Serena Williams foi multada em quase 15 mil euros, depois de ter recebido três advertências do árbitro português Carlos Ramos na final do US Open, frente à japonesa Naomi Osaka – uma nova campeã em ascensão, que saiu ofuscada pela intempestividade da adversária.
Serena Williams está, indiscutivelmente, na ordem do dia. A tenista norte-americana, uma das mais vitoriosas tenistas da história deste desporto e por muitos considerada a maior tenista de sempre, voltou a dar que falar depois de ter defrontado a final do US Open, frente à japonesa Naomi Osaka.
O encontro polémico colocou frente-a-frente uma super-campeã poderosíssima no mundo do ténis profissional e uma jovem talentosa com apenas 20 anos. Se muitos esperavam uma partida emocionante entre duas excelentes jogadoras separadas pela reputação, Serena entrou a matar para mostrar que o que muitos esperavam ficava demasiado aquém daquilo que a tenista tinha para dar. E não falamos apenas de desporto.
Que Serena pisou o court com uma atitude titânica, ninguém duvida. Aliás, grande parte das mãos de quem assistia à final feminina do Open dos Estados Unidos já se preparavam para aplaudir aquela que, provavelmente, é a maior jogadora de ténis de todos os tempos. Mas a caixinha de surpresas – mascarada de Serena Williams – voltou a surpreender-nos.
O primeiro set da partida foi totalmente dominado por Osaka (6-2), que atropelou Serena ao contrário do que muitos estavam à espera, aproximando-se assim do título de campeã. O ténis, incutido pelo pai, entranhou-se de tal forma na tenista que, aos 20 anos, ainda se nota à flor da pele.
Ainda assim, a timidez assumida que a idade lhe destina e a impotência da adversária que a comede, fez com que Naomi se posicionasse abaixo de Serena, ainda que a vitória do primeiro set tenha sido o aroma mais presente naquele momento. Já o olfato de Serena tornou-se insípido. Mais uma surpresa.
A super-campeã entrou no segundo set determinada, apesar de marcada pelos arranhões – ainda inofensivos – de Osaka. Foi aqui que Patrick Mouratoglou entrou em cena para desencadear o início de uma tempestade, da qual ninguém saiu ileso.
Mouratoglou, treinador de Serena Williams, fez manifestos sinais à jogadora que não passaram despercebidos a Carlos Ramos. O árbitro português acabou por presentear a tenista norte-americana com uma advertência.
E se Serena estava já incomodada com a vitória da inexperiente Osaka, o presente envenenado de Carlos Ramos só a aborreceu ainda mais.
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O gesto do treinador pode até ter passado despercebido em campo, mas os olhos atentos de quem assistia à partida no conforto do sofá lá de casa não deixaram escapar esse “pequeno” deslize proibido. No fundo, Osaka esmagava Serena, Mouratoglou tentou salvar o seu prodígio com indicações que, por terem sido demasiado notórias, acabaram por prejudicar a super-campeã.
Atento, Carlos Ramos não deixou escapar e advertiu a norte-americana por receber instruções do seu treinador (“coaching“). Serena negou ter feito “batota”, mas as palavras da desportista só tornavam o jogo constrangedor e ainda mais difícil de assistir.
Ver alguém fazer uma tempestade dentro de um copo de água e negar aquilo que os nossos olhos viram, revolta: ainda para mais se esse alguém se chamar Serena Jameka Williams.
“Estás a ofender o meu caráter e deves-me um pedido de desculpas. És um mentiroso. Nunca mais vais arbitrar um encontro meu na vida. Pede-me desculpa. Tu roubaste-me um ponto e és um ladrão também“, atirou Serena, claramente magoada não com a advertência, mas com a majestosa raqueta da adversária.
A raiva parece ter despertado Williams, que, ainda mais motivada, quebrou o serviço da adversária para 3-1 – o único break-point que Osaka perdeu dos 22 que enfrentou nas últimas três rondas do Open (seis na final).
No entanto, o combustível de Serena acabou e duas duplas-faltas contribuíram para o break de Naomi Osaka. Irritada, Serena acabou por descarregar na raqueta, violando (pela segunda vez) o código de conduta (“racquet abuse“). Como, ao que parece, não tinha percebido que tinha levado uma advertência anteriormente, desatou a reclamar com o árbitro. O resultado foi a perda do primeiro ponto do sexto jogo.
Serena protestou, protestou e voltou a protestar, mas acabou por ceder o quarto break. Na troca de campo após o 3-4, já o pesadelo se aproximava do fim, a tenista continuou a lançar fortes acusações a Carlos Ramos, chamando-lhe de “mentiroso” e “ladrão“. Essas acusações colocaram a integridade do árbitro em causa, que não teve outra opção senão aplicar-lhe uma nova violação do código de conduta (“verbal abuse”).
Feitas as contas, a terceira advertência resultou num castigo proporcional: um jogo de penalização. Osaka passou assim a liderar por 5-3 e, dois jogos depois, serviu para fechar com glória o encontro.
Naomi Osaka sagrou-se campeã, mas Serena Williams assombrou a sua primeira vitória no Grand Slam. A jovem chorou, mas não de felicidade: Osaka esmagou Serena no 1.º set, num momento em que sagrar-se campeã nunca esteve tão perto de se tornar realidade.
Quando finalmente se tornou real e subiu ao maior court de ténis do mundo para receber a taça, viu o seu esforço ser recompensado com o drama de Serena. E, como se não bastasse, foi assobiada.
A vitória da jovem japonesa foi ofuscada por Serena Williams, que se queixou da “decisão sexista” do árbitro português. “Ainda não tive tempo de digerir tudo isto. Foi uma decisão sexista, eu não fiz batota. Esse árbitro nunca infligiu este tipo de penalidade a um homem que o tenha chamado de ladrão”, acusou.
Serena pegou ao colo num argumento sem nexo, reciclando uma luta antiga no ténis: a igualdade de género. Todavia, o que a tenista ignorou foi o facto de todas as infrações terem sido flagrantes, visíveis e audíveis para as 24 mil pessoas presentes no Estádio Arthur Ashe, em Flushing Meadows, Nova Iorque, e para as milhões que assistiam ao drama através da televisão.
Fonte ligada à modalidade recordou ao Diário de Notícias que Carlos Ramos construiu a fama de “rigoroso”, independentemente de quem tem pela frente – seja mais poderoso, seja homem, seja mulher. “Ele já arbitrou as finais de todos os Grand Slam, da Taça Davis e da Fed Cup. Tem de ser rigoroso, ou não o nomeavam para finais dos mais importantes torneios do mundo”, referiu Vasco Costa.
Com efeito, recorda o Record, Carlos Ramos já mostrou pulso firme em outras ocasiões, em encontros do circuito masculino, e com nomes bem sonantes do ténis mundial, como Rafael Nadal, Andy Murray ou Novak Djokovic.
O furacão Serena – o mesmo que, com a sua varinha de condão e uns pozinhos de dramatismo, transformou as lágrimas de Osaka em lágrimas de desilusão num dos momentos mais importantes da vida da jovem japonesa – viu a sua prestação manchada, a sua atitude comentada em praça pública e a sua carteira encolher.
As advertências sairão caro a Serena Williams: a primeira vai-lhe custar 4.000 dólares, a segunda 3.000 e a terceira, a mais grave, 10.000, num total de quase 15 mil euros. Conclusão: a única a sair ilesa deste incêndio de bolas e redes foi a simpática e vitoriosa raquete de Osaka.
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