O Sindicato dos Jornalistas considerou que o apelo do presidente do Sporting para que os adeptos boicotem a comunicação social é uma tentativa de limitar a liberdade de imprensa e condicionar o trabalho dos profissionais.
Em comunicado, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) considera que as declarações proferidas na Assembleia-Geral do Sporting por Bruno de Carvalho contra os jornalistas, no sábado, “têm um teor claramente antidemocrático e instam a comunicação social portuguesa a adotar uma resposta coletiva”.
O SJ considera “fundamental que as direções dos órgãos de comunicação social” adotem uma resposta “firme e coletiva” perante estas afirmações.
O dirigente leonino apelou aos adeptos para deixarem de comprar jornais e de ver os canais de televisão portugueses, exceto a Sporting TV, e à saída da reunião magna do clube alguns jornalistas foram ameaçados por adeptos do clube.
À medida que abandonavam o pavilhão, vários sócios dirigiram insultos para as câmaras de televisão e aos jornalistas que se encontravam no local, motivando a intervenção da Polícia de Segurança Pública, que ainda se deparou com um rebentamento de um petardo.
“Num país onde o futebol tem uma presença relevante e constante, os dirigentes desportivos têm uma grande responsabilidade em garantir que o desporto contribui para o bem-estar social e não alimenta climas de ódio e perseguição“, defende o sindicato.
A nota refere também que é intenção do sindicato avaliar juridicamente o teor das declarações de Bruno de Carvalho e pedir reuniões urgentes com as principais forças de segurança, “no sentido de assegurar a proteção dos jornalistas”.
O SJ vai também contactar as tutelas do Desporto e da Comunicação Social, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e a Federação Portuguesa de Futebol, bem como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social.
Comentadores “paineleiros”
No mesmo discurso, Bruno de Carvalho também pediu aos comentadores desportivos afetos ao Sporting para deixarem os programas televisivos dedicados ao futebol, apelidando-os de “paineleiros”. Segundo o Expresso, estes mesmos comentadores não consideram o pedido do presidente leonino “legítimo”.
Manuel Fernandes, comentador na SIC Notícias, disse que vai ouvir as razões de Bruno de Carvalho, dar a sua opinião e só depois tomar uma decisão. “Os sócios estão com ele e entendo as suas razões pois o alvo nos programas televisivos é sempre ele”.
Por sua vez, Augusto Inácio, comentador na RTP3, disse ser livre e independente. “Nunca recebi cartilhas ou recados e falo no programa de acordo com a minha consciência. Penso pela minha cabeça e não pela cabeça dos outros”, cita o semanário.
José Pina, comentador na TVI24, também não se mostrou disponível. “É aqui que estou, tenho compromissos profissionais e tento respeitá-los. O manto protetor do Benfica tem de ser combatido, é uma realidade. Agora, o meu trabalho, a essência da minha vida é a criatividade, liberdade, pensamento próprio. Sou eu que decido os programas em que participo ou não. Não sou funcionário do clube. Só passo recibos verdes à minha consciência e liberdade e, se renunciar a isto, estou a renunciar à minha profissão”.
“Eu gosto de ver todos os outros comentadores do Sporting, o Fernando Mendes, Paulo Andrade, Jaime Mourão Ferreira, Hélder Amaral, Dias Ferreira, o meu amigo Rui Calafate que escreve no Record, tudo isso vai desaparecer? Não pode ser. Esse é que é o combate, a militância, faz parte. Não é estar agora a recuar as tropas. Mas essa é a minha posição. Não concordo com tudo o que o presidente diz e neste caso não concordo”, cita o Expresso.
Octávio Machado, comentador na CMTV, afirma que o desaparecimento dos comentadores da praça pública “é um princípio que pode começar a ser grave para o Sporting”.
“Estou expectante para ver os prejuízos. E mais preocupado estou com a UEFA, porque não permite situações destas. Espero e desejo que acabe depressa, porque isto viola todos os princípios e é uma decisão que pode custar caro. Se vou deixar o programa? Antes de ir para o Sporting já cá estava. Não confundo Bruno de Carvalho com o Sporting. Acho que responde à pergunta. Ninguém pode ou deve estar – ou tentar pôr-se – acima do Sporting. Muito menos o grande líder. Apoiar a equipa amanhã em Tondela é que é militância. Mas para o grande líder isso não é militância. Para ele é: ‘saiam dos programas porque eu é que mando’. Não sei se vou ser atirado aos cães ou não, nem me importo, porque sou muito duro de roer e podem partir os dentes. Somos pessoas livres”, disse.
Atletas evitam jornalistas por ordem da direção
Este domingo, atletas leoninos evitaram contactos com jornalistas, dando cumprimento às instruções da direção do clube.
Hoje, tanto no Campeonato Nacional de Clubes de atletismo, em Pombal, após o triunfo de Sara Moreira na prova dos 3.000 metros, e também no final da Volta ao Algarve em bicicleta, no alto do Malhão, em Loulé, os atletas não falaram aos jornalistas, argumentando que não estavam autorizados.
No entanto, o treinador da equipa principal de futebol, Jorge Jesus, deu uma conferência de imprensa de antevisão da Sporting ao Tondela, na segunda-feira, para a 23.º jornada da I Liga, embora não seja regulamentar.
O Regulamento de Competições da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) apresenta diretivas relativas a conferências de imprensa após os jogos e às ‘flash-interviews’.
[sc name=”assina” by=”ZAP” url=”” source=”Lusa” ]
Deixe um comentário