Numa entrevista ao Der Spiegel, o pirata informático Rui Pinto considerou que o Benfica “é como um polvo, cujos braços atingem toda a elite do país”, estando “intimamente ligado à polícia, às agências policiais e à política”.
Estas declarações de Rui Pinto surgiram quando respondia a uma questão sobre o futebol europeu e a luta contra a impunidade na modalidade, dando o exemplo de Portugal, noticiou na sexta-feira o Sapo, citando aquele jornal alemão.
“Veja o maior clube português, o Benfica. É como um polvo, cujos braços atingem toda a elite do país. O clube está tão intimamente ligado à polícia, às agências policiais e à política. Recebem regularmente bilhetes VIP para os jogos do Benfica. Seria um enorme conflito de interesses se eles tivessem que examinar seriamente o clube”, acusou o hacker.
“As autoridades portuguesas têm medo do que eu sei. É por isso que não posso perder a cabeça em nenhuma circunstância. Há autoridades de outros países que estão dispostas a cooperar comigo e a usar a informação que eu tenho para resolver crimes no mundo do futebol. Não é incrível? Em Portugal, não só os denunciantes são criminalizados como as pessoas que os querem apoiar”, criticou.
Ao Der Spiegel, Rui Pinto (em prisão preventiva), acusou o Ministério Público de não investigar os crimes denunciados: “A Procuradora disse-me que a única coisa que queria de mim como cooperação era que me assumisse culpado. Ela não quer utilizar a informação do Football Leaks, apesar de ter imensas provas de crimes no mundo do futebol”, contou.
“[A prisão preventiva] é completamente infundado e injusto. Pedi permissão ao juiz para aguardar o julgamento em casa. Mas o Ministério Público disse que eu poderia impedir a investigação. Dizendo até que há o risco de eu poder realizar atividades ilegais com o apoio de potências estrangeiras. É totalmente ridículo”, terminou.
Os 147 crimes de que é acusado “parecem um grande número”, mas, para Rui Pinto, “toda a acusação é tendenciosa. Ter acedido à PLMJ [empresa de advogados] devia ser contado como um crime, mas os investigadores contam todos e cada um dos endereços de e-mail e acrescentam 70 crimes”, referiu.
Rui Pinto explicou ainda a razão da criação do ‘Football Leaks’ para expor os negócios obscuros do mundo do futebol.
“No ano passado, o Spiegel e a EIC revelaram como os grandes clubes da Europa planeavam uma Super Liga. Após a publicação, os clubes negaram. Mas repare nas últimas notícias: Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, fundou uma nova associação internacional de clubes, apontando para a implementação da Super Liga. Tem sido a mesma porcaria há anos. Apenas continua”, indicou.
E acrescentou ainda: “Enquanto a equipa favorita vencer, as pessoas não se importam com mais nada – mesmo que saibam sobre irregularidades e crimes. Não posso fazer nada contra isso. O futebol é intocável. E as autoridades protegem a indústria porque é de tão grande interesse público”.
Na mesma entrevista, lamentou: “Arrependo-me do primeiro contacto com a Doyen em 2015. Foi ingénuo e foi um erro evidente. As autoridades interpretam como uma tentativa de extorsão e usam isso para me ter preso. Abordei a empresa para testar o valor da informação, nunca tentei extorquir dinheiro”.
Rui Pinto está formalmente acusado de 147 crimes. Questionado sobre se foi o próprio a aceder ao servidor da firma de advogados PLMJ, disse que essa é uma questão “discutível”, e que é “prematuro falar sobre isso agora”.
Acabou por confessar que “no final, este caso irá acabar no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos porque Portugal não quer saber da proteção aos denunciantes”, concluindo: “Eu não vou denunciar ninguém”.
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