O líder da claque sportinguista Juventude Leonina, Nuno ‘Mustafá’ Mendes saiu em liberdade e Bruno de Carvalho diz que o “colocaram do lado errado da barricada”.
O coletivo de juízes que está a julgar o caso da invasão à Academia do Sporting, em Alcochete, decidiu hoje retirar a medida de prisão preventiva imposta ao presidente da claque Juventude Leonina, Nuno Mendes, conhecido por Mustafá.
Na 35.ª sessão, a juíza Sílvia Pires considerou que “finda a produção de prova os fortes indícios de tráfico de droga já não se mantêm, não implicando prisão preventiva”, decidindo que “o arguido sai em liberdade com obrigação de apresentações semanais às autoridades”.
“Espero que em liberdade seja parte da solução e não parte do problema. Já foi aqui descrito como um pacificador. Espero que faça jus ao nome pelo qual a maioria o trata”, disse a juíza ao arguido detido preventivamente desde maio de 2019.
Na quarta-feira, no final da sessão em que foi ouvido Mustafá, o seu advogado, Rocha Quintal, apresentou, pela terceira vez, um pedido de alteração da medida de coação do arguido, para uma medida não privativa da liberdade.
O processo da invasão à Academia tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes e o líder da Juve Leo responde ainda por tráfico de droga.
“Se for condenado, sou o criminoso mais imbecil do Mundo”
O antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho disse em tribunal que o “colocaram do lado errado da barricada” no julgamento da invasão à academia do clube, onde foi ouvido na condição de arguido.
“Colocaram-me do lado errado da barricada, quando decidiram passar-me de testemunha a arguido 44”, disse Bruno de Carvalho na 35.ª sessão do julgamento da invasão à academia, acrescentando: “Passados quase dois anos do acontecimento, não compreendo como é que estou aqui na qualidade de arguido”.
O antigo presidente leonino, que voltou a classificar a invasão à academia, ocorrida em 15 de maio de 2018, como “um crime hediondo e vergonhoso”, garantiu não ter “qualquer conhecimento ou suspeita” de que algo do género pudesse acontecer.
Bruno de Carvalho, que liderou o clube entre março de 2013 e junho de 2018, admitiu ter assistido aos incidentes que se seguiram à derrota (2-1) do Sporting na Madeira, “pela televisão” e disse ter ficado com a ideia de que existia um problema na Juventude Leonina entre Fernando Mendes e Nuno Mendes, conhecido por Mustafá, antigo e atual presidentes da maior claque do clube, respetivamente, e ambos também arguidos no processo.
Bruno de Carvalho referiu que na reunião que teve com o plantel no dia 14 de maio, depois da derrota no Funchal, perguntou aos futebolistas Acuña e Battaglia “porque é que se tinham metido logo com o antigo líder da claque, no aeroporto da Madeira”.
“Preocupou-me logo na Madeira o facto de o cordão policial ter deixado passar as pessoas. Estamos a passar um atestado de minoridade à PSP da Madeira… Aliás, como eu. Se for condenado, sou o criminoso mais imbecil do Mundo. É lógico que alguém deixou passar estas pessoas. Que houve autorização”, salientou.
O ex-presidente do Sporting, para quem o futebolista William de Carvalho é “useiro e vezeiro a mentir”, disse ainda que o atual jogador do Bétis de Sevilha o acusou de ser o responsável pelo ataque.
“Assim que cheguei à academia [depois do ataque], o William disse-me: ‘Pensa que não sabemos que foi você que mandou fazer isto’”, referiu.
No seu depoimento, Bruno de Carvalho sugeriu que os jogadores do Sporting tiveram responsabilidades pelo ataque, dada a relação de proximidade que estabeleceram com as claques.
O arguido disse ter estado, a pedido de André Geraldes, ‘team manager’ do clube à data, numa reunião “que não teve ponta por onde pegasse”, na ‘casinha’, a sede da Juve Leo, em 07 de abril de 2018, dois dias depois da derrota (2-0) do Sporting no terreno do Atlético de Madrid, para a Liga Europa.
“Estavam dezenas de pessoas, todas aos gritos, muitas a fumar charros, quiseram agredir-me, o primeiro que me quis agredir foi o Camará, que é o mais ‘pequenino’ deles todos. Até disseram que iam pôr tarjas contra mim”, contou, acrescentando ter dito “façam o que quiserem” porque o que queria “era fugir dali”.
Admitindo que ele e Fernando Mendes não gostavam um do outro, Bruno de Carvalho explicou que a relação com ‘Mustafá’ era de respeito.
“Conseguimos ganhar uma relação de respeito, mas a verdade dos factos é que eu acabei por gostar do Nuno Mendes porque ele é tão genuíno, que nos faz rir. Sempre me respeitou e eu o respeitei. Ele era sempre mais uma solução do que um problema”, referiu, descartando a hipótese de o presidente da Juve Leo ser “uma espécie de guarda pretoriana”.
O ex-presidente leonino também se emocionou no tribunal, quando abordou as consequências que o caso acarretou para a sua vida pessoal. “Devido à acusação a minha mulher fugiu oito meses com a minha filha. Tive uma filha a morrer e o Ministério Público fez-me uma miserável acusação. O que os jogadores passaram eu passei mil vezes”, desabafou, deixando cair algumas lágrimas.
Nessa altura, a juíza referiu que lhe ia “tirar a palavra”. “Tire, já me tiraram tudo”, respondeu Bruno de Carvalho.
O ex-líder leonino acabou por receber uma salva de aplausos de algumas das pessoas que assistiam ao julgamento e a juíza teve de ordenar a evacuação da sala.
Bruno de Carvalho foi o 22.º e último arguido a depor, depois de durante a sessão terem sido ouvidos Eduardo Nicodemes, Ricardo Neves e Fernando Mendes.
O julgamento prossegue em 11 de março com as alegações finais, dia em que todos os arguidos são obrigados a comparecer em tribunal.
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