O presidente do Sporting revelou esta sexta-feira que o clube leonino gastou, em três anos, 1,7 milhões de euros em assuntos de advocacia, valor pago a uma empresa que tem ligações a um ex-sogro de Bruno de Carvalho, então presidente do clube. Segundo Frederico Varandas, este valor é superior ao que o clube gastou com os mesmos encargos em 16 anos.
Em conferência de imprensa, Frederico Varandas falou a partir do Estádio de Alvalade sobre o estado da nação leonina, a sua presidência, a questão das claques e teve ainda oportunidade para deixar fortes críticas à gestão levada a cabo por Bruno de Carvalho.
Baseado na auditoria que está a ser feita à gestão de BdC, Frederico Varandas começou por referir que Sporting gastou “1,7 milhões de euros em três anos” com assuntos de advocacia, mais do que o clube gastou com empresas de advocacia em 16 anos.
“Sociedade de advogados MGRA, empresa que em 2018 contratou o sogro de Bruno de Carvalho para associado. 1,7 milhões de euros em três anos. O Sporting gastou, com uma só empresa, mais de 50% do que gastou com todas as outras de advocacia em 16 anos. O nosso departamento jurídico não tem visibilidade sobre o trabalho que foi feito por eles”, revelou o presidente do Sporting.
“Segundo a descrição das faturas, o Sporting pagou 1,7 milhões por trabalhos como: assuntos da presidência, agenda reunião Sporting, preparação de reunião, vários contactos com Bruno de Carvalho, ponto de situação, correspondência com o presidente, contactos com o presidente, aconselhamento ao presidente”, cita a RR.
Também o Correio da Manhã nota que este valor foi pago à sociedade de advogados MGRA do sogro de BdC, Rui Ornelas, e do vice-presidente do clube, Alexandre Godinho.
De seguida, e notando que a auditoria não está ainda concluída, o líder mencionou que Sporting também pagou 60 mil euros por “brindes e ofertas promocionais” e outros 20 mil euros “por serviços de divulgação da marca Sporting na comunidade chinesa” a uma empresa chamada Xao Limitada. “O departamento de merchandising não conhece a empresa, que fechou atividade após o pagamento”, revelou Frederico Varandas.
O dirigente do Sporting continuou com o rol de revelações, mencionado ainda um contrato que conferia ao Sporting direito sobre sete jogadores pré-identificados do Batuque FC, de Cabo Verde, sobre os quais “não existe qualquer relatório”.
“Em janeiro de 2018, foi solicitado pela administração da SAD ao departamento jurídico uma minuta de acordo de resolução daquele contrato. Não obstante esse pedido, o valor de 330 mil euros foi liquidado em maio de 2018 e nunca foi restituído”, assinalou Varandas.
Bruno de Carvalho rejeitou as críticas feitas pelo atual líder, garantindo que deixou o clube “numa situação financeira privilegiada“. “Só não conseguimos continuar o trabalho porque um conjunto de pessoas, cuja cara foi a do Frederico Varandas, ao rirem-se do sucedido em maio, foram capazes de derrubar uma direção que estava a seguir o seu projeto, o projeto dos sportinguistas e a provocar mais euforia e alegria nos sportinguistas”, disse Bruno de Carvalho.
“Deixei o Sporting numa situação financeira privilegiada”, disse, reconhecendo, no entanto, problemas de tesouraria que frisou existirem em Alvalade “como em qualquer outro clube”, os quais contava “resolver com um empréstimo obrigacionista que ia ser feito no imediato”.
BdC falou ainda da empresa MGRA: “Garantiram que não iam mentir mais aos sportinguistas mas isto é tudo uma mentira pegada”, afirmou. “Alexandre Godinho saiu da empresa, portanto ‘a empresa de Alexandre Godinho, não’. E depois num processo de seleção, entrou uma pessoa que já não diz nada, que é o meu antigo sogro. Tenho exatamente o mesmo sentimento pelo meu sogro do que por Frederico Varandas”.
“Também é legítimo criticar a exibição das claques”
Quanto às claques Varandas foi claro: “É legítimo as claques criticarem a exibição da equipa, claro que é. Mas também é legítimo eu criticar a exibição das claques. E eu não gostei da atitude das claques nos últimos dois jogos em casa”, vincou.
O presidente do Sporting referiu que “a claque tem direito a mais de 800 bilhetes e podia comprar mais mil”, acrescentando que a dívida passou de 115 mil euros para mais de 700 mil euros, e que “a quase totalidade é referente à Juventude Leonina”.
“Querem um grupo com mais internacionais portugueses? Com mais formação? Trabalhamos todos os dias para isso”, garantiu, frisando que o ataque à Academia de Alcochete como “o dia do maior rombo financeiro e desportivo da história do Sporting”.
“E agora, antes de um jogo importantíssimo em casa, voltamos a receber ameaças intimidatórias. Nos anos 90 fiz parte da Juventude Leonina. Havia excessos? Havia, mas era sobretudo um amor pelo clube, dar sem receber. Hoje não reconheço isso, vejo um negócio. Enquanto aqui estiver, o Sporting nunca mais será refém, nem de claques, nem de ninguém”, afirmou ainda sobre o mesmo tema.
Massa salarial pesada
No futebol, Varandas disse que a nova direção herdou “um plantel desequilibrado e com uma massa salarial muito pesada”, sendo que, em janeiro, foi feita uma “redução de 10 milhões de euros na massa salarial anual”. Além da aposta na formação, que deve ser “a base da equipa principal”, o líder do emblema ‘verde e branco’ deu a conhecer o estado em que encontrou a Academia de Alcochete.
“Os juniores e o futebol feminino profissional treinavam num campo sintético com buracos. A Academia tem os mesmo relvados de há 16 anos. A mobília, os colchões são os mesmos de há 16 anos. É tudo igual desde a inauguração da Academia, em 2002”, disse.
Apesar dos resultados da equipa de futebol, eliminada na quinta-feira da Liga Europa e em quarto lugar no campeonato, Varandas reforçou a confiança no treinador Marcel Keizer: “Não vivo de ‘ses’, vivo de realidade, e acreditamos no trabalho que está a ser feito”.
Varandas disse ainda ter definido o rumo para tornar os ‘leões’ crónicos candidatos aos títulos desportivos e disse não estar a gostar do ambiente que se tem criado à volta da equipa de futebol.
“Não se vence à custa do grito, da ameaça, com populismo. Sem estabilidade ninguém vence. Vejam os anos de estabilidade dos nossos rivais e os anos que demoraram a vencer. O rumo está definido e estamos seguros desse rumo, para tornar o Sporting num crónico candidato a ser campeão”, afirmou Frederico Varandas.
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