O físico Nils Bohr disse um dia que fazer previsões é difícil, sobretudo para o futuro. É verdade, como confirma uma análise rápida às que o prestigiado jornal britânico Daily Mail fez em 2007.
Há exactamente uma década atrás, o Daily Mail divulgou um “onze” de promessas desportivas que prometiam ser a selecção inglesa do futuro. O artigo tinha como título “60 razões pelas quais o futuro do futebol inglês não é tão mau quanto se pensa“.
Mas, feitas as contas, descobrimos que o dream team do Mail não vale hoje em dia mais do que… o Vitória de Guimarães. Segundo os cálculos do Finance Football, os onze jogadores têm um valor de mercado conjunto de 33,9 milhões de euros.
E se o valor de si já é modesto, ele torna-se ainda mais impressionante quando se constata que dois terços do montante diz respeito a Theo Walcott. Sem o avançado do Arsenal, as escolhas do Daily Mail valeriam hoje 11,9 milhões – mais ou menos o valor conjunto do plantel do… Tondela.
As intenções do Daily Mail seria certamente as melhores, mas a verdade é que as previsões revelaram-se um fiasco completo. Da equipa seleccionada, só Walcott e Scott Sinclair, do Celtic, marcam actualmente presença no primeiro escalão do futebol do Reino Unido.
Há mais três jogadores que também passaram pela Premier League, mas entretanto seguiram outros caminhos. Jose Baxter, por exemplo, está sem clube; e Michael Johnson até terminou precocemente a carreira. De resto, é um deserto. Os seis jogadores que faltam nunca conseguiram sair das divisões secundárias.
Por falta de esforço, talento ou apenas muito azar, os craques identificados pelo Daily Mail acabaram por se perder na transição para o futebol sénior, e hoje em dia são poucos os que reconheceriam os seus nomes.
Algo que não é completamente inesperado: como sabemos há muito tempo, são poucos os craques precoces que passam de promessas a certezas. Em Portugal, é muito conhecido o caso de Fábio Paím.
Uma Inglaterra com o valor do Kosovo
O capitão desta equipa inglesa de “vedetas” seria Micah Richards. O central nem tem a pior das carreiras: joga atualmente no Aston Villa e foi campeão inglês por duas ocasiões ao serviço do Manchester City. Porém, com um valor de 3,5 milhões de euros aos 28 anos, o inglês assemelha-se a jogadores como Bolly do FC Porto ou Josué Sá do Vitória SC.
No panorama das comparações, isto é só a ponta do iceberg. Se o tridente atacante com Walcott, Sinclair e Baxter está avaliado em 26,3 milhões, o resto dos setores não tem a mesma sorte (ou engenho).
O guardião Ben Amos, do Cardiff City, do segundo escalão inglês, vale tanto como o guarda-redes do Belenenses, Hugo Ventura. A defesa, avaliada em 5,7 milhões de euros, está ao mesmo nível do quarteto defensivo do CD Nacional, último classificado da Liga NOS.
O cenário agrava-se quando se chega ao meio-campo. Certamente o leitor não se lembrará de nomes como os de Dean Parrett, Michael Johnson e James Henry, mas segundo o Daily Mail, seriam eles hoje a fazer parte do seleção inglesa.
Com um valor de pouco mais de um milhão de euros, o centro do terreno inglês estaria ao nível do meio-campo do Cova da Piedade, que luta pela manutenção na Ledman LigaPro.
O seleccionador inglês Gareth Southgate teria um árduo trabalho pela frente. O “onze” da seleção britânica valeria tanto como o Kosovo, o Mali ou o Cabo Verde. Hoje, tanto Delle Alli como Raheem Sterling conseguiriam cobrir o valor de todas as onze antigas promessas juntas.
Uma piada muito ouvida em certos círculos académicos é que Deus criou os economistas para dar melhor imagem às previsões dos meteorologistas. Mas pelos vistos, não são só estes dois grupos profissionais que se enganam.
No que diz respeito ao futebol, os jornais generalistas também não fazem melhor.
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