Michael Vang é dos pouquíssimos jogadores de origem Hmong a jogar futebol profissionalmente. Agora nos Estados Unidos, o jovem teve uma passagem apagada por Portugal.
Os Hmong são um grupo étnico asiático originário das regiões montanhosas do sul da China, norte do Vietname e do Laos. Na cultura pop, a etnia ficou conhecida por ser uma peça central do filme “Gran Torino”, de Clint Eastwood. No futebol, os Hmong estão longe de ter uma forte representação e certamente não deverá conhecer nenhum.
Contudo, há um atleta Hmong que passou por Portugal, onde jogou pouco mais de uma época no 1.º de Dezembro, do Campeonato de Portugal, sem nunca se ter destacado. Michael Vang é norte-americano e chegou à capital portuguesa vindo dos Minnesota Thunder, com apenas 19 anos.
A vinda para Portugal foi motivada pela decisão em abandonar o futebol universitário, embora tivesse propostas para jogar e estudar na Pacific University, em Oregon.
“Foi difícil porque eu estava a desistir de uma bolsa de estudos, mas jogar profissionalmente é algo que eu sonho desde que era criança”, lembra Vang. “Eu queria pelo menos tentar fazê-lo”.
Em declarações ao ZAP, o jogador reconhece ainda que foi uma boa experiência jogar em Portugal, que o ajudou a crescer como jogador. “Ensinou-me a ser mais forte mentalmente. Aprendi muito a jogar com jogadores mais técnicos”, disse.
O jovem médio admitiu ainda que teve certas dificuldades em adaptar-se à vida em Portugal e que teve de fazer um esforço extra para se integrar.
“Definitivamente tive que me adaptar ao estilo de jogo em Portugal”, explicou Vang. “Era mais compacto e tinha menos tempo com a bola. Eu tirava algum tempo fora do treino da equipa para praticar. Estar sozinho significava que tinha que ser mais disciplinado. Ou seja, treinar sozinho e mais horas fora dos treinos”.
Vang falou ainda de um preconceito que há em Portugal em relação aos jogadores norte-americanos e confessou ter sido menosprezado desde a sua chegada a Portugal.
“[O treinador] veio ter comigo e disse: ‘Eu não vou mentir, quando soube que havia um rapaz dos Estados Unidos, pensei, sem te ver jogar, que não prestavas’“, relembrou. “Eu já estava a ser menosprezado quando cheguei lá. Isto fortaleceu-me mentalmente para trabalhar mais e provar que as pessoas estavam erradas”.
Eventualmente, com o tempo, foi ganhando a confiança não só do treinador, mas também dos seus colegas de equipa. Vang mostrou que não havia problema em ser norte-americano ou Hmong — ele tinha qualidade e até fez o seu golo de estreia pela equipa sénior durante a pré-época.
“Tenho várias boas memórias de Portugal, dentro e fora de campo. Conhecia pessoas incríveis durante o período em que aí estive. Marcar o meu primeiro golo profissional e divertir-me com os meus amigos foi um máximo”, disse.
Em janeiro, Vang regressou aos Estados Unidos para jogar na USL League One, ao serviço do Forward Madison. Esta não foi uma transferência casual. O jogador Hmong participou nos testes e acabou por ser o escolhido para assinar um contrato profissional com a equipa.
“É algo com que sonho desde que eu era criança. Estou grato ao Forward Madison pela oportunidade”, disse Vang na altura.
Natural do Minnesota, Vang tornou-se curiosamente num dos poucos jogadores oriundos deste Estado a jogar futebol profissionalmente. A juntar a esta proeza, é também um dos pouquíssimos americanos Hmong que o faz.
Muitos refugiados Hmong fugiram para os Estados Unidos durante a Guerra do Vietname, desde o início dos anos 70 e prolongando-se durante os anos 80 e 90. Mesmo depois da guerra, os Hmong continuaram a ser perseguidos pelas autoridades de Laos e do Vietname, realça o These Football Times.
“Eu diria que o amor ao futebol é algo importante na comunidade Hmong. Estou muito feliz que as pessoas estejam a apoiar-me e estou grato que haja crianças Hmong que me olham como alguém que gostariam de ser”, disse Vang.
“É ótimo poder representar o povo Hmong. Muitas pessoas não sabem quem somos. Fico feliz que eles estejam a apoiar-me em tudo isto. Especialmente a minha família”, confessou ao ZAP.
O objetivo é um dia chegar aos grandes palcos nos Estados Unidos, a Major League Soccer. O salto é grande, mas o jogador mostra vontade em continuar a trabalhar para isso.
“Jogar pela seleção norte-americana seria um sonho tornado realidade, mas não estou muito preocupado com isso neste momento. Estou focado em crescer como jogador. As coisas aparecem quando jogas bem e eu estou com o foco nisso mesmo”, atirou.
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