Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, acusa o Ministério Público de o ter matado “social e profissionalmente” e anuncia que vai processar o Estado português. “Estou na lista de terroristas dos EUA”, lamenta, queixando-se de não conseguir arranjar emprego.
Numa grande entrevista ao jornal Expresso, Bruno de Carvalho dispara em várias direcções, a começar pelas acusações que lhe foram feitas pelo Ministério Público (MP) no âmbito do ataque à Academia do Sporting em Alcochete.
“Têm a noção de que o meu nome, como acusado de terrorismo, está nas listas de terroristas dos Estados Unidos? Aconteceu-me algo que nunca aconteceu no Mundo, que foi o ataque cerrado político e desportivo comigo no poder. Nem com [José] Sócrates, que teve essa sorte, foi muito tempo depois de ter saído do poder”, aponta o ex-líder leonino no semanário.
Bruno de Carvalho lamenta estar acusado de “98 crimes”, como “autor moral”, que constituem “a soma dos crimes das 41 pessoas que estão presas ou actuaram”, considerando que o processo judicial tem “servido para [o] caluniar e difamar“.
“Foi uma forma de me matar social e profissionalmente. E a verdade é que resultou”, queixa-se o antigo dirigente, anunciando que vai processar o Estado.
“As pessoas não me dão emprego”
O ex-presidente leonino lamenta que está a viver das suas “poupanças” e que “chegou a um ponto que acabou”.
“Acabaram as poupanças, passou um ano. E tenho as pessoas todas a dizerem-me ‘peço imensa desculpa, mas com medo de represálias não lhe dou trabalho’. Eu tenho três filhas para sustentar, tenho-me a mim para sustentar”, queixa-se Bruno de Carvalho na entrevista.
O antigo dirigente diz que foi forçado a “colocar a casa no mercado para poder ter algum rendimento para continuar a sobreviver”.
“As pessoas não me dão emprego, ponto. Dizem isto, vou repetir: ‘Não lhe dou emprego e não é pelo seu valor, porque sabemos perfeitamente que você a nível de trabalho não há igual, mas temos medo de represálias‘”, acrescenta.
“Estive a lutar para que uma filha não morresse”
Sobre os incidentes no Sporting nos últimos tempos da sua liderança, Bruno de Carvalho admite que mudou a sua postura devido à situação de saúde da filha mais nova.
“Estive a lutar para que uma filha não morresse”, justifica o ex-dirigente sobre o seu comportamento, notando ainda que “não há super-homens” e que, dadas as circunstâncias, não conseguia estar preocupado com os jogadores do Sporting.
Bruno de Carvalho acrescenta que, na altura, estava num “estado de nervos tão grande” que seria impossível estar a pensar em “montar esquemas para ir contra jogadores”.
“Acha que há coisa mais importante? Não há mais nada à volta. O objectivo é só um, que a filha sobreviva. Não tem a ver com esgotamento, não tem a ver com burnout, não tem a ver com nada. Tem a ver com um ser humano que na altura em que precisou da equipa e dos adeptos do Sporting todos viraram as costas“, desabafa.
“Não sei se Cândida Vilar tem agenda ou distúrbio”
Sobre o ataque a Alcochete, Bruno de Carvalho levanta também dúvidas quanto à actuação do responsável da segurança da Academia, Ricardo Gonçalves, frisando que este não o informou do desacato no aeroporto, entre adeptos e jogadores, dias antes da invasão a Alcochete.
O antigo presidente acusa Ricardo Gonçalves de ter tido “uma actuação verdadeiramente inapropriada e com falta de profissionalismo” e sustenta que como “pessoa cuja formação profissional é GNR”, “tinha de saber agir”.
O ex-dirigente também nota que Ricardo Gonçalves foi “promovido para responsável geral da segurança do estádio e Academia pela actual direcção”, insinuando que isso se deveu ao facto de ser GNR e de ser esta entidade que está a investigar o que aconteceu em Alcochete.
Na entrevista ao Expresso, Bruno de Carvalho dispara também contra a procuradora Cândida Vilar, lamentando “aquela coisa hedionda que foi o interrogatório ao Fernando Mendes” e falando em “perseguição”.
“Disseram-me que Cândida Vilar é amiga de Godinho Lopes, nada me surpreende. Mas não sei se Cândida Vilar tem uma agenda ou um distúrbio”, diz ainda.
Sobre Frederico Varandas, o actual presidente do Sporting, Bruno de Carvalho diz que se houvesse uma imagem sua a rir-se como o actual dirigente, naquela altura em Alcochete, “já estava preso em Guantánamo”.
Por fim, o ex-líder leonino diz que teme pela legalidade da Assembleia Geral do Sporting do próximo dia 6 de Julho, onde os sócios vão votar o recurso da sua expulsão.
Ele diz que “têm medo” que se possa voltar “a candidatar e ganhar”. “Esse é o verdadeiro motivo que fez com que me assassinassem pessoal e profissionalmente e a verdade factual é que desde o dia em que iniciaram este assassínio não voltei a trabalhar”, conclui Bruno de Carvalho.
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