As revelações do Football Leaks deram a conhecer as ilegalidades das comissões recebidas por Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto.
Alexandre é o filho primogénito de Jorge Nuno Pinto da Costa, o histórico presidente do FC Porto. Conhecido como “O Quinhentos”, por habitualmente trocar notas deste valor, mantém uma relação conturbada com o seu pai, mas também com o clube que este governa há décadas.
Em novembro do ano passado, quando o mundo ficou a conhecer as revelações do Football Leaks, veio à baila o nome do filho mais velho do presidente portista. Em causa estava o alegado pagamento de comissões da SAD portista à Energy Soccer, empresa de agenciamento de futebolistas que, há data, tinha participação de Alexandre Pinto da Costa.
Os documentos divulgados publicamente por Rui Pinto mencionavam 430 mil euros recebidos por serviços de intermediação relativos a quatro jogadores. Até aqui tudo bem.
O problema é que em pelo menos dois destes negócios, a Energy Soccer terá faturado o clube de origem e o clube de destino, violando a lei.
O primeiro negócio da empresa surgiu imediatamente três meses depois da sua constituição. Estávamos em setembro de 2012, quando a Energy Soccer ganhou 25 mil euros com a venda do lateral uruguaio Álvaro Pereira ao Inter Milão. Só que o pagamento não foi realizado diretamente pelo FC Porto, mas pela IG Teams & Players.
Por exemplo, na transferência de Carlos Eduardo, do Estoril para o FC Porto, em 2013, a Energy Soccer recebeu 100 mil euros dos ‘dragões’ pelos serviços de intermediação. E, poucos meses mais tarde, recebeu 68.400 euros em comissões por parte do Estoril.
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O caso voltou a repetir-se, nesse mesmo ano, na venda de Rolando. O antigo defesa central dos ‘azuis e brancos’ foi emprestado ao Inter e a empresa da Alexandre Pinto da Costa recebeu 60 mil euros dos portistas e 75 mil euros dos milaneses. Na época anterior, tinha também ganho 100 mil euros com o empréstimo ao Nápoles.
O filho de Pinto da Costa ganhou ainda 500 mil euros com o regresso de Ricardo Quaresma ao Dragão, em 2014, e ainda lucrou com os negócios de Christian Atsu e Frederico Varela.
O empresário foi também associado à transferência de André Pinto do SC Braga para o Sporting CP. No entanto, a Energy Soccer veio negar o envolvimento de Alexandre Pinto da Costa, esclarecendo que o agente já não tinha qualquer tipo de participação na empresa.
O filho do presidente do FC Porto, recorde-se, vendeu a sua posição na Energy Soccer durante o ano de 2016. A empresa de agenciamento passou então a ser detida na totalidade pela Pesarp que, por sua vez, tem José Maia Pinho como administrador único.
Casemiro é um dos casos mais notáveis (e complexos) em que Alexandre volta a ver-se envolvido. Isto porque a Energy Soccer recebeu 700 mil euros pela saída do jogador do FC Porto para o Real Madrid, embora o brasileiro apenas estivesse emprestado pelo emblema da capital espanhola.
O Real suspendeu a opção de compra do jogador pelo FC Porto e pagaram 7,5 milhões de euros. Segundo o Football Leaks, os 700 mil euros recebidos pela Energy Sococer foram pagos pela Vela Management, empresa sediada em Malta e liderada pelo presidente da Doyen, Nélio Lucas.
Alexandre é próximo do empresário Pedro Pinho e de Nélio Lucas. Também em 2014, a Energy Soccer recebeu 280 mil euros para fazer observação de jogadores pelo FC Porto. Este serviço foi inicialmente contratado à já referida Vela Management Limited, que subcontratou a empresa do filho do presidente portista.
Feitas as contas, Alexandre Pinto da Costa já recebeu comissões com jogadores do FC Porto no valor de 1,94 milhões de euros. No entanto, o empresário sempre negou estes valores e alega que apenas recebeu 596 mil euros, entre 2012 e 2016.
Também o presidente dos ‘dragões’ negou quaisquer comissões ilegais pagas ao seu filho. “Se ele recebeu outras comissões, não foram do FC Porto, se recebeu foram de outros lados”, justificou.
“No dia em que o Football Leaks fala em milhões relacionados com Oblak e Ronaldo, a capa era o meu filho, porque recebeu duas comissões do Rolando? Sei que ele recebeu a nossa, as outras não sei“, disse ainda o líder do emblema portista.
Como filho de Pinto da Costa, Alexandre alegadamente teria poder e influência nas compras e vendas do clube. Mais uma vez, o próprio nega esta ideia e diz ter “influência zero” neste tipo de decisões.
“Tenho relações institucionais com o FC Porto como tenho com outros clubes. A minha relação é estritamente profissional, de agente que está legalizado. Tenho os meus clientes, que são os jogadores, e não tenho de divulgar quem é a minha carteira de clientes. (…) Todos os dias tenho atletas a quererem assinar comigo e dou-me ao luxo de não trabalhar com todos”, disse numa entrevista ao Jornal de Notícias.
“A minha influência, ou a minha responsabilidade no FC Porto, é zero. Não a tenho, seja nas contratações ou na constituição do plantel. Existe, por parte de alguns, interesse em encontrar um bode expiatório, um responsável, por um período de menor sucesso desportivo. Tenho sido acusado disto e daquilo. Desde guerras internas. Mas guerras internas como, se não estou dentro do clube?”, acrescentou.
Além disso, disse que todos os jogadores que a sua empresa aconselhou ao FC Porto “deram lucro”.
“O negócio pode ser com qualquer clube. Pagamos os nossos impostos em Portugal. Sou um intermediário, estou coletado e não sou um pirata. Todos os jogadores em que a Energy Soccer participou, ou aconselhou para o FC Porto, deram lucro ao FC Porto”, atirou.
E o que tem a dizer Rui Pinto, o hacker português que o denunciou? No dia 22 de maio de 2019, quando foi interrogado relativamente à divulgação dos documentos do Football Leaks, Rui Pinto levantou suspeitas em relação aos negócios do empresário portuense.
“Já disse que considero o presidente do FC Porto um dos maiores presidentes do futebol europeu. Mas o facto de que encontrei comportamentos muitos estranhos de negócios envolvendo o seu filho, Alexandre Pinto da Costa, e a Doyen deixou-me aqui nervoso. Nem sei explicar… senti-me ferido“, começou por dizer.
“Sempre pensava que no FC Porto estas coisas não aconteciam. E quando vejo algo assim fiquei: ‘Será que isto é mesmo verdade?’ Tenho de descobrir. A melhor maneira que achei foi esta. Sei que não foi a melhor”, atirou.
Relação de “amor-ódio” com Pinto da Costa
Embora Alexandre Pinto da Costa apareça associado a muitos negócios dos portistas, a relação com o seu pai nem sempre foi a melhor. Aliás, os dois estiveram de relações cortadas durante muitos anos por questões pessoais, razões empresariais e… pela transferência de Sérgio Conceição para a Lázio.
Na altura, como retaliação ao negócio de Zlatko Zahovic — que fora feito à revelia —, Pinto da Costa colocou a cargo de Luciano D’Onofrio a transferência e comissão de Conceição, que na altura era jogador dos ‘azuis e brancos’.
Este contra-ataque do presidente portista foi visto por Alexandre como um punhal nas costas e, desde aí, a relação entre os dois azedou. O filho até chegou mesmo a ser proibido de entrar nas instalações do clube.
Enquanto estava de relações cortas cortadas com o pai, Alexandre socializava regularmente com José Veiga e Luís Filipe Vieira. O filho do presidente portista foi ainda visto algumas vezes a assistir a jogos do SL Benfica.
Antero Henrique, antigo administrador da SAD portista, também se demitiu das suas funções no FC Porto após entrar em rota de colisão com Alexandre Pinto da Costa. Antero Henrique viu-se desprovido dos antigos poderes que detinha na pasta das contratações e recusou-se a lidar com a suposta influência de Alexandre na compra e venda de jogadores
Hoje em dia, pai e filho já se falam e até partilham opiniões e negócios.
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