex-olheiro do Benfica, que criou duas empresas para desviar a quantia milionária, avança o Correio da Manhã esta segunda-feira.

O esquema, já noticiado pelo ZAP na passada quinta-feira, renasce agora valores concretos: ao todo, os encarnados terão pago mais de cinco milhões de euros a mais nos negócios de três jogadores, através de comissões fictícias (o outro caso envolve a transferência de Luís Felipe Dias Nascimento, com uma sobreavaliação do seu passe).

Terá sido Francisco de Oliveira, scout das águias até fevereiro de 2020, o responsável por criar duas empresas intermediárias no Brasil, registando-as na Federação Portuguesa de Futebol (FPF). No entanto, as contratações de Hermes e Anjos foram os únicos negócios que as duas empresas registaram em Portugal.

Uma das empresas, a Drible, intermediou a contratação de Hermes ao Grémio em janeiro de 2017, mas não surge envolvida em nenhum outro negócio; a Olisports, que fechou atividade na FPF em 2021/22, intermediou (apenas) a compra de Daniel dos Anjos ao Flamengo, no mesmo ano, cujo contrato foi assinado por Adolfo Oliveira, filho do ex-olheiro do Benfica.

Vieria e Rui Costa na mira

O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e a Polícia Judiciária (PJ) acusam Luís Filipe Vieira, ex-presidente do Benfica, e Rui Costa, o seu sucessor, de desviar milhões de euros através de contratos falsos de intermediação de jogadores. Entre os outros acusados na investigação estão ainda os Domingos Soares Oliveira, ex-administrador da Benfica SAD, e Paulo Gonçalves, ex-diretor jurídico.

Os crimes incluem fraude fiscal qualificada e recebimento indevido de vantagem, relacionado com a injeção de 1,3 milhões de euros no Vitória de Setúbal através de contratos duplicados.

Outros casos investigados

O processo também investigou suspeitas de corrupção desportiva, mas não encontrou provas suficientes. As alegações envolvem a dependência económica de clubes menores, como o Santa Clara e o Desportivo das Aves, face ao Benfica, que emprestaria jogadores a custo zero para obter vantagens desportivas.

Os investigadores não reuniram provas suficientes sobre as suspeitas em torno do Santa Clara e do Desportivo das Aves, sendo o caso do Vitória de Setúbal o único que parece mais forte, com alegações de pagamentos por direitos de preferência e transferências fictícias.

O esquema que terá beneficiado o Vitória de Setúbal envolve operações aparentemente inexplicáveis, como a compra em janeiro de 2017 por parte do Benfica do direito de preferência de qualquer um dos jogadores do clube sadino por cerca de 369 mil euros. Apenas três meses depois e ainda com o contrato anterior em vigor, os encarnados assinaram um novo acordo semelhante e pagaram mais 492 mil euros.

A acusação suspeita que estes contratos terão sido assinados apenas com o intuito de resolver os problemas financeiros do Setúbal, que foi relegado para o 4.º escalão por não cumprir as regras financeiras das competições profissionais da Liga.

O inquérito agregou ainda outros casos, como o Mala Ciao, emails e vouchers, mas não encontrou provas para todas as acusações iniciais, reduzindo o foco para a fraude fiscal qualificada e recebimento indevido de vantagem.

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